Filme foi removido da plataforma de streaming por perpetuar estereótipos racistas. HBO Max diz que clássico voltará em breve ao catálogo, mas junto a uma discussão sobre os preconceitos raciais expostos na película.
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A plataforma de streaming HBO Max retirou nesta quarta-feira (10/06) o filme E o vento levou do seu catálogo nos Estados Unidos, após a película de 1939 ser criticada durante anos por transmitir uma visão idílica da escravidão e perpetuar estereótipos racistas.
Vencedor de vários Oscars, o épico da Guerra Civil dos EUA, rodado em 1939, é o filme de maior bilheteria de todos os tempos, quando ajustado pela inflação. No entanto, desde o seu lançamento, ele tem sido motivo de controvérsia por retratar escravos leais e simplórios junto a seus heroicos proprietários.
"E o vento levou é um produto de seu tempo e retrata alguns dos preconceitos étnicos e raciais que, infelizmente, têm sido comuns na sociedade americana", disse um porta-voz da HBO Max. "Essas representações racistas estavam erradas no passado e estão erradas hoje, e sentimos que seria desnecessário manter esse título sem explicação e sem uma denúncia dessas representações", acrescentou.
O filme, baseado no livro homônimo de Magaret Mitchell, voltará em breve à plataforma de streaming "como foi originalmente criado", junto a uma discussão sobre os preconceitos raciais que aparecem na película. "Se quisermos fazer um futuro mais justo, igualitário e inclusivo, precisamos primeiro reconhecer e entender nossa história", disse a HBO Max.
A retirada de E o vento Levou por parte da HBO Max vem um dia após o jornal Los Angeles Times publicar um artigo editorial no qual o escritor e diretor americano John Ridley ‒ roteirista de 12 anos de escravidão, vencedor do Oscar de 2014 ‒ pediu a medida, alegando que a história "glorifica" a escravidão durante a Guerra de Secessão dos EUA. "Ignora os seus horrores e perpetua os estereótipos mais dolorosos das pessoas de cor", escreveu.
E o vento levou já foi criticado na época de sua estreia por ativistas, como o roteirista afro-americano Carlton Moss, que protestou contra as estereotipadas caracterizações das personagens negras como "preguiçosas, simplórias e irresponsáveis" e também pelo fato de mostrar "uma exultante aceitação da escravidão".
Quando a atriz afro-americana Hattie McDaniel ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pela interpretação da escrava Mammy, ela teve de se sentar separada dos companheiros no fundo na sala, devido às leis de segregação racial.
A decisão da HBO Max coincide com a decisão de outras empresas, como a Disney, que evitou incluir no seu novo serviço de streaming A canção do Sul, um filme polêmico desde que estreou, em 1946, sob acusações de ridicularizar a população negra e justificar a escravidão. Ou o canal de TV Paramount Network, que cancelou o programa de reality Cops, estreado em 1989 como um formato que mostrava policiais em operações reais.
Manifestações tomaram conta dos Estados Unidos desde que o afro-americano George Floyd morreu durante uma ação policial, em 25 de maio último, em Minneapolis, com crescentes pedidos de reforma policial e remoção mais abrangente de símbolos de um legado racista, incluindo monumentos relacionados com os estados americanos que apoiavam a escravidão.
No Reino Unido, o programa de comédia Little Britain, que incluem cenas do cocriador David Walliams em blackface, foi removido dos serviços de streaming online, incluindo a Netflix, nesta semana.
Na história da sétima arte, não faltam projetos fracassados e obras-primas idealizadas por diretores renomados que nunca conseguiram ser exibidas – de Stanley Kubrick a Orson Welles e Alfred Hitchcock.
Foto: picture-alliance/Everett Colle/20thCentFox
'Napoleon', de Kubrick: jamais filmado
Um épico sobre Napoleão Bonaparte era para ser o filme mais elaborado de Stanley Kubrick, mas o projeto fracassou apesar do roteiro e dos figurinos já prontos. Para os produtores, um fator de desistência foi o malogro financeiro da megaprodução 'Waterloo', de Sergei Bondarchuk. Mas os preparativos de Kubrick não foram em vão: uma parte do material foi usada em seu filme 'Barry Lyndon' (1975).
Foto: Taschen
Falta de sorte para os filmes de Eisenstein
No início dos anos 1930, o famoso diretor Sergei Eisenstein planejou, mas acabou não conseguindo filmar uma obra intitulada 'Que viva Mexico!' em Hollywood. Uma segunda tentativa, um filme sobre a história do México, também não teve êxito. O material filmado acabou sendo usado em vários documentários.
Foto: Icestorm
Orson Welles e seus projetos incompletos
Orson Welles talvez seja o mestre dos filmes inacabados. O número de obras clássicas é superado pelo de projetos nunca finalizados. O mais célebre deles é 'The Other Side of the Wind' ('O outro lado do vento'). Welles começou a filmá-lo nos anos 1980, mas morreu antes de as filmagens terminarem. A plataforma online Netflix restaurou e completou o filme, que deverá ser lançado também no cinema.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
O último filme de Marilyn Monroe
Quando as filmagens começaram em 1962, ninguém sabia que este seria o último filme de Marilyn Monroe. Dirigido por George Cukor, 'Something's Got To Give' parece ter sido condenado ao fracasso porque Monroe abandonou a produção diversas vezes. Lee Remick foi escalada para substituí-la, mas foi vetada pelo ator principal, Dean Martin. Um documentário posterior mostra 37 minutos da obra inacabada.
Foto: picture-alliance/Everett Colle/20thCentFox
'Hell', experiência com cores
A icônica atriz alemã Romy Schneider deveria ter estrelado um famoso filme inacabado: 'L'Enfer' ('O Inferno'), de Henri-George Clouzot (1964). A produção se tornou um pesadelo, inclusive porque Clouzot teve um infarto. Posteriormente, o diretor usou alguns takes sensacionais de Schneider em seu último filme. Em 2009, foi lançado um documentário explorando por que 'O Inferno' nunca foi finalizado.
Foto: Kinowelt
Jerry Lewis e os palhaços chorões
De Jerry Lewis, 'The Day the Clown Cried' é um dos projetos mais misteriosos da história do cinema. O objetivo era narrar uma história da Alemanha nazista por meio do humor. O comediante americano dirigiu e estrelou o drama de 1972. Apesar de finalizado, o filme nunca foi exibido publicamente devido a problemas legais e à insatisfação de Lewis com o resultado.
Foto: STF/AFP/Getty Images
A megalomania de Francis Ford Coppola
Francis Ford Coppola também trabalhou em vários projetos que nunca avançaram. Entre eles, 'Megalópolis', de 1984 – o script de 200 páginas sobre uma disputa entre um arquiteto e um prefeito em relação ao futuro de Nova York nunca foi transformado em filme.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Rebours
Sonho não realizado: 'Leningrado'
Nos anos 1980, o diretor italiano Sergio Leone, habituado a épicos (a foto o mostra no set de filmagens de 'Era uma vez no Oeste' em 68), queria filmar uma obra sobre o cerco dos nazistas a Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial. O filme nunca foi realizado, uma vez que o diretor morreu em 1989, aos 60 anos, devido a problemas cardíacos.
Foto: picture-alliance/dpa/Cinecitta Press Office
Alfred Hitchcock e mais sonhos frustrados
Até o "mestre do suspense" Alfred Hitchcock não conseguiu finalizar todas as suas ideias. No final dos anos 1950, ele queria filmar 'No Bail for the Judge' (algo como 'Sem fiança para o juiz'), baseado no livro homônimo de Henry Cecil. Estrelado por Audrey Hepburn, o filme era sobre um juiz acusado de assassinar uma prostituta. Mas houve problemas, Hepburn recuou e Hitchcock tocou outros projetos.
Foto: Imago/Granata Images
Final feliz: 'The Man Who Killed Don Quixote'
As filmagens do lendário projeto sobre Dom Quixote, de Terry Gilliam, começaram em 2000, apenas para serem adiadas e interrompidas repetidamente por uma série de razões. Com o passar dos anos, os atores e até a história mudaram. O filme finalmente estreou nas telas de cinema no Festival de Cannes de 2018.
Foto: Diego Lopez Calvin/Tornasol Films/Carisco Producciones