Maior favela do Brasil
14 de novembro de 2011A invasão da Rocinha pelas forças de segurança neste domingo (13/11), no Rio Janeiro, também foi destaque na imprensa alemã. Segundo reportou a edição a versão online da revista Der Spiegel, a missão na "maior favela do Brasil" tinha a missão de "acabar com o poder ilimitado dos traficantes de drogas, que durava mais de 30 anos".
A publicação alemã citou a ausência de disparos na operação e comparou os números com ações policiais passadas – como as 40 mortes ocorridas durantes a invasão do morro do Alemão, há um ano. Ainda na reportagem, a prisão dos traficantes Nem e Coelho foi dada como estopim da invasão militar.
"O governo quer ganhar o controle das mais de 100 favelas com grandes potenciais de conflito antes da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. O objetivo é instalar a Unidade de Polícia Pacificadora no local", era a informação que encerrava a matéria.
Na sessão de Economia
A tomada da Rocinha saiu na página de Economia do Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ): "A antiga sede de cartéis de drogas agora está nas mãos da polícia". O jornal alemão citou a participação de helicópteros e tanques, assim como o número de armas e granadas apreendidas pelas forças armadas.
"O único sinal de resistência no domingo foi o derramamento de óleo em várias ruas da favela", escreveu o FAZ. A cobertura massiva das televisões locais também é mencionada pela imprensa alemã: as imagens filmadas por equipes "mostraram uma grande bandeira branca de paz sendo hasteada pelos moradores da favela".
O Süddeutsche Zeitung localizou o leitor alemão, a quinta nacionalidade que mais visita o Brasil: a favela invadida fica apenas a poucos quilômetros de pontos nobres e turísticos como Leblon e Ipanema. O jornal reproduziu a fala do coronel Alberto Pinheiro Neto, chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio: "A missão de recaptura da Rocinha, do Vidigal e Chácara do Céu foi cumprida sem que nenhum único tiro fosse disparado".
As publicações alemãs não entraram em acordo em relação ao número de moradores da Rocinha – alguns citavam 70 mil, outros 80 mil e 120 mil – e também quanto à força policial e militar empregada na operação: foram citados 2 mil e 3 mil homens em diferentes matérias.
Pela Europa
"Num contínuo esforço de limpeza na sede olímpica de 2016", segundo classificou o inglês The Guardian, a operação na Rocinha foi narrada pelo correspondente do jornal no Rio de Janeiro como uma cena de guerra.
O jornalista acompanhou a polícia federal durante a revista da casa do traficante conhecido como Peixe, e descreveu o ambiente onde o criminoso morava: um exemplar do livro A Arte da Guerra, de Sun Tzu, um minibar repleto de bebidas e um aquário gigante cheio de peixes exóticos, iluminado com luzes azuis.
Em reportagem detalhada que incluiu uma explicação sobre o desenvolvimento da favela, que passou de uma plantação de café ao reino da cocaína, segundo o The Guardian, a publicação afirma que "a favela tem um economia interna vibrante e é popular entre os turistas".
O espanhol El Pais relatou os acontecimentos no Rio de Janeiro "como uma ocupação que contou com uma encenação própria de um Estado de guerra, embora não tenha sido necessário um tiro sequer".
O correspondente do jornal também acompanhou pessoalmente a operação e, em alguns momentos, chegou a usar o jargão típico da comunidade, como "X9: um criminoso arrependido que colabora com a polícia".
Ao contrário dos demais, o El País escreveu que o fim do narcotráfico foi recebido com ceticismo pelos vizinhos da favela "Quase ninguém espera grandes mudanças, e muitos comentam que nem viviam tão mal sob o comando do traficante Nem".
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer