Economia alemã fica estagnada no segundo trimestre
29 de julho de 2022
Reflexos da pandemia, guerra na Ucrânia, inflação e altos preços de energia são alguns dos fatores que frearam crescimento entre abril e junho. Analistas alertam que país pode estar a caminho de uma recessão.
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Maior economia da Europa, a Alemanha estagnou no segundo trimestre deste ano. De acordo com informações divulgadas nesta sexta-feira (29/07) pelo Departamento Alemão de Estatísticas (Destatis), o Produto Interno Bruto (PIB) do país permaneceu inalterado em relação aos três primeiros meses do ano, quando houve crescimento de 0,8%.
Entre as principais razões estão as atuais difíceis condições econômicas globais resultantes da pandemia de covid-19, bem como os problemas nas cadeias de abastecimento e o aumento de preços em meio à guerra na Ucrânia.
Segundo o relatório do Destatis, o que garantiu que a economia alemã não tivesse resultado negativo foi o consumo privado e os investimentos governamentais. Por outro lado, um maior equilíbrio entre importações e exportações empurrou o resultado rumo à estagnação.
A guerra na Ucrânia, por sua vez, agravou problemas que já afetavam a economia alemã, a exemplo do aumento dos preços de energia e as dificuldades de fornecimento para a indústria. Ao mesmo tempo, a inflação mais alta das últimas décadas também tem afetado o consumo interno, um fator importante na Alemanha.
Pesquisadores da GfK, empresa alemã de estudos de mercado, afirmam que os hábitos de compra mudaram consideravelmente, com parte da população contando os centavos para adquirir produtos do dia a dia, como alimentos e cosméticos.
"Além das preocupações com a ruptura das cadeias de abastecimento, a guerra na Ucrânia e o forte aumento dos preços da energia e dos alimentos, teme-se agora que o abastecimento de gás seja insuficiente para a indústria e para as casas no próximo inverno", afirma Rolf Bürkl, especialista em consumo da GfK.
O vice-chanceler federal e ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, comentou os resultados dizendo que muitos dos problemas têm sido ignorados há um tempo por líderes alemães. Ele também observou que a Alemanha não prestou atenção suficiente à escassez de mão de obra e à flexibilização de regras para implementação e aprovação de projetos.
Habeck afirmou ainda que os preços mais altos do gás têm prejudicado tanto empresas quanto consumidores. E disse que vai pedir para a Comissão Europeia revisar leis para empresas que fazem uso intensivo de energia, argumentando que as atuais são muito rígidas.
Recessão a caminho?
Segundo previsões da Comissão Europeia, a Alemanha crescerá apenas 1,4% neste ano. O Fundo Monetário Internacional (FMI), no entanto, prevê um crescimento de apenas 1,2% para 2022.
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Em comparação a 2021, a economia alemã cresceu 1,5% no segundo trimestre deste ano. Naquela época, porém, o impacto da pandemia de covid-19 ainda era muito mais evidente.
Os dados, portanto, não são animadores. Especialistas já preveem que a Alemanha pode estar a caminho de uma recessão.
De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas (IFO) da Universidade de Munique, um levantamento com 9 mil companhias alemãs apontou que o nível de confiança empresarial – atual e para os próximos seis meses – é o mais baixo em dois anos.
"A Alemanha está à beira de uma recessão. Os preços mais altos da energia e a temida escassez de gás estão pesando na economia", disse o presidente do IFO, Clemens Fuest.
Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank, acredita que a economia alemã já está se contraindo. A questão é observar o quanto ela vai se contrair, o que depende em grande parte, segundo Krämer, do presidente russo Vladimir Putin.
"Se tivermos uma parada completa nas remessas de gás, uma recessão profunda pode ser inevitável", destaca.
gb/ek (DPA, ots)
A desigualdade econômica na União Europeia
As diferenças nos padrões de vida entre países da União Europeia são extremas. Mas, dependendo de como a riqueza é medida, há algumas surpresas – até quando se trata das nações em crise do bloco.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kalker
Bulgária: salários baixíssimos
A Bulgária é considerada o país mais pobre da União Europeia e também aquele onde a corrupção é mais generalizada no bloco. Segundo a Germany Trade and Invest (GTAI), a renda bruta média em 2018 foi de apenas 580 euros por mês. Desde que o país ingressou na UE, vários jovens búlgaros deixaram sua terra natal, sendo muitos deles profissionais qualificados.
Foto: BGNES
Romênia: o penúltimo lugar no ranking econômico da UE
Não se deixe enganar pela riqueza de cidades pitorescas cuidadosamente restauradas, como Brasov (foto), na Transilvânia. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de 11.440 euros per capita (2019), o país está, de fato, numa posição melhor do que a Bulgária (8.680 euros). Mas com um salário médio bruto de 1.050 euros em 2019, ainda fica bem atrás da Alemanha (3.994 euros).
Foto: Imago Images/Design Pics/R. Maschmeyer
Grécia: saindo de uma crise para entrar em outra
Quando o país estava apenas começando a se recuperar dos efeitos da crise da dívida, em grande parte graças ao turismo dos últimos anos, veio a crise do coronavírus. Ainda que tenha um PIB per capita de cerca de 17.500 euros - aproximadamente o dobro do da Bulgária -, o país é considerado pobre se comparado à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/VisualEyze
França: país de proprietários de imóveis
Quando o assunto é riqueza média, os franceses estão muito à frente dos alemães. Com um patrimônio líquido de 26.500 euros (2018) per capita, os franceses possuem quase 10.000 euros a mais, de acordo com dados da Allianz, em parte devido à baixa participação imobiliária dos alemães. Na França, muitos chegam a ter até uma segunda casa no interior.
Foto: picture alliance/prisma/K. Katja
Itália: sem crescimento e altas dívidas
Entre os países europeus, a Itália foi particularmente atingida pela covid-19, com a cidade de Bérgamo rendendo manchetes como o epicentro da pandemia. Após cerca de duas décadas de estagnação econômica, o país é hoje um dos que defendem a distribuição de ajuda devido à pandemia entre os membros da UE. Com um PIB de 29.610 euros (2018) per capita, a Itália fica pouco abaixo da média do bloco.
Foto: AFP/P. Cruciatti
Espanha: o pavor de uma segunda onda
Após um forte aumento nas infecções por covid-19, as autoridades da Catalunha reimpuseram limitações de circulação em julho. O país é extremamente dependente do turismo, que representa cerca de 15% do PIB. Com uma produção econômica per capita de 26.440 euros (2018), a Espanha fica abaixo da média da UE, de pouco menos de 31.000 euros.
Foto: Reuters/N. Doce
Suécia: muita prosperidade, altos impostos e sem confinamento
A Suécia resolveu enfrentar a crise do coronavírus sem lockdown, o que, em comparação com seus vizinhos, acabou provocando muitas mortes. Com um PIB de 46.180 euros per capita, a Suécia fica em quinto lugar na Europa, atrás de Luxemburgo, Irlanda, Dinamarca e Holanda. Apesar dos altos impostos, os suecos ficaram à frente dos franceses em 2018, com um patrimônio líquido de 27.511 euros.
Foto: imago images/TT/J. Nilsson
Países Baixos: riqueza e produção econômica elevadas
Ao lado da Suécia, Dinamarca e Áustria, os holandeses estão entre os países que rejeitam transferências bilionárias sem contrapartida de reformas para países como a Itália. Com um PIB de 46.800 euros per capita (2019) e um patrimônio líquido de mais de 60.000 euros per capita (2018), eles estão no topo do ranking da UE.
Foto: picture-alliance/robertharding/F. Hall
Alemanha: uma nação rica, mas os cidadãos nem tanto
Até agora, o país tem contornado a pandemia com sucesso. Os custos econômicos, no entanto, são enormes: as exportações caíram, e muitas empresas lutam para sobreviver. Detentora da maior economia da UE, a Alemanha teve um PIB de 41.340 euros (2019) per capita. Em 2018, porém, os alemães possuíam um patrimônio líquido de apenas 16.800 euros per capita - metade do observado na Itália.