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Economia da China passará a dos EUA ou já atingiu seu pico?

Nik Martin
11 de julho de 2024

Economistas adiaram suas projeções de quando a China se tornará a maior economia do mundo. A covid-19, a crise imobiliária e o envelhecimento da população prejudicaram a rota de crescimento do país.

Bandeira da China com guindastes portuários ao fundo
China tenta diminuir dependência das exportações aumentando gastos domésticosFoto: Daniel Berehulak/Getty Images

A perspectiva de a China superar os Estados Unidos e se tornar a maior economia do mundo tem sido há décadas tematizada por formuladores de políticas e economistas. O que acontecerá, se questionam, quando os EUA – uma das economias mais dinâmicas e produtivas – forem usurpados por um regime autoritário com uma força de trabalho de três quartos de um bilhão de pessoas?

As previsões de quando exatamente a China roubaria a coroa dos EUA têm sido frequentes desde a crise financeira de 2008/9, que por muitos anos prejudicou o crescimento nos EUA e na Europa. Antes do que ficou conhecido como a Grande Recessão, a China registrou por pelo menos cinco anos um crescimento anual de dois dígitos do produto interno bruto (PIB). Na década seguinte à crise, a economia chinesa ainda se expandiu entre 6% e 9% ao ano. Isto é, até a chegada da covid-19.

Como se já não bastasse a pandemia, que levou a medidas rígidas de confinamento que afetaram a economia, a potência asiática também mergulhou em um colapso imobiliário. Em seu auge, o mercado imobiliário foi responsável por um terço da economia da China. No entanto, as regras introduzidas por Pequim em 2020 impuseram limites ao volume de dívidas que as incorporadoras imobiliárias poderiam assumir. Muitas empresas faliram, deixando um número estimado de cerca de 20 milhões de casas inacabadas ou atrasadas, que não foram vendidas.

Na mesma época, o declínio das relações comerciais com o Ocidente também enfraqueceu o crescimento da segunda maior economia do mundo. Depois de incentivar a ascensão da China por décadas, no final da década de 2010, os EUA passaram a conter as ambições econômicas e militares de Pequim, mesmo que apenas para atrasar o avanço inevitável.

Economia da China atingiu seu pico?

A aparente mudança de sorte da economia chinesa foi tão acentuada que um novo termo surgiu há cerca de um ano: "pico da China". A teoria é de que a economia chinesa estava agora sobrecarregada por muitos problemas estruturais, como uma dívida pesada, a desaceleração da produtividade, o baixo consumo e o envelhecimento da população. Essas fraquezas, juntamente com as tensões geopolíticas sobre Taiwan e a dissociação do comércio pelo Ocidente, provocaram especulações de que a iminente supremacia econômica da China poderia ser adiada ou nunca acontecer.

Após novas regras em 2020, muitas imobiliárias faliram, travando construção de cerca de 20 milhões de imóveisFoto: CFOTO/picture alliance

Mas Wang Wen, do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China, disse à DW que a noção de pico da China é um "mito", acrescentando que a produção econômica total da China atingiu quase 80% da produção dos EUA em 2021.

Wang disse que, enquanto Pequim mantiver a "estabilidade interna e a paz externa", a economia chinesa logo ultrapassará a dos EUA. Ele citou o desejo de milhões de chineses da zona rural de se mudarem para as áreas urbanas, onde os ganhos e a qualidade de vida são supostamente muito mais altos.

"A taxa de urbanização da China é de apenas 65%. Se for calculada em 80% no futuro, isso significa que mais 200 a 300 milhões de pessoas entrarão nas áreas urbanas, o que gerará um enorme aumento na economia real", disse ele.

Alta da produtividade "desapareceu"

Outros economistas, no entanto, acreditam que os problemas que desencadearam a narrativa do "pico da China" provavelmente estavam sendo construídos há vários anos.

"A economia chinesa cresceu tão rapidamente no início dos anos 2000 por causa da alta produtividade", disse Loren Brandt, professor de economia da Universidade de Toronto, acrescentando que a produtividade foi responsável por cerca de 70% do crescimento do PIB durante as três primeiras décadas de reforma na China, iniciadas em 1978.

"Após a crise financeira, o crescimento da produtividade simplesmente desapareceu. Agora, talvez seja um quarto do que era antes de 2008", acrescentou o especialista em economia chinesa.

Enquanto o Partido Comunista da China se prepara para sua reunião mais importante do ano, o país enfrenta vários ventos econômicos contrários de curto prazo.

As dívidas totais da China aumentaram para mais de 300% do PIB. Uma grande parte é de propriedade dos governos locais. O investimento estrangeiro direto caiu por 12 meses consecutivos, diminuindo 28,2% somente nos primeiros cinco meses de 2024. Apesar dos enormes investimentos para impulsionar a produção de novas tecnologias, alguns dos parceiros comerciais de Pequim estão restringindo as importações chinesas.

"Aqui está uma economia que investiu enormemente em [pesquisa e desenvolvimento], pessoas e infraestrutura de primeira classe. Mas isso não está sendo aproveitado de uma forma que ajude a sustentar o crescimento da economia", disse Brandt.

Efeitos da tomada de poder de Xi Jinping

Pequim, sob o governo do presidente Xi Jinping, também avançou em direção a uma maior centralização da economia por meio da propriedade estatal de indústrias. Os líderes da China decidiram que a próxima onda de crescimento seria construída com base no consumo interno, permitindo que o país dependesse menos das exportações estrangeiras.

Entretanto, muitos programas sociais não acompanharam o ritmo do milagre econômico da China. Os consumidores – que não podem mais contar com assistência médica de baixo custo, educação e mais do que uma pensão básica do Estado – estão receosos de gastar mais de suas economias. A riqueza de suas famílias caiu em até 30% como resultado do crash imobiliário, de acordo com Brandt.

Diante das restrições às exportações dos EUA, a China está aumentando sua própria fabricação de chipsFoto: picture alliance / Chu Baorui / Costfoto

"[A descentralização] durante as primeiras duas ou três décadas deu espaço para que os governos locais tomassem decisões", acrescentou. "A China se beneficiou enormemente da autonomia, da liberdade e dos incentivos que tinha, além do enorme dinamismo do setor privado. Esses problemas serão muito mais difíceis de reverter, especialmente sob a liderança atual."

No final dos anos 2000, o setor privado representava cerca de dois terços da economia chinesa, mas no primeiro semestre do ano passado, essa participação caiu para 40%. O setor estatal e de propriedade mista cresceu muito mais. Embora a China tenha agora o maior número de empresas listadas na classificação das principais corporações globais da revista Fortune, essas empresas são muito menos lucrativas do que suas contrapartes americanas, com margens de lucro médias de 4,4%, em comparação com 11,3% das multinacionais americanas.

O novo Japão?

O grande temor é que todos esses fatores possam fazer com que a economia da China siga o caminho do Japão. Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão viveu um milagre econômico, marcado por décadas de alto crescimento que causou uma enorme bolha no mercado de ações e no setor imobiliário.

No auge desse milagre econômico, alguns economistas previram que o Japão ultrapassaria os EUA como a maior economia do mundo. Então, em 1992, a bolha estourou, fortunas foram perdidas, e a economia entrou em colapso. Desde então, o Japão não conseguiu compensar as várias décadas de crescimento perdido.

Enquanto isso, os economistas chineses apontam que o PIB industrial do país já é duas vezes maior do que o dos EUA. O crescimento do PIB do ano passado, de 5,2%, foi mais do que o dobro da taxa de crescimento dos EUA. A economia do país asiático já ultrapassou a dos EUA em 2016 quando medida em paridade de poder de compra (PPC).

"Nos últimos 45 anos, o desenvolvimento da China enfrentou muitos problemas econômicos", ressaltou Wang. "Mas, em comparação com a depressão de 30 anos atrás, a alta dívida de 20 anos atrás e o crash imobiliário de 10 anos atrás, o problema atual não é o mais grave."