Economista afirma que Alemanha é país mais desigual do euro
Luisa Frey21 de março de 2016
"Em nenhum outro lugar os pobres permanecem com tanta frequência pobres, e os ricos, com tanta frequência ricos", diz chefe do instituto econômico DIW, criticando distribuição de riqueza, salários e mobilidade social.
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A Alemanha é "um dos países mais desiguais do mundo industrializado", afirma o presidente do instituto econômico alemão DIW, Marcel Fratzscher, em seu livro Verteilungskampf: Warum Deutschland immer ungleicher wird (Luta por distribuição: por que a Alemanha fica cada vez mais desigual), publicado neste mês.
Fratzscher afirma que em nenhum outro país da zona do euro a desigualdade é tão grande como na Alemanha, onde os 10% mais ricos detêm dois terços da riqueza do país. A desigualdade, no entanto, não se manifesta só na distribuição de riqueza, mas também nos salários: a lacuna entre as remunerações mais elevadas e as mais baixas vem aumentando, afirma.
A mobilidade social também deixa a desejar, segundo o economista. "Em nenhum outro lugar os pobres permanecem com tanta frequência pobres, e os ricos, com tanta frequência ricos", critica. De acordo com Fratzscher, 70% dos filhos de pais com formação superior vão para a universidade, enquanto que, entre os filhos de pais com um nível menor de escolarização, a taxa é de 20%.
Questionado pelo jornal Die Zeit sobre sua interpretação incomum dos dados econômicos do país, Fratzscher afirmou que o problema está nos outros economistas. "Minha suposição: eles acreditam que a desigualdade pertence a uma economia de mercado em bom funcionamento, porque ninguém mais iria se esforçar se todos ganhassem o mesmo", disse.
Alimentando o planeta
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Para o presidente do DIW, a desigualdade na Alemanha é alta não porque a economia de mercado funciona bem, mas porque ela não funciona. "Eu não quero fazer os ricos ficarem mais pobres, mas os pobres ficarem mais ricos."
Fratzscher afirma que, nos últimos anos, o governo alemão aumentou a ajuda social para compensar a crescente desigualdade salarial, com trabalhadores que ganham pouco tendo a renda complementada pelo Estado.
"Ludwig Erhard, o pai da economia social de mercado, disse certa vez que o Estado deve garantir que todos possam cuidar de si mesmos com as próprias forças e possibilidades. Se as pessoas só conseguem sobreviver com a ajuda de auxílio social, isso contradiz tal ideal", disse o economista ao Die Zeit. "Precisamos garantir que as pessoas possam viver de seus salários, em vez de serem dependentes do Estado."
Para Fratzscher, uma das soluções-chave seria o governo investir em educação. Apoio desde a creche, boas condições de aprendizado e uma melhor qualificação permitiriam que também os mais vulneráveis economicamente pudessem avançar por conta própria, diz o economista, citado pelo jornal Tagesspiegel.
Discrepância entre regiões
O aumento da distância entre ricos e pobres e entre diferentes regiões da Alemanha também é destacado num estudo atual da Fundação Friedrich Ebert. "As disparidades regionais estão se solidificando na Alemanha e, em parte, até aumentando", afirma o documento.
Os pesquisadores analisaram 20 indicadores relacionados à remuneração, educação e estrutura etária, por exemplo, em mais de 400 localidades do país.
Ainda há uma lacuna entre o leste e o oeste, herança da divisão entre Alemanha Oriental e Ocidental. "Passado um quarto de século da Reunificação Alemã, o país ainda não é unitário em termos econômicos e demográficos", afirma o estudo.
O leste da Alemanha apresenta um desenvolvimento abaixo da média, e a diferença entre leste e oeste, existente desde a Reunificação, voltou a aumentar nos últimos anos, aponta o documento. Em muitas áreas da antiga Alemanha Oriental, a renda familiar média é de 1.315 euros, enquanto que em regiões no sul e no oeste, ela chega a até 3.294 euros.
Além da diferença entre leste e oeste, há também uma discrepância entre o norte e o sul. Não apenas áreas da antiga Alemanha Oriental dependem de regiões fortes do sul do país, mas também do oeste e do norte. Já os estados da Baviera e de Baden-Württemberg, no sul, são particularmente bem-sucedidos.
Outro aspecto apontado pela Fundação Friedrich Ebert é que o leste da Alemanha está envelhecendo rapidamente, enquanto sobretudo regiões prósperas do sul do país e nos arredores de Hamburgo, no norte, têm mais crianças.
História e luxo em dez ruas famosas da Alemanha
Algumas eram importantes rotas de comércio, outras foram construídas para ostentar riqueza e poder. Históricas zonas de pedestres e avenidas imponentes são um convite para passear e gastar dinheiro.
Foto: picture-alliance/dpa
Sal valioso
Os nomes de algumas ruas da Alemanha revelam quão antigas elas são. A primeira menção à Salzstrasse (Rua do Sal) de Münster data do século 14: na Idade Média o sal era tão precioso que valia a pena transportá-lo por grandes distâncias. Hoje ela é uma avenida comercial de 500 metros de extensão no centro histórico da cidade, rodeada por marcos como a Igreja de São Lamberto, em estilo gótico tardio.
Foto: picture-alliance/dpa
Ponte ou avenida?
Como indica o nome, a Krämerbrücke de Erfurt é uma ponte. Mas como é ladeada de casas, ela mais parece uma rua. Integrando a medieval Via Régia, a Ponte Krämer se situa numa antiga rota comercial importante, entre a Espanha e a Rússia. Hoje pequenas butiques de artesanato tradicional povoam o mais famoso ponto turístico da capital da Turíngia, no Leste alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Camadas subterrâneas de história
Grande parte das ruas de pedestres da Alemanha representa uma miscelânea de épocas, entre paralelepípedos, velhas fachadas e letreiros de neon. Quem hoje faz compras na Hohe Strasse (Rua Alta) de Colônia, dificilmente se dará conta que ela data do Império Romano. Porém, sob a moderna zona comercial, a até seis metros de profundidade, encontram-se restos da rota romana de comércio norte-sul.
Foto: picture-alliance/dpa
Arte e compras
Depois de ser coroado em 1806 por Napoleão, o rei Frederico 1º de Württemberg expandiu sua residência em Stuttgart. Hoje a Königstrasse (Rua do Rei) se estende por ambos os lados do palácio: uma zona de pedestres onde os turistas podem aproveitar os prazeres da arte e do consumo. Um museu de arte foi construído em 2005 à direita da vila de Frederico 1º.
Foto: picture-alliance/dpa
Ver e ser visto
A Königsallee (Alameda do Rei) de Düsseldorf é o lugar certo para quem quer aparecer. Ela recebeu esse nome em 1848, quando o rei da Prússia Frederico Guilherme 4º, em visita à cidade renana, foi recebido pelos moradores com insultos e estrume de cavalo. Porém a revolução popular fracassou, e a Kastanienallee foi rebatizada para abrandar o velho regente. Hoje ela é uma rua comercial de luxo
Foto: picture-alliance/dpa
Richard Wagner e grifes exclusivas
Só mesmo os mais ricos podem dar-se ao luxo de fazer compras na Maximilianstrasse de Munique, considerada a rua mais cara do país. Construída pelo rei Maximiliano em meados do século 19, ela foi cercada de edifícios evocando épocas passadas, do neogótico ao renascimento. À esquerda, na foto, vê-se a Ópera Estatal Bávara, onde foram estreadas nada menos do que cinco obras de Richard Wagner.
Foto: Andreas Praefcke
Da política ao consumo de luxo
A Kurfürstendamm (Avenida do Príncipe Eleitor) de Berlim foi um tradicional palco político, inclusive nos protestos estudantis de 1968. Após a Reunificação alemã em 1990, ela perdeu algo de sua aura histórica, mas atrai os turistas atrás de grifes famosas. Medindo 3,5 quilômetros, a "Ku'damm" foi construída no fim do século 19 como objeto de prestígio para o chanceler Otto von Bismarck.
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Tílias turísticas
A Unter den Linden (Sob as Tílias) é um dos bulevares mais famosos da Europa, e o mais antigo da capital alemã. Antiga estrada para cavalos entre o Palácio da Cidade e o parque Tiergarten, com 1,5 quilômetro de extensão, ela foi inaugurada no século 17. Seu nome se deve aos pés de tília que a flanqueiam. Ela é o itinerário turístico preferido entre o Portão de Brandemburgo e a Ilha dos Museus.
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Antigos limites da cidade
A Zeil é a principal rua de comércio de Frankfurt. Seu nome data da Idade Média: onde hoje as multidões flanam diante das vitrines, costumava estar a última fileira ("Zeile") de casas antes da muralha da cidade. Assim como várias outras avenidas alemãs, ela foi recentemente reformada. O shopping MyZeil foi completado em 2009.
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Demolir para renovar
Com apenas 100 anos, a Mönckebergstrasse (ou "Mö"), mais imponente bulevar de Hamburgo, foi batizada em honra do prefeito que mandou demolir a parte histórica medieval para construir uma importante rua de compras entre a Prefeitura (centro da foto) e a estação ferroviária central.