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Histórico

Simone de Mello10 de abril de 2007

A "documenta" de Kassel deste ano resgata as origens do evento. A motivação da primeira mostra, realizada em 1955, era suprir as lacunas no conhecimento do público de arte, sem ser uma apresentação cronológica.

Arnold Bode e presidente Theodor Heuss diante de um quadro de Picasso na 'documenta' 1Foto: dpa

A documenta de Kassel foi realizada pela primeira vez em 1955, a princípio como evento único, com a meta de suprir uma lacuna fundamental na compreensão de arte da Alemanha do pós-guerra: apresentar ao público tudo aquilo que o nazismo havia censurado e perseguido sob o rótulo de "arte degenerada". Isso incluía sobretudo a pintura e a escultura das vanguardas modernas, como o fauvismo, o cubismo, o futurismo e o expressionismo com destaque ao grupo Der Blaue Reiter.

No caso da apreciação da arte atual, um público não especializado também tem lacunas consideráveis – embora hoje não seja a privação de imagens que leve a tal defasagem, mas talvez o excesso de exposição à imagem e a conseqüente dificuldade de se contextualizar a ilimitada produção artística contemporânea. Embora a situação hoje seja bastante diferente do pós-guerra, a concepção da atual documenta se remete às origens do evento.

Prof. Arnold BodeFoto: AP

"A tarefa desta exposição de arte não é reunir uma multiplicidade de obras para expressar tudo aquilo que foi criado na primeira metade do século [20] em diferentes países de uma perspectiva histórica", justificou o designer e professor de arte Arnold Bode sua concepção para a mostra internacional de 1955. "Sua tarefa é, antes de mais nada, informar quais obras, quais inclinações artísticas representam o ponto de partida daquilo que designamos hoje arte contemporânea."

Peso do passado

Em seu texto à primeira revista da documenta 12, o diretor artístico Roger M. Buergel aponta a importância de reconstruir as origens da documenta, "pois olhando mais de perto seu início, perdem-se todas as expectativas e projeções que pesam sobre esta exposição como um saco de pedras".

O que Buergel destaca na concepção de Bode é a apresentação dos precedentes históricos que faltavam ao público alemão. No entanto, o que Bode ressaltara foram as rupturas e a contingência da produção artística moderna, enfocando as obras isoladas e diluindo propositalmente qualquer aparência de continuidade.

"O que se expôs foi o caráter singular de cada obra, cuja fragilidade correspondia tanto à nudez do edifício provisório, mas mesmo tempo espetacular, como à nudez existencial dos visitantes de 1955", escreve Buergel na primeira revista da documenta de 2007.

Arte em fundo provisório

A documenta 1 foi realizada no Fridericianum de Kassel, o primeiro edifício construído especificamente como museu na Europa continental. Bastante afetado pelos bombardeios, o prédio ainda não tinha acabado de ser reconstruído quando se realizou a primeira documenta. As janelas foram vedadas com folhas de plástico; as paredes sem reboco, pintadas de branco, serviram de fundo para as obras expostas.

A mostra de 1955 não foi realizada com a intenção de se tornar um evento cíclico. Talvez pelo fato de ter sido realizada paralelamente à Bundesgartenschau (Buga), uma mostra de paisagismo, a documenta 1 atraiu 130 mil visitantes – um sucesso que certamente inspirou a continuidade do projeto.
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