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Duras críticas a comissário da UE após entrevista à DW

29 de maio de 2018

Encarregado do orçamento, Günther Oettinger, aposta nos sinais dos mercados e da economia para que italianos não votem em populistas. Líder da Liga vê ameaça implícita e pede renúncia.

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Günther Oettinger (esq.) entrevistado no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, pelo correspondente da DW Bernd Riegert.Foto: DW/M. Hofmann

O comissário da União Europeia (UE) para o Orçamento e Recursos Humanos, Günther Oettinger, declarou em entrevista exclusiva à DW, nesta terça-feira (29/05), que as autoridades em Bruxelas têm confiança de que o presidente da Itália, Sergio Mattarella, lembrará futuros governos italianos de suas obrigações com a UE.

"Temos confiança no presidente da Itália, o qual alerta os parceiros de coalizão de possíveis governos sobre seus direitos e deveres decorrentes da filiação à UE e à zona do euro." Da mesma forma, ele afirmou haver confiança no possível novo governo tecnocrata liderado por Carlo Cottarelli.

Oettinger declarou ainda não partilhar do temor de que as legendas populistas Liga, de extrema direita, e o antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S) possam se fortalecer ainda mais em eventuais novas eleições, o que poderia resultar na saída da Itália da zona do euro ou até da UE. Ao contrário, ele avaliou que os mercados e a evolução econômica do país poderão ser um sinal para que os eleitores não votem em populistas de direita ou de esquerda.

As reações à entrevista foram imediatas. O líder da Liga, Matteo Salvini, exigiu a renúncia imediata de Oettinger, a quem acusou de faltar ao respeito com a democracia. "Que louco, em Bruxelas não se tem vergonha. O comissário de Orçamento da UE, o alemão Oettinger, diz que 'os mercados vão ensinar os italianos a votar da maneira correta'. Se isso não é uma ameaça... Eu não tenho medo."

O líder do M5S, Luigi di Maio, afirmou que as palavras de Oettinger são absurdas. "Essas pessoas tratam a Itália como se ela fosse uma colônia de verão onde vão passar férias. Mas logo nascerá um governo da mudança, e vamos finalmente nos fazer respeitar na Europa", declarou.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não apoiaram as declarações do comissário. Um porta-voz da Comissão disse que Juncker estava ciente dos "comentários infelizes" de Oettinger. Já Tusk afirmou no Twitter que apenas os italianos – e mais ninguém – decidem sobre o futuro de seu país. "Meu apelo a todas as instituições europeias: por favor respeitem os eleitores. Estamos aqui para servi-los e não para ensiná-los."

Pontos para a UE graças a Erdogan, Trump, Brexit

O comissário para o Orçamento se mostrou otimista de que a Itália continuará sendo um contribuinte líquido da UE, ou seja, pagando mais do que recebe do bloco. Por um lado, numerosas empresas italianas se beneficiam do mercado interno; por outro, a UE tem concedido à Itália verbas crescentes para combater os efeitos de terremotos ou para a proteção de fronteiras. "Ou seja, cada vez mais adaptamos o nosso orçamento às necessidades da Itália, em especial."

No geral, o político alemão sente que cresce sensivelmente a aceitação da União Europeia entre a população. "Isso tem a ver com [o presidente da Turquia, Recep Tayyip] Erdogan, com [o presidente americano, Donald] Trump e com o Brexit. Os cidadãos notam que a equipe europeia é capaz de agir."

Alemão Günther Oettinger é comissário da UE para o Orçamento e Recursos HumanosFoto: DW/M. Hofmann

Justamente no contexto de uma "previsível guerra comercial" com os Estados Unidos, ficam claras as vantagens da comunidade. "O que seria um país como a Itália, como a Alemanha, sozinho? Porém, como mercado comum europeu, como união, temos a possibilidade de reagir a Trump." Isso é óbvio até mesmo para os críticos internos da UE, afirma.

Indagado se o irrita o fato de o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, insultar a UE em casa, mas simultaneamente estender a mão em Bruxelas, Oettinger foi taxativo: "Temos de estar cientes disso. Mas não é aceitável. Os governos de todos os Estados-membros tendem a nacionalizar os êxitos e europeizar os problemas. E isso é uma distribuição de trabalho injusta."

Um por todos, todos por um

Tendo em vista precisamente as críticas de Orbán ou do governo polonês, o político de 64 anos defendeu o novo regulamento da UE que condiciona a concessão de verbas comunitárias ao respeito aos princípios do Estado de Direito. Segundo ele, não se trata de educar governos, mas de defender os interesses do contribuinte europeu.

"Nós investimos bilhões, e precisamos assegurar que os países-membros e seus governos administrem devidamente as verbas. É possível que haja disputas nesse aspecto. Para evitar fraude, corrupção e malversação do orçamento europeu, pode ser necessário ir a tribunal. Por isso, precisamos da garantia de que os juízes sejam independentes, de que o terceiro poder não possa ser dobrado por ninguém, de que seja feita justiça e de que os juízes não sejam dependentes de seus governos."

Embora as relações com a administração Trump sejam tensas, os Estados Unidos permanecem sendo o parceiro e amigo mais próximo da Europa, observou Oettinger. Afinal de contas, a grande maioria dos 330 milhões de cidadãos americanos continua sendo pró-europeia, argumentou.

Se Trump impuser tarifas alfandegárias aos produtos da UE, entretanto, será preciso manter-se muito coeso, não importando que Estado seja mais afetado. "E se os automóveis forem afetados, todos devem ajudar. Se forem afetados Bordeaux ou produtos da Itália, os outros devem ser solidários. Como união, precisamos ver que, caso deixemos um país na mão, no fim todos sofrerão desvantagem."

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Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.
Martin Muno Imigrante digital, interessado em questões de populismo e poder político.
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