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Edição comentada de "Minha luta" chega às livrarias

8 de janeiro de 2016

Manifesto de Hitler volta a ser publicado 70 anos após morte do autor, em edição crítica comentada por historiadores. Direitos autorais da obra caíram em domínio público no começo deste ano.

Edição publicada pelo Instituto de História Contemporânea, de MuniqueFoto: Institut für Zeitgeschichte

O livro mais controverso da história alemã, Minha luta (Mein Kampf), de Adolf Hitler, volta a ser publicado nesta sexta-feira (08/01) na Alemanha, 70 anos após a morte do ditador, em uma edição crítica comentada que já provoca controvérsia.

A nova edição está sendo lançada pelo Instituto de História Contemporânea (IfZ, na sigla em alemão), baseado em Munique, após um minucioso trabalho de análise realizado por historiadores desde 2009. A primeira tiragem é de 4 mil exemplares, mas, segundo a editora, mesmo antes da publicação 15 mil pedidos antecipados haviam sido feitos.

Após a Segunda Guerra Mundial, o governo dos EUA passou os direitos da obra ao estado alemão da Baviera, o qual proibia novas impressões na Alemanha. No país, os direitos autorais expiram 70 anos após a morte do autor, e, no caso de Hitler, isso aconteceu no dia 1° de janeiro, quando o livro caiu em domínio público. Entretanto, os secretários de Justiça dos 16 estados alemães decidiram que a publicação de cópias não comentadas de Minha luta continua proibida.

Editada em dois volumes, a versão comentada tem cerca de 2 mil páginas, quase o dobro do original, incluindo introdução, índice e cerca de 3.500 comentários de estudiosos criticando, explicando e refutando a ideologia do ditador nazista.

O trabalho pretende "desconstruir e contextualizar o que Hitler escreveu". Com preço de 59 euros, a edição, segundo os editores, analisa questões históricas, entre elas, sobre como Hitler concebia suas teses, que objetivos ele tinha e, conforme ressalta do IfZ, "o mais importante: que contra-argumentos temos, dado nosso conhecimento atual sobre as propostas, mentiras e alegações de Hitler".

O diretor do projeto, Christian Hartmann, explica que a edição comentada explica aspectos importantes de um livro que, embora proibido, sempre circulou livremente pelo mundo.

Edição histórica: impressão de cópias não comentadas continua proibida na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/D. Karmann

"O livro sempre existiu. Na verdade, sempre houve formas de obtê-lo. Ele pode ser encontrado em sebos ou na internet. Os direitos de tradução para o inglês foram vendidos em 1933, e o livro é traduzido em muitas línguas", observa. "Comparo nosso trabalho com o de especialistas em desativar bombas. Também somos, de alguma forma, desativadores de bombas, que fazem com que os vestígios da era nazista passem a ser inofensivos."

A ministra alemã da Educação, Johanna Wanka, e a Federação Alemã de Professores defendem o uso da edição comentada nas escolas. "A manipulação profissional de fragmentos em sala de aula pode ser uma contribuição importante para imunizar os jovens contra o extremismo político", diz o diretor da federação, Josef Kraus.

"Ninguém pode prever os efeitos que terá"

No entanto, também há vozes críticas à republicação, como é o caso de Charlotte Knobloch, presidente da comunidade judaica de Munique. "O livro é uma caixa de Pandora", define. "Ninguém pode prever os efeitos que terá."

No exterior, não existem preocupações desse tipo. Cópias traduzidas do manifesto hitlerista já foram lançadas e vendidas em quase todos os idiomas – à revelia da propriedade do estado alemão da Baviera. É possível encontrar Minha Luta até mesmo em livrarias de Israel, tanto em alemão quanto em hebraico.

Na Turquia, por exemplo, o livro, classificado como "um clássico da literatura mundial antimarxista", alcançou o quarto lugar da lista dos mais vendidos no país em 2005.

No Brasil, a última versão foi lançada em 2005 pela editora Centauro, de São Paulo. Com uma tiragem de 2 mil exemplares, ela gerou processos judiciais contra a empresa.

MD/dpa/afp/ap

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