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Douyin, irmão do TikTok, fica sujeito à censura de Pequim

18 de janeiro de 2024

Autoridades chinesas criaram um sistema de pontuação para a plataforma de streaming, penalizando quem transmitir conteúdo que viole um rigoroso código moral, inclusive "padrões anormais de beleza".

menina com orelha de gato e cabelo roxo se prepara pra uma live na China
A transmissão ao vivo é popular na China, mas os usuários enfrentam controles rígidos sobre o conteúdoFoto: Costfoto/picture alliance

Visando aumentar o controle sobre o uso da Internet, Pequim deu início no aplicativo Douyin, o irmão do TikTok para a China, a um rigoroso sistema de avaliação através de pontos para os streamers, criadores de conteúdo digital que fazem gravações ou transmissões ao vivo de qualquer tipo de conteúdo e publicam na internet. 

O sistema de pontuação, oficialmente chamado de "pontuação saudável" , entrou em vigor em janeiro de 2024, depois de quase meio ano de testes. No primeiro dia de implantação do sistema, cerca de 5 mil criadores de conteúdo digital enfrentaram punições e restrições de acesso a determinadas funções do aplicativo.

O sistema foi criado para "estabelecer fronteiras e medidas de segurança" para o setor de transmissão ao vivo em rápido crescimento, informou a agência de notícias estatal chinesa Xinhua.

Em 2021, Douyin já havia lançado um "modo adolescente", que limita a 40 minutos por dia o tempo que os usuários com menos de 14 anos passam no aplicativo.

Como funciona o sistema de pontuação?

De acordo com as novas regras, todos os streamers começam com 100 pontos. Os criadores de conteúdo considerados de destaque ou profissionais recebem 120 pontos.

Os pontos serão deduzidos dos criadores que cometerem "ofensas graves", como a conteúdos ou comportamento que os censores considerem vulgares ou que promovam "visões não saudáveis sobre relacionamentos". Insinuações sexuais, pseudociência, promoção de "padrões anormais de beleza" ou "violação da ordem pública e da moral" serão consideradas infrações moderadas.

Dos criadores de conteúdo que violarem essas regras, serão deduzidos pontos, segundo a gravidade da suposta ofensa. As infrações consideradas graves perdem de quatro a oito pontos.

As sanções serão impostas quando os streamers ficarem abaixo de 70 pontos. As punições podem variar de restrições de uso a proibição completa de streaming, quando a pontuação cair para zero.

Agenda política da China para o conteúdo online

Muitos usuários chineses elogiaram o sistema de pontos, na plataforma Weibo da China, dizendo que o sistema pode ajudar a regular o comportamento dos produtores de conteúdo ao vivo e colocar limites.

Falando à DW sob  pseudônimo, a ex-gestora de mídias sociais KK expressou preocupação por o sistema ser "provavelmente injusto": "Você pode achar que eu uso pouca roupa e que a minha live é sensual. Por isso, acho que o julgamento não deve ser feito por um indivíduo ou sistema de IA com base em algumas capturas de tela."

Tai Yu-hui, professora de comunicação e tecnologia da Universidade Nacional Yang-Ming Chiao-Tung, de Taiwan, também alerta sobre as diretrizes para "visões não saudáveis de relacionamentos" e "padrões de beleza anormais": essas narrativas podem ter como alvo as minorias LGBTQ+, pois "alguns streamers masculinos parecem femininos".

Em 2021, a China baniu os "homens efeminados" da televisão, pois a liderança do país busca promover imagens dos homens que considera "masculinas".

Cinco anos antes, Pequim já implementara uma lei de segurança cibernética que sinalizava controles mais rígidos sobre a Internet, seguida por uma série de severas repressões ao setor da tecnologia.

Nos últimos anos, a repressão da China se voltou gradualmente para plataformas de vídeos curtos, como o Douyin, aparentemente para impedir que os jovens passem muito tempo online.

A professora Tai acredita que o sistema de pontuação faz parte de um plano maior do líder chinês Xi Jinping para exercer o controle do Partido Comunista sobre o espaço digital: "Toda a política e os valores fundamentais de Xi Jinping visam que o partido comunista entre novamente na vida cotidiana da população, influenciando sua ideologia e seus pensamentos."

As restrições ao Douyin, a principal plataforma de transmissão ao vivo da China, podem expandir e fortalecer ainda mais a censura de Pequim sobre o conteúdo online. Atualmente o aplicativo tem cerca de 800 milhões de assinantes, e uma contagem demais de 600 milhões de usuários ativos por mês. Assim como o TikTok, é operado pela empresa ByteDance.

Em 2022, um importante canal de compras ao vivo foi desativado das mídias sociais por quase quatro meses; devido a uma breve aparição de "um bolo em forma de tanque" durante uma transmissão ao vivo. Internautas suspeitam que o "tanque" foi interpretado pelo governo como um símbolo da repressão aos estudantes no Massacre da Praça da Paz Celestial de 1989.

Segundo Tai, embora os governos tenham de fato a responsabilidade de tomar medidas para regulamentar o conteúdo das mídias sociais, Xi está usando isso como desculpa para justificar uma agenda política de censura social.

A ex-gestora KK conta que ajudou vários influenciadores chineses a terem ideias para seus canais. Mas, mesmo antes do sistema de pontuação, nenhum deles jamais pensaria em falar sobre política.

"É arriscado, e há muitas coisas para se ter em mente, especialmente neste país. As pessoas realmente não querem tentar. Se você for politicamente incorreto, é bem possível que seja banido."

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