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Sete de dez brasileiros creem em fake news sobre vacinas

11 de novembro de 2019

Estudo aponta que as fake news propagadas nas redes sociais estão afetando a saúde pública no país. Segundo a pesquisa, quase metade das informações incorretas tem origem em sites dos Estados Unidos.

Brasilien Gelbfieber | Impfung in Mairipora
Foto: Reuters/P. Whitaker

O Brasil sofre com uma epidemia de informações falsas. De acordo com uma pesquisa realizada pela ONG Avaaz, em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), 67% dos brasileiros acreditam em ao menos uma fake news sobre vacinação, sendo que as mentiras chegam principalmente via redes sociais.

Ao menos 48% das 2 mil pessoas entrevistadas pelo Ibope para o estudo – maiores de 16 anos, em todos os Estados – disseram que redes ou canais como Facebook, YouTube, Instagram e WhatsApp são suas principais fontes de informação em relação às vacinas. Essa fontes se revelaram mais recorrentes que o Ministério da Saúde ou médicos. 

O impacto disso na saúde pública do país é claro: 57% dos que deixaram de se imunizar recentemente citaram como causa uma informação que os médicos apontam como sendo incorreta.

De acordo com Nana Queiroz, coordenadora de campanhas da Avaaz, a discussão sobre o tema é normalmente contaminada pelo extremismo político. Nesse sentido, ela ressalta que o problema não deveria ser encarado como sendo de esquerda ou direita. O ideal, neste caso, seria unir a sociedade brasileira por se tratar de uma questão de saúde pública.

"As grandes plataformas precisam mostrar correções às pessoas expostas a essas desinformações. E se não o fizerem por iniciativa própria, o governo precisa garantir que o façam. É uma questão de saúde pública”, afirma.

Embora a maioria dos entrevistados (87%) tenha respondido nunca ter deixado de se vacinar ou de imunizar crianças sob seus cuidados, o índice é preocupante devido ao restante da estatística: os 13% que disseram o contrário representam um contingente superior a 21 milhões de pessoas, contando toda a população acima de 16 anos.

As respostas mais comuns entre esses 13%, segundo a pesquisa, foram "não achei a vacina necessária (31%)"; "medo de ter efeitos colaterais graves após tomar uma vacina (24%)"; "medo de contrair a doença que estava tentando prevenir com a vacina (18%)"; "por causa das notícias, histórias ou alertas que li online (9%)" e "por causa dos alertas, notícias e histórias de líderes religiosos" (4%).

Para o presidente da SBIm, Juarez Cunha, os números explicitam falta de conhecimento prévio para julgar adequadamente o que é correto e o que é incorreto.

"Nós, profissionais da saúde, sociedades de especialidades e autoridades, precisamos ter a mesma disponibilidade para ensinar e esclarecer o que é demonstrado por quem dissemina inverdades. Se não nos empenharmos, é possível vislumbrar um cenário perigoso. O retorno do sarampo já demonstrou isso", diz Cunha.

Problema importado dos Estados Unidos

A pesquisa também concluiu que o discurso antivacinação, bastante presente na sociedade brasileira, é uma característica basicamente importada dos Estados Unidos. Após o Ibope apontar indícios de que notícias falsas sobre vacinas influenciam os brasileiros, a Avaaz conduziu uma investigação para apurar quais são e de onde vêm essas notícias.

Ao analisar mais de 1.600 links, a ONG indica que quase metade das fake news é proveniente de sites publicados originalmente em inglês, nos Estados Unidos. O site Natural News, por exemplo, é a fonte original de 32% da amostra e representa quase 70% do conteúdo não brasileiro.

"Além disso, há evidências de que o Natural News esteja servindo de inspiração para sites e influenciadores brasileiros que passaram a vender produtos naturais e 'curas milagrosas' ao lado de artigos antivacinação e que inspiram desconfiança na ciência tradi-cional", revela Nana Queiroz.

GB/ots
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