Dois brasileiros têm mortes confirmadas após ataque do Hamas
Publicado 10 de outubro de 2023Última atualização 10 de outubro de 2023
Ranani Glazer e Bruna Valeanu, ambos de 24 anos, estavam em festival de música eletrônica atacado por militantes do grupo islamista. Uma brasileira continua desaparecida.
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Foram confirmadas nesta terça-feira (10/10) as mortes de dois brasileiros que estavam no festival de música em Israel. O evento foi um dos alvos da ofensiva do Hamas no fim de semana.
A família de Bruna Valeanu confirmou que a brasileira de 24 anos foi encontrada morta, após desaparecer durante o ataque do Hamas ao país. Ela era natural do Rio de Janeiro. A última vez que ela falou com a família foi no sábado, por volta das 9h.
Mais cedo, o governo brasileiro havia confirmado a morte de Ranani Nidejelski Glazer, também de 24 anos, a qual já havia sido relatada por familiares na segunda-feira.
Ele era natural de Porto Alegre, onde estudou no Colégio Israelita, tinha cidadania israelense. Ele também havia servido o exército de Israel e vivia há sete anos no país, onde trabalhava como entregador em Tel Aviv. O pai do jovem também mora em Israel, enquanto a mãe, na capital gaúcha.
Glazer estava com a namorada, Rafaela Treitsman, e um amigo, Rafael Zimerman, também brasileiros, no festival Supernova Sukkot, parte da turnê mundial do Universo Paralello, um festival de música eletrônico criado originalmente no Brasil nos anos 2000.
No sábado, o festival, que reunia milhares de pessoas, foi interrompido pela chegada de dezenas de homens armados, alguns em motocicletas, que penetraram pelas cercas da fronteira de Israel com a Faixa de Gaza, enclave palestino controlado pelo grupo terrorista Hamas. O evento ocorria no deserto de Negev, a menos de 20 quilômetros de Gaza.
Vários vídeos mostraram centenas de pessoas fugindo do festival enquanto eram alvos de tiros. De acordo com o brasileiro Zimerman, ao perceberem o ataque, o trio de brasileiro fugiu e procurou refúgio em um bunker. Eles permaneceram por cerca de três horas, até que o local também passou a ser alvo de ataques. Mais tarde, o trio deixou o abrigo. Zimerman e Rafaela não encontraram mais Ranani.
Dentro do bunker, Ranani chegou a publicar um vídeo em uma rede social no qual disse que "[...] No meio da rave, a gente parou num bunker, começou uma guerra em Israel. [...] Vamos esperar dar uma baixada nisso, mas, cara, foi cena de filme agora, gente correndo quilômetros, para achar um lugar seguro [...]."
Desde domingo, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil contabilizou um brasileiro ferido – Rafael Zimerman – e originalmente três desaparecidos – incluindo Ranani e Bruna. O paradeiro de Karla Stelzer Mendes continua desconhecido. Nesta segunda-feira, o Itamaraty autorizou o resgate de cerca de 900 cidadãos brasileiros até o próximo sábado.
Outros brasileiros participavam do festival. Em publicações no Instagram, o carioca Nathan Obadia, de 30 anos, disse que foi alvo de uma "rajada de tiros" por cerca de 15 a 20 minutos durante o ataque.
Os terroristas também raptaram várias pessoas que foram levadas para Gaza. Um vídeo mostra terroristas desfilando com o corpo de uma mulher no compartimento de carga de um veículo. Não estava claro se ela estava morta ou inconsciente.
Segundo os próprios familiares, a mulher exibida nas imagens é a tatuadora alemã-israelense Shani Louk. A mãe dela, Ricarda Louk, disse à revista alemã Der Spiegel que reconheceu a filha nos vídeos. E confirmou que ela estava no festival.
Vários outros cidadãos alemães-israelenses foram sequestrados, de acordo com informações divulgadas por uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
Vários estrangeiros entre as vítimas
Dezenas de estrangeiros estão entre as vítimas do ataque surpresa executado pelo Hamas no último final de semana – boa parte delas frequentava o festival de música eletrônica.
Até o momento, segundo a agência de notícias AFP, 18 tailandeses tiveram suas mortes confirmadas, nove ficaram feridos e 11 foram sequestrados pelos terroristas. O vice-ministro das Relações Exteriores da Tailândia, Jakkapong Sangmanee, disse que cerca de 5 mil cidadãos do país foram evacuados de áreas de alto risco e "mais de 3 mil estão pedindo para retornar".
Nesta segunda-feira, os Estados Unidos confirmaram a morte de pelo menos 11 cidadãos americanos e disseram ser "provável" que outros estejam entre os reféns mantidos pelo Hamas.
Pelo menos dez nepaleses, duas ucranianas, um russo e sete argentinos foram mortos. Outros 15 argentinos estão desaparecidos.
Quatro franceses também morreram. E uma criança de 12 anos está entre os 14 cidadãos franceses desaparecidos depois dos ataques.
Há relatos de governos de diversos outros países devido a cidadãos desaparecidos ou sequestrados pelo Hamas, a exemplo de Reino Unido, Canadá, Camboja, Chile, Itália, Peru, Paraguai, Áustria, Sri Lanka, México, Colômbia, Panamá e Irlanda.
Conforme informações publicadas pelo jornal britânico The Guardian, parentes de vítimas foram orientados a se dirigirem a uma delegacia de pessoas desaparecidas e indicados a levar itens como escovas de dentes, que podem conter DNA.
gb (AFP, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
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1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
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2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
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2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.