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Dois homens, dois mundos: Trump e o papa

23 de maio de 2017

Quando o presidente americano visita o pontífice, duas visões de mundo se chocam. Do improvável diálogo entre o poder do capital e a crença na misericórdia, talvez só reste uma foto de Trump com Francisco.

Choque de opostos: papa Francisco e presidente americano, Donald Trump
Choque de opostos: papa Francisco e presidente americano, Donald TrumpFoto: Reuters/M.Rossi/L. Hickenbottom

Também Donald Trump é bem-vindo à sede da Igreja Católica. Entre o Muro das Lamentações de Jerusalém e a cúpula da Otan em Bruxelas, nesta quarta-feira (24/05) o presidente dos Estados Unidos faz uma parada no Vaticano para visitar o papa Francisco. E traz junto logo duas mulheres até a Santa Sé: a filha Ivanka e a esposa Melania.

Quase quatro anos atrás, Trump já tentara se aproximar do pontífice argentino, do seu jeito. "O novo papa é um homem modesto, parecido comigo. Isso explica por que eu gosto tanto dele", tuitava o bilionário em 25 de dezembro de 2013.

A tentativa natalina de aproximação fracassou redondamente. Pois em termos de modéstia, os dois homens não poderiam se mais opostos: enquanto o papa venera São Francisco de Assis, fundador da humilde que leva seu nome, Trump faz manchetes com seu luxo e estilo de vida dispendioso.

Caracteres inconciliáveis

No tema "refugiados", contradições intransponíveis separam os dois líderes. Enquanto Francisco concedeu asilo no Vaticano a 12 migrantes muçulmanos, após visita à Ilha de Lesbos em abril de 2016, pouco depois de sua posse Trump quis decretar a proibição do ingresso nos EUA para os cidadãos de sete países "de caráter islâmico".

Reforço feminino: Trump visita o Vaticano ladeado da esposa, Melania (esq,) e da filha IvankaFoto: picture-alliance/dpa/P. Foley

A confrontação mais dura entre ambos foi em fevereiro de 2016. Retornando de um giro pelo México, Francisco foi questionado por jornalistas se o candidato republicano era elegível para os católicos americanos. A resposta foi inequívoca: "Uma pessoa que pensa em construir um muro, ao invés de pontes, onde quer que seja, não é cristã."

O casca-grossa político Trump se sentiu na obrigação de reagir à maciça crítica papal no Twitter: "Se o Vaticano fosse atacado pelo 'Estado Islâmico' (EI), o papa Francisco seria o primeiro a rezar para que Donald Trump fosse o presidente dos Estados Unidos." Além do mais, acrescentou, não dava "a mínima" para que o pontífice dissesse.

Forasteiros dentro do sistema

Mesmo que não possam ser maiores os contrastes entre o protestante de fundo calvinista de Nova York e o padre dos pobres de Buenos Aires, observando-se de perto notam-se alguns surpreendentes pontos em comum entre ambos.

Tanto o líder da Igreja Católica Apostólica Romana quanto o comandante-chefe da maior potência militar do mundo se impuseram como forasteiros contra as hierarquias de suas instituições e lutam com críticos das próprias alas. Também a tendência para atitudes espontâneas não é estranha ao chefe do Vaticano.

Por exemplo, em janeiro de 2015 o papa demitiu o então comandante da Guarda Suíça, Daniel Rudolf Anrig, por considerar a orientação da tropa excessivamente militar. E o padre homossexual Krysztof Charamsa, membro da comissão teológica da Congregação de Fé do Vaticano teve que renunciar após seu coming out, em outubro de 2015.

Confraternização improvável em grafitti num muro de RomaFoto: Reuters/T. Gentile

"As portas não estão totalmente fechadas"

Diante das numerosas diferenças e parcos pontos em comum, o encontro entre os dois senhores, atrás dos muros da Santa Sé, não deverá passar de um embate de opiniões.

"Sempre há portas que não estão totalmente fechadas", cita a Rádio Vaticano o papa. É preciso sempre falar sobre os aspectos comuns e "avançar passo a passo". Francisco "nunca forma um julgamento sobre uma pessoa sem escutá-la", prossegue a citação.

Isso não soa exatamente como entusiasmo. A impressão é que Francisco simplesmente aguentará a reunião. Pois não foi ele que convidou o presidente dos EUA, e sim Trump que pediu uma audiência. Para o Vaticano, seja como for, não há nessa visita praticamente nenhum ponto de conexão político-estratégico, para além da rotina diplomática.

É difícil classificar a missão de Trump. Talvez só queira uma foto de impacto midiático com o papa? Ele não se encaixa no papel do filho pródigo que, contrito, rompe com seu antigo estilo de vida. Com cinco filhos de três casamentos, tampouco serve como modelo conservador para ideais de família ou preceitos morais católicos.

Publicidade para Trump?

Igualmente parcas são as chances de Trump emplacar como pacificador, após o acordo armamentista com a Arábia Saudita. Fica a esperança de um indefinido diálogo religioso e político com o Oriente Médio, que o judeu Jared Kushner, seu genro e assessor, pretende iniciar.

"Os consultores de Trump contam divulgar uma mensagem de 'unidade, paz, tolerância e esperança', tendo em vista a cooperação entre as três grandes comunidades religiosas, islã, judaísmo e Igreja católica, naturalmente sob a direção do presidente americano", escreve Julius Müller-Meiningen, correspondente em Roma do suplemento religioso do jornal alemão Die Zeit.

"Isso soa tão papal e contradiz tanto a postura anti-islâmica até agora adotada pela administração Trump, que é quase impossível afastar a suspeita de que se trate de uma manobra publicitária."

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