Dresden vira "oráculo" do impasse eleitoral
30 de setembro de 2005Toda a Alemanha está atenta ao resultado das eleições no distrito eleitoral 160 de Dresden, onde a votação foi adiada por causa da morte da candidata do partido de extrema direita NPD. A votação do próximo domingo, no entanto, não poderá mudar o impasse parlamentar que inviabiliza a formação de um novo governo em Berlim.
O possível e o impossível
Sem o resultado de Dresden, a aliança CDU/CSU teria 225 cadeiras no Parlamento (entre elas, seis mandatos suplementares) e o SPD, 222 (incluindo nove suplementares).
Teoricamente, os social-democratas poderiam compensar a diferença de três mandatos que os separa dos conservadores, caso conquistassem dois e a CDU/CSU perdesse um. Mas esta hipótese é praticamente impossível, como indicam as estimativas dos especialistas eleitorais.
A votação de Dresden pode levar, no entanto, a algumas alterações, considerando todas as possibilidades do complexo sistema eleitoral alemão. A CDU pode perder um de seus três mandatos suplementares ou conquistar mais um, dependendo da relação entre votos diretos no candidato do distrito (primeiro voto) e votos na legenda (segundo voto).
Se os social-democratas (SPD) tiverem uma votação representativa (por volta de 40%) e os verdes tiverem um resultado fraco, o SPD pode conquistar uma cadeira dos verdes na Saxônia. Se todos os eleitores do distrito fossem às urnas no domingo e mais de 90% votassem no SPD, os social-democratas poderiam até conquistar duas cadeiras a mais no Parlamento, uma possibilidade considerada praticamente impossível.
Dispensado voto útil
Uma hipótese bem otimista do SPD é a de ficar com apenas uma cadeira a menos que a oposição conservadora, o que não altera o fato de que a CDU/CSU continuará sendo a bancada mais forte no Parlamento.
É por isso que os eleitores de Dresden estão se perguntando se seu voto ainda vale alguma coisa e se seria realmente o caso de ir às urnas, pois na Alemanha o voto é facultativo. Se a votação adiada praticamente não pode alterar o quadro geral, o resultado das eleições no resto do país pode fazer as pessoas mudarem seu voto em função dos números já conhecidos. O diário berlinense taz, por exemplo, especulou sobre a possibilidade de os eleitores votarem em massa no partido de esquerda, considerando que já não precisam votar "útil" mesmo.
Ninguém arrisca um prognóstico exato. O distrito de 219 mil e 500 eleitores é heterogêneo, uma mistura de professores, advogados e desempregados. O SPD tem o centro histórico, o PDS domina nos bairros mais proletários e a CDU conta com os eleitores dos bairros de casarões às margens do Elba.
Votação em Dresden pode afetar Renânia
Em 2002, a CDU conquistou o mandato direto, mas agora a disputa entre o candidato democrata-cristão, Andreas Lämmel, e a candidata social-democrata, Marlies Volkmer, é acirrada. Além disso, mais de 40% dos eleitores estão indecisos.
As implicações do sistema eleitoral alemão são tão complexas, que a CDU tem um problema com o segundo voto. Se a votação na legenda dos democrata-cristãos superar 41.230 votos, o partido pode perder um mandato na Renânia do Norte-Vestfália. Isso porque haveria um descompasso entre os resultados do primeiro e do segundo voto. Quem perderia a cadeira no Bundestag, no caso, seria o parlamentar Cajus Julius Caesar, daquele estado, detentor do último dos mandatos suplementares.
Diante de tantas possibilidades inusitadas, a votação adiada colocou Dresden no foco da atenção nacional, algo que não acontecia desde as enchentes de 2002. Conforme comentou o jornal Die Zeit, "considerando que a votação dificilmente poderá mudar o resultado das eleições, tudo isso é muito barulho para nada. No entanto, de um ponto de vista simbólico, parece que tudo está em jogo, como se fosse um oráculo para o grande oráculo do pós-urnas".
De qualquer forma, a votação de domingo vai tornar mais urgente uma decisão dos políticos sobre a futura coalizão de governo na Alemanha. Já não haverá mais por que aguardar.