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Pró-meio ambiente

15 de março de 2009

'EcoArenas' e soluções sustentáveis em infraestrutura fazem parte da campanha por uma 'Copa verde' no Brasil em 2014. O evento no país pode ser pioneiro no mundo se optar por seguir essa filosofia.

Projeto EcoArenas prevê painéis solares como os de FreiburgFoto: AP

Enquanto o Brasil continua em suspense sobre quais serão as 12 cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 – cujo anúncio, anteriormente previsto para novembro de 2008, acaba de ser adiado uma segunda vez pela Fifa, passando para o fim de maio deste ano –, grupos que idealizam um evento pautado pela sustentabilidade fazem campanha para que o Brasil sedie a primeira "Copa do Mundo verde".

Num painel voltado para o tema na Ecogerma, feira voltada para tecnologias sustentáveis em São Paulo, os participantes falaram sobre os benefícios que o modelo traria para o Brasil e sobre projetos que poderiam tornar essa ideia uma realidade. Um deles é a proposta de transformar os 12 estádios que vão sediar os jogos em EcoArenas.

EcoArenas seriam estádios ecológicos, construídos de forma a causar o menor impacto ambiental possível, sem desperdício de materiais e com maior eficiência energética. Parte de sua demanda interna de água e energia seria suprida por painéis fotovoltaicos para captura de energia solar e por sistemas de coleta de água da chuva, que seria tratada e reaproveitada na irrigação do campo e em instalações sanitárias.

Os estádios projetados para as cidades-candidatas Brasília e Cuiabá seguem esse modelo, bem como a reforma projetada para o Estádio Jornalista Mário Filho, no Rio de Janeiro – o Maracanã. Eles foram desenvolvidos pelo escritório Castro Mello Arquitetura Esportiva, de São Paulo.

Pontos para a imagem do Brasil

"O Brasil tem a chance de fazer a maior ação coordenada de green building do mundo, e isso traria não apenas benefícios ambientais, como também seria excelente para a imagem do país", argumenta o arquiteto Vicente de Castro Mello, lembrando que também as empresas que vierem a associar seu nome à empreitada sairiam beneficiadas.

O escritório Castro Mello tem tradição no ramo esportivo: antes de ir para o ramo da arquitetura, o fundador (e avô de Vicente), Ícaro de Castro Mello, foi campeão sul-americano de salto em altura e decatlo e competiu nas Olimpíadas de 1936 em Berlim. Hoje, Eduardo e Vicente de Castro Mello, pai e filho, estão à frente da empresa – e da campanha pelas EcoArenas.

Arquitetos Vicente e Eduardo Castro MelloFoto: DW

A campanha não propõe construir os estádios da Copa 2014 do zero e sim "reciclar" as estruturas preexistentes, aproveitando a área e o campo de futebol. Em Brasília, por exemplo, o Estádio Mané Garrincha ampliaria sua capacidade de 42 mil para 71 mil lugares, em projeto orçado em R$ 522 milhões. Em Cuiabá, o estádio Governador José Fragelli seria renovado ao custo de cerca de R$ 380 milhões, ganhando capacidade para 45 mil pessoas.

Exemplo pioneiro vem de Freiburg

Um exemplo de sucesso em sintonia com as EcoArenas foi apresentado na Ecogerma. Na Alemanha, o Estádio Badenova, em Freiburg, foi pioneiro ao adotar painéis fotovoltaicos em sua cobertura, que hoje suprem 50% de sua demanda energética. O modelo serviu de exemplo para a construção de outros estádios, como os de Bielefeld, Nurembergue e Kaiserslautern – esses dois últimos chamaram atenção para a ideia ao sediarem jogos da Copa 2006.

A instalação dos painéis para captar energia solar no Badenova, financiada por cerca de mil investidores privados, custou 2 milhões de euros. O estádio tem capacidade para 25 mil pessoas. Segundo Erick Möck, da Badenova (a principal fornecedora de energia em Freiburg), os custos pulariam para cerca de 20 milhões de euros num projeto de dimensões maiores – como no Maracanã, exemplifica. Mas ele diz que projetos de grande porte são até mais viáveis, porque o investimento dá mais retorno quando se tem superfícies maiores.

Além disso, é muito mais atraente para uma empresa multinacional participar de um projeto com uma visibilidade dessas. Se eu fosse dono do Maracanã ou do Morumbi, eu tentaria ganhar mais dinheiro e deixaria uma grande empresa internacional patrocinar um grande painel fotovoltaico sobre meu teto", argumenta.

De acordo com as "metas verdes" da Fifa

Estádio de Nürembergue, que foi sede da Copa 2006Foto: dpa

"Além das tradicionais exigências para as cidades e os estádios que vão sediar a Copa do Mundo, a Fifa estabeleceu a partir da Copa da Alemanha o programa dos Green Goals, uma lista de metas verdes para tornar o evento mais sustentável. A iniciativa trata de temas como a utilização de fontes de energia renováveis, relatórios de impacto ambiental, neutralização de carbono e oferta de transportes menos poluentes.

"A idéia dos Green Goals começou a tomar corpo na Copa da Alemanha e estamos aplicando seus princípios na África do Sul. Mas acreditamos que a primeira grande aplicação deste caderno de encargos vai ser no Brasil em 2014", diz Robson Kalil, sócio da empresa Deloitte na área de gestão de riscos empresariais. "O país já vem buscando padrões de comportamento sustentáveis com muita seriedade, e a Copa vai entrar como um catalisador nesse processo todo, acelerando o movimento que hoje já é perceptível."

Investimentos para ficar

Sergio Boanada, diretor regional da Siemens para o Rio de Janeiro, afirma que o Brasil é um dos países mais propícios para a realização de uma 'Copa verde' devido a suas características. "Vai estar em nossas mãos fazer dela um sucesso, e isso depende dos investimentos que decidirmos realizar."

Investimentos para uma Copa sustentável incluiriam ampliar o transporte sobre trilhos em detrimento do sobre rodas; projetar prédios ecologicamente corretos; fazer projetos que contemplem o uso de iluminação natural; e utilizar equipamentos que economizem energia.

"Se os investimentos forem feitos da forma correta, pensando em suas aplicações futuras e contando com o apoio da sociedade, 100% dos investimentos ficarão como legado para depois”, diz ele. "Nenhum de nós quer um investimento apenas para os 30 dias da Copa. É um evento para o futuro do país", afirma Boanada.

Autor: Júlia Dias Carneiro
Revisão: Alexandre Schossler

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