Dois Van Goghs localizados em Nápoles 14 anos após roubo
30 de setembro de 2016
Em batida contra a máfia, polícia napolitana acha paisagens a óleo desaparecidas desde 2002, quando foram roubadas do Museu Van Gogh de Amsterdã. Obras têm alto valor artístico e são avaliadas em 100 milhões de euros.
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Duas obras do pintor holandês Vincent van Gogh (1853-1890), roubadas em Amsterdã 14 anos atrás, foram localizadas em Nápoles, anunciou nesta sexta-feira (30/09) a polícia da cidade no sul da Itália. Os investigadores encontraram os quadros durante uma batida contra a máfia local, a Camorra. Cada tela é estimada em cerca de 50 milhões de euros.
Segundo a avaliação do Museu Van Gogh, tanto Paisagem marinha em Scheveningen (1882) quanto Congregação sai da Igreja Reformista de Nuenen (1884-85) estão em bom estado, apesar de terem sido retiradas das molduras originais.
Dentro de um cofre e envolvidas num pano, elas se encontravam numa casa de campo ao sul de Nápoles. Segundo a polícia, trata-se de uma propriedade pertencente ao criminoso Raffaele Imperiale.
Em janeiro último, o empresário de 41 anos foi acusado de manter uma rede de tráfico de cocaína juntamente com altos membros da Camorra. Desde então, Imperiale está foragido e suspeita-se que more e dirija uma construtora em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. As prisões de 11 outros membros da rede napolitana de narcotráfico colocaram os investigadores na pista das pinturas.
Alto valor histórico
O ousado assalto ao Museu Van Gogh, em 2002, é classificado pelo FBI como um dos dez principais crimes do mundo envolvendo obras de arte. Três anos mais tarde, dois homens foram presos e condenados à prisão, com base em exames de DNA. No entanto, nem mesmo a recompensa de 100 mil euros oferecida pelo museu levou à localização das obras.
"Os quadros foram encontrados!", declarou o diretor do Museu Van Gogh, Axel Rüger, nesta sexta-feira. "Eu nem ousava mais esperar que um dia fosse poder pronunciar essas palavras. Ainda não está certo quando eles retornarão a Amsterdã. Mas acredito plenamente que, mais uma vez, podemos contar com o apoio incondicional das autoridades italianas."
Além de seu valor venal, as telas têm grande importância histórico-artística. Ambas datam do período anterior à decisiva ida do artista para Paris. Paisagem marinha foi pintada diretamente na costa holandesa, como provam os grãos de areia incrustados na espessa camada de tinta a óleo. Congregação, presenteada à mãe do pintor, retrata a igreja em que o pai de Vincent van Gogh era pastor.
AV/ap/afp/rtr/dpa
Quem foi Vincent van Gogh?
Os últimos meses de vida do gênio pintor Vincent van Gogh, morto em 29 de julho de 1890, foram marcados pela instabilidade emocional.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Augúrios sombrios
Vincent Willelm van Gogh veio ao mundo em 30 de março de 1853, recebendo o mesmo nome do irmão que nascera morto exatamente um ano antes. Ao todo, eram cinco crianças na casa do pastor protestante Theodorus. Vincent descreveu a juventude na casa da família em Groot-Zundert como "escura e fria". Ao longo de sua breve vida, ele manteve correspondência regular com o irmão Theo, quatro anos mais novo.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Ovelha negra da família
Aos olhos de sua família, Vincent era um fracassado. Toda profissão que assumiu, seja marchand, oficial de Marinha ou pregador laico, ele abandonou depois de pouco tempo. Em 1879, ele assumiu um cargo temporário de missionário na região carvoeira de Borinage, Bélgica. Alugou uma cabana junto à família de um padeiro na cidade de Cuesmes, onde viveu na mais absoluta pobreza.
Foto: Getty Images/Eric Lalmand
Lápis como arma
A miséria dos mineiros impressionou Vincent van Gogh. Mais ainda: ele se identificou ao extremo com os habitantes da Borinage, pintou o rosto de preto para ser um deles. Por fim, tomou o lápis e passou a documentar a vida das pessoas em torno de si, em desenhos canhestros.
Foto: Vincent van Gogh
No fundo do poço
Da mina Marcasse, na Borinage, hoje só restam ruínas, um vagão recorda tempos sombrios. É nele que Van Gogh entrou, para vivenciar de perto as condições de trabalho dos mineiros, a 700 metros de profundidade. Em carta ao irmão Theo, ele descreveu seu choque com a opressiva falta de espaço e escuridão.
Foto: DW/Sabine Oelze
Escuridão inicial
Após vários desvios, chegou à cidade holandesa de Nuenen, para onde seu pai foi designado como pastor. Vincent buscou abrigo junto aos pais, que só a contragosto o acolheram. Lá, permaneceu de 1883 a 1885. No período, ele retratou os lavradores e os campos da província de Brabante do Norte, ainda em cores escuras. Ele pintou de forma direta, sem embelezar, até mesmo um simples cesto de batatas.
Foto: Vincent van Gogh Stichting
Motivos singelos
Em Nuenen, hoje um subúrbio da metrópole Eindhoven, Van Gogh desfrutou uma vida simples. Ele descobriu as tecelarias caseiras como tema pictórico, assim como as edificações pequenas e singelas típicas da cidade. O pintor ainda principiante trabalhou todo um inverno nos esboços de "Os comedores de batatas", até ficar satisfeito.
Foto: gemeinfrei
Natureza e trabalho
Nasceram obras cheias de melancolia, algumas ainda anatomicamente imperfeitas. Mas ele pintou pelo menos um quadro por dia. Em Nuenen, ele teve até mesmo um ateliê próprio – um enorme luxo. A residência do pastor (foto) dava vista sobre a despojada cabana de jardim em que Van Gogh trabalhava.
Foto: DW/Sabine Oelze
Atração pela França
Ninguém podia prever que esse antiacadêmico holandês estaria, um dia, entre os artistas mais importantes do mundo. Depois da morte do pai, ele deixou Nuenen. Com "Os comedores de batatas" na bagagem, partiu para a Antuérpia e, pouco mais tarde, para Paris. Com o apoio financeiro do irmão Theo, que vivia ali como comerciante de arte, se instalou na metrópole à margem do Sena.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Experimentos de cor
Em 20 de fevereiro de 1888, Vincent van Gogh deixou a capital, partindo para o sul da França, à procura da luz, como disse. Em constante intercâmbio com seus colegas pintores, os matizes explodiram em suas telas – vermelho, amarelo, verde, azul, violeta. Ele trabalhou com os contrastes das cores complementares e com linhas e superfícies fortemente expressivas.
Foto: Kröller-Müller Museum/Otterlo
Van Gogh vive
Em 2015, por ocasião dos 125 anos da morte do pintor, 30 instituições trabalharam em conjunto para rememorar o heterodoxo gênio, incluindo as cidades francesas de Saint-Rémy, Arles e Auvers-sur-Oise – onde em 27 de julho de 1890, aos 37 anos de idade, ele se deu um tiro de revólver no peito, causando sua morte dois dias depois.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions