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Dois estranhos na prateleira de cima da Bundesliga

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
28 de dezembro de 2021

Enquanto times grandes – com investimentos, orçamento e elenco que orbitam em torno de dezenas de milhões de euros – se veem novamente relegados a meros coadjuvantes, os "pequenos" Freiburg e Union Berlin fazem a festa.

O japonês Genki Haraguchi, do Union Berlin, em campo com o sul-coreano Jeong Woo-yeong, do FreiburgFoto: John MacDougall/AFP

A última vez que um clube de ambições modestas e elenco limitado se intrometeu na prateleira de cima da Bundesliga foi na temporada 2012/2013, quando o Freiburg terminou em quinto lugar na tabela e conseguiu se classificar para a Liga Europa. Para espanto geral, deixou para trás comendo poeira "grandes" clubes, como Hamburgo, Borussia M'Gladbach e Werder Bremen, que não obtiveram um lugar ao sol no cenário europeu.

Agora a história está se repetindo com o que dois "pequenos" mostraram na primeira metade do campeonato. De novo, o Freiburg surpreende ao terminar o primeiro turno em terceiro lugar a apenas cinco pontos do vice-líder, Borussia Dortmund, e ocupando uma vaga para a Champions League. 

Não bastasse isso, tem mais um intruso. O Union Berlin, que até outro dia tinha acumulado 21 jogos na sua casa sem nenhuma derrota, vem logo atrás a apenas um ponto de se classificar para a Europa League.

Novamente times grandes, com investimentos, orçamentos e elencos cujos valores orbitam em torno de dezenas de milhões de euros, se veem relegados a meros papéis coadjuvantes no campeonato alemão. Atualmente é o caso de Leipzig, Wolfsburg e Borussia M'Gladbach. Os dois últimos citados terminaram o primeiro turno perigosamente próximos da zona de rebaixamento.

Enquanto isso e ao menos por enquanto, Freiburg e Union Berlin fazem a festa. O que esses dois pequenos clubes têm em comum?

Além de trabalhar com seriedade, Freiburg e Union se destacam por três qualidades essenciais: continuidade, serenidade e humildade.

Técnicos há tempo em seus cargos

Os técnicos Christian Streich (Freiburg) e Urs Fischer (Union) são os dois únicos treinadores de clubes da Bundesliga com mais de três anos no cargo. Streich completa incríveis dez anos na direção técnica do time em 29 de dezembro.

As duas equipes extravasam extrema autoconfiança especialmente quando atuam em casa e mesmo quando uma partida já parece estar perdida. Foi o que aconteceu na última rodada com o Freiburg. De virada e com o gol da vitória faltando cinco minutos para o encerramento, os suábios venceram o grande Leverkusen por 2x1.

O Union é outro que não desiste nunca. No seu confronto com o Arminia Bielefeld no icônico estádio An der Alten Försterei (Antiga Casa da Guarda Florestal), tudo se encaminhava para um empate de 0x0. O Union, porém, não desistiu e martelou até o fim. Foi recompensado. Faltando apenas dois minutos para o fim do jogo, marcou o gol da vitória.

Vale lembrar que a única equipe que conseguiu impor uma derrota ao clube berlinense na sua própria casa foi o Bayern de Munique. De resto, foram cinco vitórias e três empates na atual temporada.

E tem ainda o quesito serenidade que une esses dois clubes. Uma derrota ou até uma série de resultados negativos não significa o fim do mundo. A história recente do Freiburg não me deixa mentir. O clube foi rebaixado em 2015, manteve o técnico e seus auxiliares e acabou voltando à elite em 2016 quando, por sinal, terminou em 7º lugar.

"Dose de humildade"

Outro denominador comum dos dois clubes é que seus adversários os consideram "pequenos". Consequentemente os "grandes" acabam quase sempre tomando a iniciativa e tentam impor o seu jogo. Freiburg e Union desenvolveram sua estratégia de jogo fundamentada nessa premissa tática. Ocupam espaços no seu setor defensivo com duas linhas compactadas e partem em velocidade para o contra-ataque assim que o adversário abrir uma brecha na sua retaguarda. Se houvesse uma tabela por posse de bola durante um jogo, tanto Freiburg como Union provavelmente estariam ocupando os últimos lugares.

Christian Streich, técnico do Freiburg, mostrou nos últimos anos que mesmo um clube pequeno, sem contar com vultosos patrocínios nem astros fulgurantes no elenco, pode fazer um papel digno na Bundesliga, mas advertiu logo depois da inauguração do novo e moderno estádio em novembro: "Espero que este nosso espírito de lutarmos com todas nossa forças contra os grandes permaneça conosco. Não somos grandes, não vamos nos deixar ofuscar por nossa posição na tabela. Se mantivermos uma boa dose de humildade, ainda teremos bons anos pela frente."

Seriedade, continuidade, serenidade e humildade. Essa é a receita que para Freiburg e Union Berlin está dando certo. Pelo menos por enquanto.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.