Medo de contrair a doença cresce entre jogadores e torcedores, levando ao cancelamento de jogos das eliminatórias ou mesmo à desistência de participar do torneio.
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A mensagem vinda do Egito foi bem clara: ou a Costa do Marfim sedia a partida eliminatória da Copa Africana de Nações contra Serra Leoa ou a seleção do país será desclassificada do torneio, antes mesmo do início da fase de grupos.
A ordem partiu da Confederação Africana de Futebol (CAF), com sede no Cairo, e deu resultado. Nesta terça-feira (02/09), o Conselho de Segurança Nacional da Costa do Marfim anunciou que a partida eliminatória contra Serra Leoa será realizada, como planejado, neste sábado na capital Abidjan.
Há poucos dias do início das eliminatórias da Copa Africana das Nações, que começa no dia 5 de setembro, o episódio revela o crescente medo de que jogadores e torcedores das 28 seleções participantes contraiam o vírus ebola. No início de agosto, a seleção de Seychelles cancelou a partida contra Serra Leoa e desistiu do torneio.
A Costa do Marfim faz fronteira com os países mais afetados pela epidemia: Libéria, Guiné e Serra Leoa. Desde o início do surto, mais de 1.500 pessoas já morreram de ebola na região, e não se sabe exatamente a quantidade de infectados. Mas, aparentemente, a perspectiva de participar de um grande campeonato de futebol no Marrocos acabou sendo mais importante para o país.
Jogadores e torcedores em trânsito
A atual campeã, a Nigéria, também já sentiu quão grande é o medo do vírus ebola. Após casos da doença terem sido identificados em Lagos, a maior cidade do país, a seleção de Lesoto desistiu de viajar para a Nigéria para a partida contra a seleção local.
"E isso que o jogo seria realizado em Kaduna, que fica a milhares de quilômetros de distância de Lagos", comenta o jornalista esportivo nigeriano Shehu Saula. Mesmo assim, ele compreende a decisão. "Nós estamos falando de medo. Jogadores e torcedores que viriam de outros países têm medo de pegar ebola", diz.
No início de agosto, a CAF transferiu todos os jogos que seriam realizados nos países atingidos pelo ebola para Gana. "Felizmente, esses países entendem por que essas medidas foram tomadas", afirma Erick Mwanza, porta-voz da confederação.
"Claro que os jogadores sabem que eles perdem a vantagem de poder jogar em casa com a presença do público nacional", comenta. Mas a proteção também é do interesse dos atletas. Muitos jogadores da Guiné e de Serra Leoa jogam no exterior, como o guineano Ibrahima Traoré, que atua no Borussia Mönchengladbach, da Alemanha. Ele e os demais atletas ficariam expostos ao risco da infecção caso jogassem na terra natal.
Futuro da Copa Africana
A Copa Africana de Nações começa daqui a cinco meses no Marrocos. Saula acredita que o campeonato pode estar em perigo caso a epidemia de ebola não seja controlada. "É uma situação mortal. Ou controlamos a doença ou teremos de organizar um torneio ao qual muitos torcedores não poderão comparecer, e assim estádios ficarão vazios", afirma.
Para o jornalista, a CAF precisa adotar medidas drásticas para garantir a realização da Copa no Marrocos. O dirigente esportivo nigeriano Saidu Tanimu cita alguns exemplos de medidas que poderiam ser aplicadas. "A Nigéria deve examinar todas as pessoas que desejam viajar para a Copa e não deixar ninguém que apresente sintomas da doença sair do país. Além disso, controles devem ser realizados nos aeroportos do Marrocos, e suspeitos de estarem infectados devem ser proibidos de entrar no país", exemplifica.
Isso será um enorme esforço para o Marrocos. Mas o país pode estar diposto a assumir essa tarefa, pois tem mostrado grande solidariedade com os países atingidos pelo ebola. A companhia aérea estatal Royal Air Marocco (RAM), por exemplo, foi instruída a não reduzir seus voos para esses países – um caso único em todo o mundo.
Maior surto de ebola da história
A África enfrenta a pior epidemia de ebola. Não existem medicamentos ou vacina para conter a doença. Perante surto, a Organização Mundial da Saúde liberou o uso de substâncias experimentais em pacientes infectados.
Foto: Reuters
Conhecido desde 1976
O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores da Bélgica. A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. Desde então, já houve 15 epidemias nos países africanos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Foto: Reuters
Chances mínimas
Há diversas variações do vírus, e apenas algumas causam a febre hemorrágica. Ainda não há vacina ou medicamentos aprovados para combater o ebola. A doença é fatal na maioria dos casos: a taxa de mortalidade é de 90%. O diagnóstico é feito através de exames laboratoriais.
Foto: AFP/Getty Images
Sintomas
Os sintomas, que aparecem entre 2 e 21 dias após a infecção, são fraqueza, dores de cabeça e musculares, calafrios, falta de apetite, dor de estômago e de garganta, diarreia, vômitos e febre hemorrágica. As principais regiões do corpo afetadas são o aparelho digestivo, o baço e o pulmão.
Foto: picture alliance/AP Photo
Contágio
A transmissão do ebola ocorre apenas através de fluídos corporais, ou seja, deve haver contato direto entre as pessoas ou animais infectados, e também por meio do contato com ambientes contaminados. Ele se propaga, por exemplo, em hospitais, entre enfermeiros e médicos que tratam de pessoas infectadas. Além disso, pode ser transmitido ao se tocar no corpo de pessoas que morreram dessa doença.
Foto: Reuters/Unicef
De animais para humanos
Animais infectados também transmitem a doença. O ebola foi introduzido na população humana através de contato com sangue, secreções, órgãos e fluídos corporais de animais que carregavam o vírus. Morcegos, por exemplo, são hospedeiros do vírus, mas eles não adoecem e podem carregar o ebola consigo até o fim da vida.
Foto: picture-alliance/dpa
Informação é o melhor remédio
Campanhas de esclarecimentos sobre o ebola são fundamentais para conter o avanço da epidemia. A única maneira de evitar uma infecção são medidas preventivas, como melhores condições de higiene nos hospitais, uso de luvas e a quarentena.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Atual epidemia
Os primeiros casos do atual surto de ebola foram confirmados em março deste ano na Guiné. Desde então, a pior epidemia dessa doença da história já se alastrou por seis países africanos. Casos já foram registrados na Libéria, em Serra Leoa, na Guiné, na Nigéria, na República Democrática do Congo e no Senegal.
Foto: picture-alliance/dpa
Fronteiras fechadas
Os governos de Serra Leoa, Libéria e Nigéria decretaram estado de emergência devido à epidemia. O surto levou alguns países africanos a colocar em quarentena regiões fortemente atingidas pela doença. Além disso, para tentar evitar a propagação da epidemia, países como Guiné, Libéria e Costa do Marfim fecharam suas fronteiras.
Foto: Reuters
Mais de mil mortes
A OMS considerou o atual surto de ebola com o maior e pior da história. Desde março, mais de 3 mil casos da doença já foram confirmados e mais de 1.500 pessoas morrem de ebola. Entretanto, a agência teme que mais de 20 mil pessoas possam ser infectadas até que a epidemia seja controlada.
Foto: DPA
Vida em risco
No atual surto há uma elevada taxa de infecção entre profissionais de saúde que cuidam de pacientes com ebola. Mais de 240 médicos e enfermeiros já foram infectados e mais de 120 morreram. A falta de roupas de proteção e o cansaço após jornadas exaustivas de trabalho são as razões para essas infecções. Alguns deles estão recebendo o tratamento em países europeus e nos Estados Unidos.
Foto: Getty Images/Afp/Seyllou
Medicamentos experimentais
O médico americano Kent Brantly foi tratado nos Estados Unidos com o soro experimental ZMapp. Após três semanas de isolamento ele foi curado. Mas a eficácia desse medicamento é controversa. Um padre espanhol tratado com esse soro não sobreviveu. Perante a gravidade da crise, a OMS aprovou em meados de agosto a utilização de substâncias experimentais contra o ebola.