Com oito vitórias em oito jogos, técnico está perto de superar Saldanha e quebrar marca de 1969. Capitão do Tetra mantém base, recupera autoestima de jogadores e, aos poucos, devolve credibilidade ao futebol brasileiro.
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São oito vitórias em oito jogos. Desde que herdou o comando – e o caos – deixado por Luiz Felipe Scolari, Dunga mantém 100% de aproveitamento. Este é o melhor início de um treinador à frente da seleção desde 1969, quando João Saldanha somou nove triunfos contras outras seleções nacionais.
Após o fiasco da Copa do Mundo de 2014, que resultou na pior estatística defensiva do Brasil em todas as edições de Mundiais e colocou o futebol brasileiro em descrença, especialmente devido à impiedosa goleada por 7 a 1 contra a Alemanha, Dunga recuperou a autoestima da Seleção, trabalhou muito o lado psicológico dos jogadores, porém não deixou de fazer suas mudanças – táticas e técnicas.
Como era esperado, alguns atletas, como Fred, Dante, Jô, Paulinho e Bernard, que estiveram entre os mais criticados na campanha da Copa, além de Maicon, por indisciplina, perderam espaço na Seleção. No entanto, Dunga vem mantendo o esqueleto montado por Felipão: a defesa é quase a mesma, com Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; o volante Luiz Gustavo continua como guardião do meio-campo, que segue tendo Oscar como armador. Fernandinho e Willian ganharam espaço. E Neymar, claro, ainda é o camisa 10.
"Tem de dar confiança aos jogadores depois de uma Copa do Mundo em que foram criticados. Agora estão no caminho, buscando o equilíbrio", disse Dunga, após a vitória convincente sobre a França. No entanto, para os dois últimos amistosos, ele convocou apenas nove remanescentes do último Mundial. "Não pode mudar tudo a toda hora. Não pode colocar como terra arrasada. Temos jogadores de qualidade", explicou.
A Seleção, aliás, desde que Dunga assumiu, derrotou França e Argentina, duas seleções que, por um placar bem inferior ao brasileiro, também perderam para a Alemanha durante a Copa. Melhor: dos oito adversários pós-Copa, apenas dois, Turquia e Áustria, não estiveram no Mundial do Brasil.
Ainda preso na "Neymar-dependência"
Dos 18 gols marcados pela Seleção nestes oito amistosos, 13 foram de atletas que estiveram no grupo de Felipão. Somente Neymar balançou as redes oito vezes, se tornando inclusive o quinto maior artilheiro da história da Seleção, com 43. Outros cinco gols foram marcados por Willian, duas vezes, Oscar, David Luiz e Luiz Gustavo. Os cinco restantes foram anotados por Diego Tardelli (2), Roberto Firmino (2) e um gol contra da seleção da Turquia. Detalhe importante: a equipe sofreu apenas dois gols.
"Foi difícil depois de tudo que aconteceu na Copa, mas demos a volta por cima. Sabemos que não podemos baixar a cabeça e ficar pensando no que passou", simplificou o atacante do Barcelona.
O que Dunga ainda não conseguiu mudar é a "Neymar-dependência" na Seleção, mas o capitão nas Copas de 1994 e 1998 mexeu nas estruturas da equipe. Thiago Silva perdeu a braçadeira para o atacante do Barcelona, algo incomum na história da seleção brasileira, que costuma ter capitães do setor defensivo, mesmo nas épocas de Pelé, Romário e Ronaldo. Além disso, pode-se interpretar as convocações constantes de Filipe Luis e Miranda, que atuaram em todos os oito jogos sob Dunga, como uma leve cutucada em seu antecessor, Scolari.
Firmino: quem mais ganhou com Dunga
Porém, no setor de ataque, Dunga ainda encontra problemas para achar um camisa nove. Nas convocações, figuram em sua maioria os nomes de Diego Tardelli, Robinho, Roberto Firmino e Luiz Adriano. No entanto, com as últimas duas formações, contra França e Chile, Dunga mostrou tender para algo que deu certo na geração de ouro da Espanha: atuar sem centroavante. Contra os chilenos. a Seleção apenas deslanchou quando ele sacou Luiz Adriano e colocou Roberto Firmino em campo – mesma formação que dominou a França, em Paris.
O meia do Hoffenheim, por sinal, vem sendo quem mais ganhou com a reformulação promovida por Dunga. Pois o treinador deixa claro que quer fugir do futebol mais estático, com blocos bem definidos. Com Willian, Oscar, Philippe Coutinho, Fernandinho, Elias, Neymar e Roberto Firmino, a seleção brasileira tem peças flexíveis para o setor de armação.
Certamente não cabem comparações, mas o poder de flutuação, movimentação, criação de espaços, principalmente com volantes que sabem sair jogando, lembra a filosofia de jogo adotada por Mário Jorge Lobo Zagallo, na Copa de 1970. Bem diferente da escola tática de Carlos Alberto Parreira, treinador de Dunga na campanha do Tetra, e de Felipão, na conquista do Penta.
"Antes, tínhamos jogadores que faziam gols na Europa e que eram referência, e hoje deixamos de ter essas figuras. Tínhamos nomes como Careca, Ronaldo, Rivaldo. Hoje, não tem um que se sobressai muito. Só Neymar. E isso incomoda o futebol brasileiro", reconheceu Dunga.
A poucos passos do recorde de Saldanha e Aimoré
Em sua segunda passagem comandando a Seleção, Dunga precisa de mais cinco vitórias para assumir a liderança no quesito de início mais vencedor da história. Além de João Saldanha, que na fase preparatória para a Copa do Mundo de 1970 somou, a rigor, 12 vitórias consecutivas – a Fifa desconsidera quatro amistosos contra combinados estaduais e clubes brasileiros – Aimoré Moreira detém o recorde de 12 vitórias, todas contra seleções de países.
Aimoré Moreira treinou a Seleção por cinco oportunidades. Mas em sua primeira passagem, o ex-jogador do Botafogo assumiu o comando da seleção brasileira um ano antes da Copa do Mundo de 1962. Foram 12 vitórias até o primeiro tropeço, que viria apenas no segundo jogo da Copa, no empate sem gols com a Tchecoslováquia, jogo marcado pela contusão que tiraria Pelé daquele Mundial.
E apenas como curiosidade, Armindo Nobs Ferreira, em 1934 – nos tempos em que, como diz o jargão, "se amarrava cachorro com linguiça" – venceu suas primeiras nove partidas frente à Seleção, porém todas elas contra combinados, seleções estaduais ou clubes brasileiros.
E para quebrar o recorde, Dunga tem pela frente os últimos dois amistosos preparatórios para a Copa América, contra México e Honduras, ambos no Brasil, e os três primeiros confrontos pela fase de grupos do torneio, que será disputado no Chile, a partir de 11 de junho: Peru, Colômbia e Venezuela.
Relembre os 23 convocados por Felipão para Copa 2014
Os jogadores brasileiros na Bundesliga
Depois do humilhante 7 a 1 na Copa do Mundo, 17 (e meio) brasileiros reencontram os campeões mundiais na primeira divisão do futebol alemão. Tem atletas de seleção, desconhecidos e jovens promessas.
Foto: Maurizio Lagana/Bongarts/Getty Images
Dante - Bayern de Munique
O zagueiro Dante, reserva da seleção brasileira na Copa do Mundo, é titular absoluto do bicampeão alemão Bayern de Munique. No futebol alemão desde 2009, quando atuou por três anos no Borussia Mönchengladbach, Dante é sucesso também fora das quatro linhas. O seu livro "Ich, Dante" (Eu, Dante) foi recentemente nomeado para receber o prêmio da Academia Alemã de Cultura do Futebol.
Foto: Reuters
Rafinha - Bayern de Munique
Depois de cinco anos no Schalke 04, Rafinha teve uma curta aventura no Genoa, da Itália, antes de voltar para o futebol alemão, em 2011. Nas duas primeiras temporadas, o lateral-direito colecionou troféus, mas também acumulou tempo no banco de reservas. Com a chegada de Pep Guardiola (esq.), Rafinha virou peça fundamental no Bayern de Munique e é titular absoluto da lateral direita.
Foto: Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Images
Cleber - Hamburgo
Contratado nos últimos dias da janela de transferência europeia, o zagueiro Cleber é a grande aposta do novo presidente do HSV, Dietmar Beiersdorfer, para arrumar os problemas defensivos do clube. O baiano de 23 anos de idade, que estorou para o futebol na Ponte Preta em 2012, era titular absoluto no Corinthians. Pelo novo "xerifão", o Hamburgo desembolsou 3,1 milhões de euros.
Foto: imago/Eibner
Luiz Gustavo - Wolfsburg
Principal contratação do Wolfsburg na temporada anterior, Luiz Gustavo faz parte de um projeto ambicioso que pretende colocar o clube entre os grandes da Alemanha. Titular na Copa do Mundo, o volante foi um dos poucos jogadores que não decepcionaram na Seleção de Felipão. Já na equipe patrocinada pela maior montadora alemã, Luiz Gustavo melhorou o meio-campo, mas também acumulou cartões vermelhos.
Foto: Getty Images
Felipe Lopes - Wolfsburg
Formado nas categorias de base do Nacional, da capital paulista, Felipe Lopes se destacou pelo Guarani, de Campinas, na Série B do Brasileirão de 2005. A primeira estação do zagueiro na Europa foi o multicampeão belga Anderlecht, onde não teve oportunidades. Seguiram então três anos em outro Nacional - o da Ilha da Madeira. Em 2012, o Wolfsburg contratou o brasileiro por 2,5 milhões de euros.
Foto: imago sportfotodienst
Naldo - Wolfsburg
Com 31 gols em 237 jogos (média de um gol a cada 7,6 jogos), Naldo é um dos zagueiros mais perigosos – e respeitados – da Bundesliga. Após breve passagem pelo Juventude, do Rio Grande do Sul, o zagueiro chegou ao então campeão alemão Werder Bremen em 2005. Lá, Naldo conquistou uma Copa da Alemanha e dois vices da liga alemã. Desde a temporada 2012/2013, o brasileiro veste a camisa do Wolfsburg.
Foto: Getty Images
Felipe Santana - Schalke 04
Felipe Santana surgiu no Figueirense – onde foi vice-campeão da Copa do Brasil de 2007 – e seguiu para cinco anos de Borussia Dortmund, onde jogou pouco, mas acumulou medalhas: bicampeão alemão, campeão da Copa da Alemanha e vice-campeão da Liga dos Campeões. Sem espaço na disputa com Mats Hummels e o sérvio Neven Subotic, Felipe Santana foi para o arquirrival Schalke 04 na temporada passada.
Foto: Getty Images/Dennis Grombkowski
Roberto Firmino - Hoffenheim
Pouco conhecido do torcedor brasileiro, Roberto Firmino chegou a ser especulado para o elenco da seleção brasileira na Copa do Mundo. O meia ofensivo – outro formado na base do Figueirense – chegou ao futebol alemão em 2011 e logo virou titular absoluto do Hoffenheim. Na temporada passada, o alagoano marcou 16 gols e ficou apenas quatro atrás do artilheiro da competição, Robert Lewandowski.
Foto: picture-alliance/dpa
Bruno Nazário - Hoffenheim
Depois dos ótimos resultados com Roberto Firmino, o Hoffenheim buscou na temporada passada um outro meia brasileiro. Bruno Nazário – também formado nas categorias de base do Figueirense – é considerado um atleta com perspectiva, que está sendo preparado para o time principal. Na Bundesliga, o paranaense de 19 anos soma apenas 20 minutos em campo, mas na atual pré-temporada mostrou ser promissor.
Foto: imago/Jan Huebner
Raffael - Borussia Mönchengladbach
Experiente no futebol europeu, Raffael acumula passagens pela Suíça, Ucrânia e Alemanha. Suas melhores fases sempre foram sob o comando do treinador francês Lucien Favre: foi assim no FC Zürich, no Hertha Berlim e agora no Borussia Mönchengladbach. Na temporada passada, Raffael marcou 15 gols e foi eleito o melhor meia do primeiro turno pelo site oficial da Bundesliga.
Foto: picture-alliance/dpa
Ronny - Hertha Berlim
Ronny é conhecido principalmente por duas coisas: o meia-esquerda é o irmão mais novo de Raffael e detém o recorde do chute mais forte do mundo – quando atuava pelo Sporting de Lisboa, uma cobrança sua de falta foi medida com 210,9 km/h pela televisão portuguesa. No Hertha desde 2010, Ronny tem em seu currículo o Brasileirão de 2005, pelo Corinthians, e o Mundial Sub-17, com a Seleção, em 2003.
Foto: Alex Grimm/Bongarts/Getty Images
Anderson - Eintracht Frankfurt
Conhecido como "Bamba" Anderson, o carioca teve uma rápida passagem pelo Flamengo, em 2008, antes de perambular pela segunda divisão da Alemanha. Depois do Osnabrück e de se destacar no Fortuna Düsseldorf, Anderson foi contratado pelo Borussia Mönchengladbach. Sem vingar, o zagueiro foi para o Eintracht Frankfurt, em 2011, onde, na temporada anterior, marcou seu único gol na Bundesliga.
Foto: Getty Images
Lucas Piazón - Eintracht Frankfurt
Lucas Piazón estourou na base do São Paulo e logo chamou a atenção dos principais clubes europeus. Com apenas 17 anos, o promissor meia e recém campeão sul-americano sub-17 com o Brasil se transferiu para o Chelsea. Seguiram-se empréstimos para o Málaga e o Vitesse, da Holanda. Agora no Eintracht Frankfurt, Piazón marcou logo em sua estreia, no amistoso contra a Internazionale.
Foto: imago sportfotodienst
Wendell - Bayer Leverkusen
Até então, o talentoso lateral-esquerdo Wendell havia atuado apenas no sul do Brasil. Criado no modesto Iraty, o baiano, com passagem rápida pelo Paraná Clube, se destacou no Londrina e foi contratado pelo Grêmio em 2013. Após sua passagem de sucesso pelo clube gaúcho, Wendell foi contratado pelo Bayer Leverkusen por 6,5 milhões de euros e recebeu um contrato de cinco anos.
Foto: imago/Picture Point
Caiuby - Augsburg
Com passagens por São Paulo e Corinthians, Caiuby está na Alemanha desde a temporada 2008/2009 e logo em sua estreia foi campeão da Bundesliga com o Wolfsburg, tendo atuado apenas 118 minutos. Depois de quatro anos atuando na segunda divisão – por Duisburg e Ingolstadt – Caiuby retorna à primeira, desta vez para a grande surpresa da última temporada, o Augsburg.
Foto: picture-alliance/dpa
Marcelo - Hannover 96
Cria da base do Santos, Marcelo ficou apenas uma temporada no elenco principal e foi campeão paulista em 2007. No ano seguinte, o zagueiro foi para o Wisla Cracóvia, clube pelo qual conquistou o título polonês de 2009. Depois de três temporada no PSV Eindhoven, onde levantou a Copa da Holanda, em 2012, Marcelo foi contratado pelo Hannover 96 no começo da temporada anterior.
Foto: imago/Future Image
Felipe - Hannover 96
Felipe Trevizan já está há duas temporadas no Hannover 96, mas participou de apenas quatro partidas na Bundesliga. O curioso é que justamente em sua estreia, em agosto de 2012, Felipe marcou seu único gol pela equipe alemã (foto), contra o Schalke. O zagueiro canhoto, revelado pelo Coritiba, viveu seu melhor momento no Standard de Liège, onde levantou a Copa da Bélgica de 2011.
Foto: Stollarz/AFP/GettyImages
Leonardo Bittencourt - Hannover 96
A rigor, Leonardo Bittencourt não é brasileiro. Nascido em Leipzig, em 1993, o jovem meio-campista herdou a habilidade de seu pai, o brasileiro Franklin Bittencourt, que atuava pelo tradicional, mas já inexistente, VfB Leipzig. Leonardo passou pelas seleções sub-17 até sub-20 da Alemanha (na foto, comemora gol na sub-20). Desde a temporada 2013/2014, defende o Hannover 96.