Alemãs do vôlei de praia boicotam Catar por veto a biquíni
22 de fevereiro de 2021
Karla Borger e Julia Sude descartam participar do Circuito Mundial de Vôlei de Praia em Doha em março devido à imposição de que atletas joguem de camisa e calça comprida. Federação Alemã de Vôlei apoiou decisão.
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As estrelas alemãs de vôlei de praia Karla Borger e Julia Sude anunciaram que não participarão de um campeonato mundial no Catar no mês que vem devido à proibição de que elas joguem de biquíni, uniforme tradicional na categoria feminina do esporte.
"Faríamos nosso trabalho lá, mas nos foi negado nosso uniforme de trabalho", afirmou Borger no domingo (21/02), em entrevista à rádio pública alemã Deutschlandfunk. "É realmente o único país e o único torneio em que um governo nos diz como temos que fazer nosso trabalho, e isso nós criticamos."
A capital do Catar, Doha, receberá em março o Circuito Mundial de Vôlei de Praia. Será a primeira vez que o pequeno Estado do Golfo sediará uma competição feminina da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), após ter sido palco do campeonato masculino por sete anos.
As atletas foram solicitadas a usar camisas e calças compridas em vez dos tradicionais biquínis, uma regra que a FIVB alega ser "por respeito à cultura e tradições do país anfitrião".
Em uma decisão apoiada pela Federação Alemã de Vôlei (DVV), a dupla Borger e Sude disse à revista Spiegel no fim de semana que "não aceitaria" as regras impostas pelas autoridades do Catar.
Contudo, a medalhista de prata em campeonatos mundiais Borger afirmou que entende as demais atletas que competirão em Doha mesmo nessas condições. "Trata-se de nossa existência, por isso posso compreender que algumas jogadoras participarão do torneio no Catar."
A alemã declarou ainda que normalmente ela e Sude ficariam felizes em "se adaptar a qualquer país", mas justificou que o calor extremo em Doha exige o uso de biquínis. Embora não seja tão quente quanto nos meses escaldantes de verão, as temperaturas no Estado do Golfo podem chegar a 30 °C em março.
O treinador da dupla, Thomas Kaczmarek, disse ao jornal Bild que apoiou a decisão "100% e com plena convicção", e afirmou que, além da questão da temperatura, a não participação delas no torneio tem também uma razão política. "Karla e Julia, como mulheres, não querem se submeter a tais demandas por razões de ideologia."
Sude, por sua vez, lembrou que o Catar já havia feito exceções de vestimenta para atletas femininas que competiram no Campeonato Mundial de Atletismo em Doha em 2019. O país também permitiu que jogadoras de vôlei de praia competissem de biquíni durante os Jogos Mundiais de Praia, realizados no Catar em 2019.
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Catar como sede de eventos esportivos
À rádio Deutschlandfunk no domingo, Borger questionou se o Catar seria um país anfitrião adequado. "Estamos questionando se é necessário realizar um torneio lá", afirmou. "É definitivamente algo que se deve questionar."
O Catar tem sediado um número crescente de grandes eventos esportivos nas últimas décadas, embora seu histórico de direitos humanos, a falta de tradição esportiva e o clima extremamente quente o tornem um local controverso.
Calor e umidade foram grandes problemas relatados durante algumas provas do Campeonato Mundial de Atletismo no ano passado. A Copa do Mundo de Futebol de 2022, que ocorrerá no país, foi marcada para novembro e dezembro justamente por conta das altas temperaturas no Catar em junho e julho, quando o Mundial é normalmente disputado.
Além disso, condições controversas de trabalho para funcionários que constroem os estádios e supostas violações de direitos humanos no Catar também têm sido objeto de intenso escrutínio antes da Copa do Mundo do próximo ano.
ek/cn (AFP, DPA, SID)
Futebol e política - 150 anos de histórias
O esporte mais popular do mundo comemora 150 anos de existência e, nesse espaço de tempo, teve momentos de conotação política e influência direta na humanidade, desde trégua em guerras à confraternização de etnias.
Foto: picture-alliance/dpa
A trégua de Natal
Véspera de Natal de 1914. A Europa estava em plena Primeira Guerra Mundial, mas soldados alemães e britânicos organizaram um cessar-fogo não oficial ao longo de toda a frente ocidental. O início da "Trégua de Natal" foi na região de Ypres, na Bélgica, onde as tropas adversárias decoraram as trincheiras, trocaram presentes e jogaram uma partida de futebol.
Foto: PD
O mártir do Wunderteam
No dia 3 de abril de 1938, a Alemanha enfrentou o "Wunderteam" da Áustria no famoso "Jogo da Anexação". Matthias Sindelar (esq. camisa escura) marcou um dos gols da vitória austríaca e comemorou efusivamente na frente dos políticos nazistas. Na Copa de 1938 ele se recusou a defender a Alemanha e, em janeiro de 1939, foi encontrado morto, asfixiado por monóxido de carbono na própria cama.
Foto: picture alliance/Schirner Sportfoto
A partida da morte
O FC Start é provavelmente o maior símbolo esportivo de resistência ao nazismo. Mesmo ciente das consequências, o time (de branco) se recusou a fazer a saudação nazista e ousou vencer - pela segunda vez - a Flakelf, equipe da Força Aérea alemã, no dia 9 de agosto de 1942. Pouco tempo depois, os jogadores foram levados para campos de concentração. A grande maioria morreu sob tortura.
Foto: PD
Capitalismo versus socialismo
Em plena Guerra Fria, no dia 25 de novembro de 1953, a melhor seleção da época, a Hungria, enfrentou a Inglaterra no Estádio de Wembley. O confronto tornou-se importante propaganda para as duas ideologias. Os socialistas, liderados por Ferenc Puskas (esq.), venceram os capitalistas por 6 a 3. Foi a primeira derrota inglesa em casa em 90 anos de futebol.
Foto: Getty Images
"El Clásico"
Assim como o ditador Benito Mussolini sentenciou o "Vencer ou Morrer" para a seleção italiana na Copa de 1938, o general Franco também usou o futebol para enaltecer a Espanha que dirigia. E, em oposição aos catalães, ele usou o Real Madrid como ferramenta propagandista nos anos 50 e 60, originando uma das maiores rivalidades do futebol mundial.
Foto: picture-alliance/dpa
A Guerra das Cem Horas
O futebol é uma atividade de confraternização, mas em 1969 os jogos pelas Eliminatórias entre El Salvador e Honduras transbordaram na "Guerra das Cem Horas". Obviamente as razões do conflito foram de ordem econômica e política, mas a animosidade nos jogos foi o estopim para quatro dias sangrentos com seis mil mortos. No jogo decisivo, em campo neutro, El Salvador venceu e foi à Copa de 70.
Foto: picture-alliance/Sven Simon
A guerra parou para ver Pelé
Em excursão pela África em 1969, o Santos parou a Guerra de Biafra, na Nigéria. O governador da região nigeriana inclusive autorizou a liberação da ponte que ligava a cidade de Benin - local do jogo - e Sapele, para que todos pudessem ver o Rei Pelé (na foto com Eusébio). Assim que o Santos subiu no avião, a guerra recomeçou.
Foto: AP
Final de Copa perto de centro de tortura
Quando o general Jorge Videla assumiu o poder e instalou uma violenta ditadura militar, a Argentina já estava definida como anfitriã da Copa de 78. Houve diversas ameaças de boicote e protestos. Paul Breitner, campeão de 74, se recusou a ir à Argentina, e a seleção holandesa, vice-campeã, protagonizou um último gesto de repúdio ao governo militar, dando as costas a Videla .
Foto: -/AFP/Getty Images
Winnie Mandela Futebol Clube
Durante o Apartheid, o futebol era um dos principais catalisadores na luta contra a segregação racial na África do Sul. Naquele período, o clube Winnie Mandela FC (nome da mulher de Nelson Mandela) servia como refúgio para líderes políticos e sindicais perseguidos pelo regime. Com o fim do Apartheid, em 1994, a seleção sul-africana se tornou um poderoso fator de coesão nacional.
Foto: Getty Images
Drogba, o artilheiro pacificador
Já eram quase cinco anos de conflito entre os rebeldes do norte e o governo na Costa do Marfim, em 2007, quando Didier Drogba propôs que a partida contra Madagascar fosse disputada em Bouaké, a capital dos rebeldes. Armas e diferenças foram colocadas de lado para celebrar a vitória por 5 a 0, um gol para cada ano da guerra que ali cessaria.
Foto: Issouf Sanogo/AFP/Getty Images
Os eleitos de Alá contra o Grande Satã
Na Copa de 98, dois países de relação politicamente marcada pela animosidade se enfrentaram sob suspense em Lyon: Estados Unidos e Irã. Com a pregação antiamericana, os aiatolás tentaram capitalizar o confronto e o trataram como o duelo entre os "eleitos de Alá" e o "Grande Satã". Antes do jogo, porém, iranianos entregaram flores e posaram abraçados com os jogadores dos EUA.
Foto: Stu Forster/Allsport
Afeganistão recupera identidade na bola
Devido à invasão russa, a guerras civis e ao regime talibã, o futebol deixou de ser praticado no Afeganistão entre 1984 e 2002. A primeira partida oficial em território afegão ocorreu apenas no dia 20 de agosto de 2013. Três semanas depois, os afegãos conquistaram seu primeiro título internacional, a Copa da Federação do Sul da Ásia, recuperando um pouco de sua identidade.
Foto: Prakash Mathema/AFP/Getty Images
Futebol como unificador de povos
Com o colapso da Iugoslávia, cresceram as tensões étnicas na região - que o futebol, mesmo que por um instante, conseguiu apaziguar. Com a inédita classificação da Bósnia para a Copa de 2014, sérvios, croatas e muçulmanos foram às ruas festejar. Unidos.