Capital da Saxônia é apreensiva anfitriã da cerimônia pela reunificação da Alemanha, centenas de milhares são esperados. Mas atos xenófobos mancham sua imagem, e o medo de atentados norteia as medidas das autoridades.
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Apesar do devastador bombardeio no fim da Segunda Guerra Mundial, a cidade de Dresden, no Leste da Alemanha, tem muita beleza arquitetônica a oferecer. Dois de seus mais imponentes edifícios estão em foco nesta segunda-feira (03/10), quando o país comemora o 26º aniversário de sua reunificação pacífica.
Na igreja Frauenkirche – símbolo da cidade, reconstruído com grande engajamento por parte dos cidadãos – é celebrado um culto ecumênico. Na Semperoper, uma das mais famosas casas de ópera do mundo, transcorre a cerimônia festiva central. Os convidados de mais alto escalão serão o presidente Joachim Gauck, a chanceler federal Angela Merkel e o presidente do parlamento federal, Norbert Lammert.
Seguindo a tradição, todos os 16 estados federados se apresentam no Dia da Unidade Alemã. Para os visitantes, não faltam ofertas culturais e culinárias, graças a um generoso programa paralelo e à robusta cozinha saxã.
Medo de atentados
No entanto, uma pergunta paira temerosa no ar: será que alguém vai cuspir na sopa e estragar a festa? O prefeito da capital do estado da Saxônia, Dirk Hilbert, convoca habitantes e visitantes a celebrarem com alegria, caso contrário os "instigadores e amedrontadores" ganharão mais impulso e apoio, receia o político liberal democrático.
Esse desejo soa quase ingênuo, diante da má imagem que as passeatas xenófobas conferem a Dresden: há quase dois anos, todas as segundas-feiras, os assim chamados "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente" (Pegida, na sigla em alemão) chegam a mobilizar até alguns milhares de manifestantes. E também no Dia da Unidade eles pretendem protestar.
Os ataques com explosivos da segunda-feira anterior, contra uma mesquita e um centro de congressos, mostram quão agressivo o clima é, no momento. Embora os autores e as circunstâncias ainda não sejam conhecidos, não se descartam motivações xenófobas.
Mais de 2 mil policiais foram mobilizados para garantir a segurança. Em torno da ampla área de festas, no centro da cidade, foram postados grandes blocos de concreto, a fim de impedir eventuais ataques com veículos automotivos. O atentado de Nice, no feriado nacional francês, foi uma advertência para os organizadores das festividades na Alemanha.
Mas, apesar de todas as preocupações e ressalvas, Dresden espera várias centenas de milhares de visitantes. Os hotéis estão bastante lotados, embora tenha havido um número considerável de cancelamentos.
Contra a xenofobia no Bundestag
Também no Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão), a xenofobia, tão acentuada na capital saxã, foi tema na última sexta-feira. No debate paralamentar sobre o recém divulgado relatório anual sobre o status da reunificação, a encarregada federal para assuntos do Leste alemão, Iris Gleicke, enfatizou uma constatação.
Naturalmente o fortalecimento do extremismo de direita, racismo e xenofobia é um fenômeno e problema nacional. No entanto, no Leste o número de atos criminosos com essa motivação é bem mais alto, em relação ao total da população regional. "Será que vamos fazer de conta que essa constatação não existe?", questionou a política social-democrata.
Antecipando as comemorações do Dia da Unidade, a chefe da bancada oposicionista verde, Katrin Göring-Eckardt, expressou horror diante dos incidentes mais recentes em Dresden. A ocasião deveria ser uma festa da reunificação em uma Alemanha cosmopolita, liberal e tolerante: em vez disso, os atentados a bomba é que definirão a imagem do feriado nacional.
"Se levamos a unidade alemã a sério, então estamos falando de convivência e coesão no nosso país", observou a deputada. Então, a questão também é atuar contra os xenófobos, lado a lado com os recém-imigrados, e deixar claro: "Este é o nosso país, esta é a nossa democracia – e vamos defendê-los."
Dresden, das ruínas à atualidade
Praticamente destruída pelos bombardeios dos Aliados no final da 2ª Guerra, a "Florença do Elba" conseguiu se reerguer.
Foto: Colourbox/L. Andronov
Florença do Elba
Construída às margens do Rio Elba e cercada pela floresta Heide, Dresden é conhecida como a Florença do Elba, devido à harmonia da sua beleza natural com a sua belíssima aquitetura.
Foto: picture-alliance/ZB/P. Zimmermann
A Abóbada Verde
Na "sala das preciosidades" da Abóbada Verde, os visitantes podem ver as mais valiosas riquezas de príncipes eleitores e reis saxões. Mais de mil peças podem ser vistas na vitrine do tesouro.
Foto: picture alliance/dpa/M. Hiekel
A praça Neumarkt
Desde a consagração da Frauenkirche, a área em sua volta vem sendo trabalhada de forma intensiva para restaurar as características barrocas originais do local.
Foto: icture-alliance/dpa/M Hiekel
Residenzschloss
O palácio Residenzschloss foi sede do governo e residência dos príncipes da Saxônia do século 12 até o ano de 1918. Durante esse longo período ele passou por diversas reformas, uma completa reconstrução em 1701, em conseqüência de um incêndio, e após a destruição de 1945 foi novamente reconstruído.
Foto: Imago
Arte no teto
A capela do castelo foi construída entre 1551 e 1553 pelo mestre construtor e escultor em pedras Melchior Trost.
Foto: picture-alliance/dpa
Hofkirche, a igreja católica da corte
A maior igreja da Saxônia, consagrada em 1751 como igreja da Corte, é desde 1980 catedral da Diocese de Dresden e Meissen.
Foto: picture alliance/Johanna Hoelzl
A Ópera Semper
A Ópera Semper, em estilo neo-renascentista, foi construída entre 1870 e 1878 pelo arquiteto Gottfried Semper e é mais um dos símbolos da cidade. Destruída pelas bombas dos Aliados no final da Segunda Guerra Mundial, sua reconstrução foi finalizada em 1985.
Foto: DW/K. Gomes
Magnífico cenário para ópera e bailes
Na ópera Semperoper acontecem não só apresentações artísticas, mas também bailes de gala.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
A galeria Alte Meister
A Pinacoteca dos Mestres Antigos (Alte Meister), instalada na ala Gottfried Semper do complexo Zwinger, foi reaberta em 1956, depois que a então União Soviética devolveu os quadros à então Alemanha Oriental.
Foto: dapd
O complexo histórico de museus Zwinger
O complexo de prédios barrocos Zwinger, construído entre 1710 e 1719 para a corte de Augusto, o Forte, foi destruído durante os bombardeios dos Aliados no inverno europeu de 1944 e 1945, mas principalmente em fevereiro de 1945. Sua reconstrução começou já em 1945.
Foto: Mapics/Fotolia
Início da reconstrução
Em 1946, as ruas foram liberadas dos entulhos, embora os cabos dos bondes ainda estivessem danificados. As ruínas dos prédios foram removidas mais tarde.
Foto: AP
Monumento de Martinho Lutero
O monumento de Martinho Lutero junto às ruínas da igreja protestante Frauenkirche.
Foto: Bundesarchiv Bild 183-60015-0002
Cinzas e escombros
Uma ofensiva aérea dos Aliados na noite de 13 para 14 de fevereiro de 1945 destruiu Dresden, famosa por suas características barrocas.
Foto: picture-alliance/dpa
A Frauenkirche
Por 50 anos, as ruínas da igreja barroca serviram de memorial contra a guerra no centro da cidade marcada pela destruição.
Foto: AFP/Getty Images
Símbolo da reconstrução
Em 1994, foi iniciada a reconstrução da igreja protestante Frauenkirche. O culto festivo de inauguração foi em 30 de outubro de 2005.
Foto: Getty Images/C. Koall
O Quartier
O chamado "alojamento junto à Frauenkirche" é espaço para hotéis, lojas, apartamentos e restaurantes.
Foto: picture-alliance/ZB
A "mesquita do tabaco" Yenidze
Construída entre 1909 e 1912, a fábrica de cigarros Yenidze é considerada modelo de estilo exótico de construção. Depois de uma reforma, foi reaberta em 1996 como prédio de escritórios. Em seu interior ficam também um restaurante e um local de festas noturnas.
Foto: Sylvio Dittrich
Conjuntos habitacionais socialistas
Durante a 2ª Guerra Mundial, o bairro Johannstadt-Nord foi totalmente destruído. Entre 1972 e 1975, foram construídos diferentes tipos de prédios de vários andares com milhares de apartamentos. Os grandes conjuntos habitacionais socialistas eram chamados "Plattenbauten".
Foto: Wikimedia/Deutsche Fotothek - SA
Castelo Pillnitz
Construído sob influência da arquitetura asiática, o antigo castelo de verão dos monarcas saxões fica fora da cidade e não foi destruído nos bombardeios. Hoje, é a sede do museu de artesanato.
Foto: Sabine Klein/Fotolia
A "boutique de laticínios" Pfund
Construída em 1892 e restaurada em 1995, é um ponto obrigatório para os turistas. A Pfunds Molkerei, considerada a loja de laticínios mais bonita do mundo, é uma leiteria especializada em queijos que funciona no moldes de antigamente e que graças a sua beleza consta no livro Guinness de Recordes.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Schutt
Feira de Natal
O destino mais popular em dezembro é o mercado de Natal. O Striezelmarkt é um dos mais antigos da Alemanha: a primeira edição da feira, há 577 anos, não durou mais que um dia. Atualmente, ela começa no final de novembro e se estende até a véspera do Natal. O mercado ganhou seu nome do bolo natalino criado em Dresden, o Striezel, uma espécie de antecessor do Stollen, conhecido em toda a Alemanha.