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ConflitosIsrael

Drones comerciais em combate: Hamas imita russos?

23 de outubro de 2023

Nos ataques de 7 de outubro a Israel, organização palestina teria empregado táticas conhecidas da invasão da Ucrânia pela Rússia. Terroristas teriam também deixado armas russas para trás nos locais dos atentados.

Tanque israelense Merkava 4 destruído por drones do Hamas
Tanque israelense Merkava 4, um os mais pesados do mundo, foi destruído por drones do HamasFoto: Mohammed Fayq Abu Mostafa/REUTERS

Há bastante tempo os drones de combate contam entre as práticas de guerra moderna. Isso se tem confirmado em diversos conflitos armados dos últimos anos – na Síria ou em Nagorno-Karabakh, por exemplo. Na guerra da Rússia contra a Ucrânia, pela primeira vez empregam-se drones comerciais adaptados – até então considerados impróprios ao uso bélico – em ofensivas direcionadas e de ampla superfície.

Segundo especialistas, essa foi também a tática que os terroristas do grupo radical islâmico Hamas adotaram nos ataques de 7 de outubro contra localidades israelenses na fronteira com a Faixa de Gaza. No caso, tratou-se de quadricópteros comerciais produzidos sobretudo pelas firmas chinesas DJI e Autel.

Classificado como terrorista pelos Estados Unidos, Alemanha, União Europeia e alguns Estados árabes, o Hamas, no início da invasão, causou sérios danos estratégicos às forças de defesa de Israel. Vídeos divulgados pelo grupo mostrariam drones lançando explosivos sobre as torres de vigilância ao longo de toda a cerca fronteiriça de Gaza. Desse modo, deixaram "cegos" esses postos equipados com câmeras e sensores ultramodernos, e até então considerados em Israel como inexpugnáveis.

Uso "inesperado e complexo"

Para entender melhor o que se passou no Oriente Médio, vale examinar os combates na Ucrânia. Praticamente desde o início da invasão, em 24 de fevereiro do 2022, a Rússia tem empregado amplamente drones comerciais equipados com explosivos, e atualmente as forças ucranianas também os utilizam. Além disso, desde então, técnicos amadores conseguiram adaptar esses veículos não tripulados para mobilização no front.

Enquanto na Ucrânia os alvos são soldados e veículos blindados, em Israel os terroristas palestinos visaram infraestruturas militares. "A maneira como o Hamas mobilizou seus drones é nova, nunca foi observada antes", comentou Carlo Masala, da Universidade da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs), em Munique, à revista Der Spiegel. Sua teoria é que o grupo teria estudado bem detalhadamente a guerra na Ucrânia.

Vídeos divulgados pelo Hamas também mostram drones lançando granadas sobre uma guarnição de tanques de combate israelenses, atingindo até mesmo um Merkava-4, de 63 toneladas, possivelmente o tanque mais pesado do mundo, com valor calculado em 3,5 milhões de dólares.

Liran Antebi, encarregada de programas de alta tecnologia e segurança nacional do Institute for National Security Studies (INSS) de Tel Aviv, analisa há mais de dez anos a mobilização bélica da tecnologia de drones, especialmente no contexto da guerra russa contra a Ucrânia.

No entanto, até ela se disse "surpresa pelo uso inesperado e complexo dos drones do Hamas": "Isso prova que, mesmo sendo tecnologicamente bem primitivos, numa mobilização complexa [os drones comerciais adaptados] podem ser muito mais letais do que até então se queria admitir", enfatiza a cientista.

Zona da cerca separando Gaza de território israelense era considerada inexpugnável até 7 de outubro de 2023Foto: Tsafrir Abayov/AP Photo/picture alliance

Primeiro emprego: "Estado Islâmico" contra EUA

O Hamas confirmou ter usado 35 drones nos atentados terroristas de 7 de outubro. No entanto, não se trataria de exemplares comerciais, mas sim do modelo Zouari, de fabricação própria, que deve seu nome ao chefe do programa de drones do grupo, o engenheiro tunisiano Mohamed Zouari, cuja morte em 2016 o Hamas atribui ao serviço secreto israelense Mossad.

Não é novidade que os terroristas palestinos possuam drones. Mas, ao que tudo indica, antes da mortal ofensiva-surpresa de 7 de outubro, eles melhoraram e ampliaram seu arsenal, também com modelos comerciais.

Drones "são baratos, fáceis de obter no mercado e podem ser lançados num prazo de poucos segundos numa rota precisa e praticamente sem conhecimentos prévios. Porém o volume e extensão do ataque com drones no Oriente Médio não se compara ao na Ucrânia", afirmou ao jornal econômico israelense Globes o especialista em drones Yair Ansbacher.

Antebi recorda ter sido a organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) a primeira a lançar drones adaptados para fins ofensivos, contra as forças dos Estados Unidos no Oriente Médio, onde antes empregava dispositivos extremamente primitivos. "Depois vimos isso na Ucrânia, e agora também aqui."

Alta tecnologia pode servir ao terrorismo

Para diversos observadores, todo o programa armamentista do Hamas só é possível com apoio financeiro e assistência estrangeiros. Segundo o Country Reports on Terrorism 2020, do Departamento de Estado americano, o Irã transfere anualmente 100 milhões de dólares a grupos radicais palestinos. O próprio Hamas nunca desmentiu essa estimativa, apenas afirmou tratar-se de somas mais modestas.

Consultados pelo jornal The Washington Post, atuais e antigos funcionários de serviços secretos do Ocidente e do Oriente Médio confirmaram que os aliados iranianos fornecem treinamento militar e apoio logístico e financeiro ao Hamas. Essas informações não puderam ser verificadas, mas alguns observadores supõem que os russos estejam envolvidos no treinamento de combatentes do Hamas.

"Eles todos – o Jihad Islâmico, o Hamas e outros – são preparados na Síria. Está claro que os russos estão envolvidos, na qualidade de treinadores [militares] de experiência extraordinária ", afirma Lhor Semywolos, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio de Kiev.

Até agora não foi possível provar que Moscou dá apoio direto ao Hamas. Entretanto o jornalista israelense Nadav Eyal noticiou que os guerrilheiros radicais islâmicos teriam deixado armas russas para trás nos locais dos atentados terroristas.

O jornal Haaretz, de Israel, afirma que o Irã teria armado até os dentes a tropa de assalto Nukhba, do Hamas, com armas russas, desde fuzis Kalashnikov até mísseis antiaéreos Strela. "Vimos os efeitos diretos e indiretos da ligação entre Rússia, Irã e o Hamas nas ruas e casas, nas antes idílicas clareiras das cidades e municípios nas fronteiras da Faixa de Gaza, que se transformaram em ruínas", escreve o colunista Yossi Melman.

Não há comentário oficial da parte de Israel sobre essas informações. O Exército se prepara para uma ofensiva de solo na Faixa de Gaza: segundo o ex-oficial do serviço britânico Frank Ledwidge, com experiência em zonas de conflito, deverá ser uma guerra altamente tecnológica "com forte emprego de drones, túneis, fogo de artilharia e ofensivas aéreas".

A especialista em segurança Liran Antebi aconselha que, desde já, se atente às tecnologias de inteligência artificial disponibilizadas para o grande público: no futuro próximo, grupos terroristas de todo o mundo poderão começar a utilizarem-nas de forma ativa para fins maléficos.