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Droga experimental promete reverter a perda de memória

14 de fevereiro de 2019

Cientistas desenvolvem moléculas que prometem inovar o tratamento da perda de memória ligada ao envelhecimento ou a doenças mentais. Se teste clínico for bem sucedido, remédio poderia até retardar início do Alzheimer.

Idoso pensativo
A droga poderia ser tomada como pílula diária por pessoas com mais de 55 anos, caso pesquisa clínica seja bem sucedidaFoto: picture-alliance/dpa

Uma droga experimental que fortalece as células cerebrais debilitadas elevou as expectativas para o tratamento da perda de memória e de outras deficiências mentais comuns na velhice. Moléculas terapêuticas desenvolvidas no Centro de Dependência e Saúde Mental (CAMH) de Toronto prometem reverter a perda de memória ligada à depressão e ao envelhecimento.

Em testes pré-clínicos, essas moléculas não apenas melhoraram rapidamente os sintomas, mas também pareceram reverter as deficiências cerebrais responsáveis pela perda de memória. As descobertas foram apresentadas nesta quinta-feira (14/02) no Encontro Anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), em Washington.

"Atualmente não há medicamentos para tratar sintomas cognitivos como a perda de memória gerada pela depressão, por outras doenças mentais e pelo envelhecimento", disse Etienne Sibille, um dos cientistas responsáveis pelo estudo e diretor adjunto de um instituto de pesquisa ligado ao CAMH.

De acordo com Sibille, o que é único e promissor sobre essas descobertas – em detrimento dos diversos fracassos no desenvolvimento de medicamentos para doenças mentais – é o fato de os compostos serem altamente direcionados para ativar os receptores cerebrais debilitados que estão causando a perda de memória.

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Foi necessária uma série de estudos – o mais recente publicado em janeiro de 2019 – para chegar a esse estágio. Sibille e sua equipe identificaram as deficiências específicas dos receptores celulares cerebrais no sistema de neurotransmissores Gaba – o principal neurotransmissor inibidor no sistema nervoso central.

As novas pequenas moléculas foram desenvolvidas para se conectar e ativar o alvo receptor. A ideia é que as moléculas exerçam um efeito terapêutico ao "consertar" a debilitação e, dessa forma, levar a uma melhora nos sintomas.

As moléculas são ajustes químicos das benzodiazepinas, uma classe de medicamentos ansiolíticos e sedativos que também ativam o sistema neurotransmissor Gaba, mas não são propriamente direcionáveis.

Uma dose única dessas novas moléculas foi administrada em modelos pré-clínicos com perda de memória induzida por estresse. Trinta minutos depois, o desempenho da memória retornou aos níveis normais – o experimento foi repetido mais de 15 vezes.

Em outro experimento que envolveu testes pré-clínicos em animais idosos, os declínios de memória foram rapidamente revertidos, e o desempenho aumentou para 80% após a administração do composto químico. Os níveis atingidos foram semelhantes aos normalmente vistos na juventude ou nos estágios iniciais da vida adulta. Depois de dois meses de tratamento, os cientistas descobriram que as células que haviam encolhido nos animais cresceram.

"As células envelhecidas se recuperaram e aparentavam ser da mesma forma que as células jovens do cérebro. Isso mostra que nossas novas moléculas podem modificar o cérebro em complemento à melhora de sintomas", disse Sibille. Ele espera começar as pesquisas clínicas em dois anos.

"Mostramos que nossas moléculas entram no cérebro, são seguras, ativam as células-alvo e invertem o déficit cognitivo da perda de memória", apontou o cientista. A droga poderia ser tomada como pílula diária por pessoas com mais de 55 anos.

Caso o teste seja bem sucedido, as potenciais aplicações são inúmeras. Não só há uma falta de tratamento para os déficits cognitivos nas doenças mentais, mas as melhorias no cérebro sugerem que as moléculas poderiam ajudar a prevenir a perda de memória num estágio inicial do Alzheimer, potencialmente retardando seu início.

"Nossas descobertas têm implicações diretas para a má cognição num envelhecimento normal", disse Sibille. "Mas vemos essas deficiências também entre transtornos que vão desde a depressão à esquizofrenia e ao Alzheimer."

PV/ots

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