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E-mails expõem descaso de agentes de imigração nos EUA

4 de julho de 2019

Em mensagens trocadas antes de megaoperação contra imigração ilegal, agentes desejaram "boa caçada" e discutiram metas de detenções. Grupo no Facebook também revela tom racista e violento de funcionários sobre migrantes.

Migrantes na fronteira entre México e EUA
Migrantes na fronteira entre México e EUAFoto: Reuters/J. Luis Gonzalez

E-mails trocados por agentes de imigração dos Estados Unidos antes de uma operação de grande porte com o objetivo de prender cerca de 8 mil pessoas vivendo ilegalmente no país, aumentaram a onda de repúdio ao tratamento dedicado pelo governo americano a migrantes.

Segundo reportagem publicada nesta quarta-feira (03/07) pelo jornal britânico The Guardian, funcionários do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE, na sigla em inglês), que se preparavam para a chamada "Operação Mega" em 2017, escreveram mensagens comemorando a medida e até desejando uns aos outros uma "boa caçada". Os registros foram obtidos pelas ONGs de defesa dos direitos dos migrantes Mijente e Detention Watch Network.

A operação acabaria sendo cancelada após ter sido vazada para a imprensa, mas os registros de e-mails trocados pelos agentes revelam uma atitude agressiva dos agentes do ICE para com os migrantes e o modo como alguns funcionários pareciam celebrar deportações ao se expressarem de maneira jocosa.

Algumas das mensagens sugerem a existência de cotas de apreensão para os agentes. Funcionários antecipavam a quantidade de detenções para algumas cidades, como 240 para Salt Lake City, 30 para Austin, e assim por diante.

Um porta-voz do ICE negou que fossem estabelecidas metas para os agentes e disse que as detenções "não se baseiam em competição ou em chegar a um patamar específico".

O vazamento dos e-mails ocorre logo após a revelação do conteúdo de um grupo no Facebook de funcionários do Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) no Facebook, que expôs declarações de cunho racista, misógino e violento sobre migrantes e congressistas do Partido Democrata.

A ONG ProPublica, que divulgou o conteúdo do grupo com 9,5 mil membros, revelou que os agentes utilizavam termos pejorativos ao se referir aos migrantes, e chegavam a compartilhar memes com imagens de refugiados mortos.

Algumas mensagens traziam insinuações de atos sexuais com a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que integrou uma comitiva que visitou centros de detenção de migrantes no Texas e denunciou as péssimas condições para pessoas no local, que estariam submetidas a abusos e "crueldades sistemáticas".

Um relatório de inspetores do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS, na sigla em inglês) divulgado nesta terça-feira alertava para os perigos da superlotação e más condições nos centros de detenção de migrantes no Texas. As denúncias geraram forte reação da opinião pública e de políticos e ativistas.

O repúdio às políticas migratórias do presidente americano Donald Trump aumentou com a ampla divulgação na imprensa de imagens de migrantes mantidos em péssimas condições nos centros de detenção, prejudicando os esforços de Washington para aumentar a repressão aos refugiados que chegam em grande número ao país.

Nesta quarta-feira, Trump defendeu os agentes da Patrulha de Fronteiras, afirmando que eles não são "funcionários de hospital, médicos ou enfermeiros", e culpou a oposição democrata por rejeitar suas propostas para resolver o problema da imigração.

"Se os migrantes ilegais estão descontentes com as condições nos centros de detenção construídos ou reformados às pressas, então lhes digam para que não venham", disse o presidente através do Twitter. "Muitos desses estrangeiros ilegais vivem bem melhor agora do que nos lugares de onde vieram, e em condições bem mais seguras."

Trump prometeu que as operações de grande porte para deter ilegais, que acabaram sendo adiadas no mês passado, deverão ocorrer após o feriado nacional de 4 de julho, dia da independência dos EUA. O ICE, inclusive, já estaria preparado pare entrar em ação. "Depois do 4 de julho, muitas pessoas serão levadas de volta para fora [do país]", afirmou o presidente no início da semana.

RC/ap/dpa

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