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Serviço secreto

3 de setembro de 2011

A cooperação dos serviços secretos dos Estados Unidos e do Reino Unido com o regime de Muammar Kadafi era mais intensa do que se pensava. Suspeitos de terrorismo foram enviados à Líbia para para serem torturados.

Paradeiro de Muammar Kadafi continua desconhecidoFoto: dapd

Documentos encontrados no prédio do serviço secreto líbio em Trípoli sugerem uma estreita cooperação entre a CIA e o regime de Muammar Kadafi, especialmente depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, publicou o jornal The New York Times neste sábado (03/09).

Por oito vezes, a CIA teria enviado suspeitos de terrorismo para serem interrogados na Líbia, inclusive com sugestões para o interrogatório. Num dos documentos encontrados constava uma lista com 89 perguntas. O serviço secreto líbio é conhecido pela prática de tortura.

Os contatos entre Washington e o regime Kadafi são mais intensos do que se pensava, desde 2004, quando Kadafi anunciou sua renúncia às armas de destruição em massa, lançando assim as bases para a aproximação com o Ocidente. Alguns dos documentos até mesmo evidenciam que os americanos teriam formulado o texto do discurso de Kadafi sobre a renúncia.

Os papéis foram descobertos pela organização de direitos humanos Human Rights Watch, depois da tomada de Trípoli pelos rebeldes, no final de agosto. Para Peter Bouckaert, que encontrou os documentos, os laços entre Washington e Kadafi são "um período muito negro na história da inteligência norte-americana. E o fato de eles terem cooperado com esses serviços secretos tão abusivos continuará como uma mancha na história da inteligência dos EUA".

Nenhuma surpresa


Em Washington, a porta-voz da CIA, Jennifer Youngblood, recusou-se neste sábado a comentar qualquer alegação específica relatada nos documentos, mas disse que "não pode ser uma surpresa que a Agência Central de Inteligência trabalhe com outros governos para proteger nosso país do terrorismo e de outras ameaças fatais. Isso é exatamente o que se espera de nós".

Um caso emblemático é o de Abdel Hakim Belhaj, comandante da tropa anti-Kadafi que atualmente controla Trípoli. Belhaj é o ex-líder do Grupo de Luta pela Líbia Islâmica, grupo militante, já dissolvido, que mantinha ligações com a Al Qaeda. Belhaj disse ter sido torturado por agentes da CIA numa prisão secreta e depois retornou à Líbia. Dois documentos de março de 2004 parecem ser correspondências entre norte-americanos e oficiais líbios para tratar da rendição de Belhaj.

O material encontrado pela Human Rights Watch também mostra uma estreita cooperação entre o antigo serviço secreto líbio e seus colegas britânicos. Londres teria encaminhado detalhes sobre dissidentes de Kadafi no exílio ao serviço de inteligência na Líbia. Londres e Trípoli teriam inclusive trocado presentes regularmente.

O ex-chefe do serviço secreto líbio Mussa Kussa havia se estabelecido no Reino Unido em março. E, embora fosse acusado de violações de direitos humanos, ele pôde voar para o Qatar no mês seguinte.

Ultimato na Líbia

Os documentos vieram a público no momento em que os insurgentes líbios anunciam o cerco das cidades pró-Kadafi até o dia 10 de setembro, prazo final para a rendição de todos os apoiadores do regime.

"Nós estamos numa posição de força, podemos invadir qualquer cidade e derrotar qualquer um dos nossos oponentes. Mas o nosso desejo é evitar mais derramamento de sangue e destruição de propriedades. Por isso demos um ultimato de uma semana às cidades de Sirte, Bani, Walid, Jufra e Sabha. É uma oportunidade para essas cidades aderirem à revolução pacificamente", declarou o presidente do Conselho Nacional de Transição, Mustafa Abdul Jalil.

FF/afp/ap
Revisão: Augusto Valente

Rebeldes aguardam rendição de cidades pró-KadafiFoto: dapd
Kussa tinha boas relações com serviço secreto britânicoFoto: dapd
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