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Editor do maior jornal alemão é demitido por má conduta

19 de outubro de 2021

Julian Reichelt comandava o influente tabloide "Bild" e foi acusado de usar seu cargo para forçar relacionamentos sexuais com jornalistas iniciantes, que eram promovidas e substituídas sistematicamente.

Julian Reichelt
Julian Reichelt é considerado um dos jornalistas mais influentes da AlemanhaFoto: Jörg Carstensen/dpa/picture alliance

O grupo de imprensa alemão Axel Springer afirmou que demitiu o editor-chefe do tabloide Bild, Julian Reichelt, por causa de um relacionamento com uma colega do jornal, o mais vendido do país e um dos mais lidos na Europa.

Em comunicado divulgado nesta segunda-feira (18/10), a empresa justificou a medida afirmando que Reichelt "não separou claramente sua vida privada e profissional e não disse ao conselho a verdade sobre isso", acrescentando que a decisão foi tomada com base em informações obtidas "como resultado de investigações da imprensa nos últimos dias".

Mas a editora também anunciou medidas legais contra "terceiros" por liberar informações comerciais confidenciais e comunicações privadas, com o objetivo de tentar prejudicar a empresa e remover Reichelt.

O jornalista, de 41 anos, tinha sido suspenso no início deste ano como parte de investigação interna ordenada pela empresa, mas foi depois reintegrado.

A investigação fora instaurada para apurar acusações de que Reichelt havia promovido estagiárias com os quais ele teve casos e, em seguida, as demitia. "Julian Reichelt admitiu misturar relacionamentos profissionais e privados, mas negou as acusações mencionadas", disse a Axel Springer na época. A empresa reintegrou Reichelt afirmando não haver motivos que justificassem uma demissão.

Na época, Reichelt também processou a revista Der Spiegel por ter exposto o que chamou de "o sistema Reichelt", em que ele supostamente recrutava estagiárias e trainees, as promovia rapidamente e também as demitia. 

Não ficou claro quais novas alegações levaram a empresa a decidir agora pelo afastamento de Reichelt, uma das figuras mais controversas da mídia da Alemanha, que empurrou o posicionamento do Bild para a direita em alguns debates no país.

Reportagem dos EUA

Mas uma reportagem publicada pelo New York Times no domingo parece ter pressionado o grupo de mídia alemão.

Nos últimos anos, a empresa controladora Springer se expandiu internacionalmente, primeiro adquirindo o site de notícias Business Insider e comprando recentemente toda a organização de jornalismo político Politico sediada nos Estados Unidos.

O New York Times relatou que Reichelt havia promovido uma jovem jornalista a um cargo de chefia após um relacionamento entre eles.

Segundo o jornal americano, as evidências coletadas "pintam um quadro de uma cultura de trabalho que mesclava sexo, jornalismo e dinheiro da empresa", no Bild sob a liderança de Reichelt.

Reichelt disse em 2016: "Se eles descobrirem que estou tendo um caso com uma estagiária, perderei meu emprego", relatou o NYT, citando o testemunho que a mulher deu à investigação interna da Springer.

O caso Reichelt ganhou as páginas do jornal nova-iorquino em momento em que jornalistas do conglomerado de mídia alemão Ippen, ao qual pertencem veículos como o jornal Frankfurter Rundschau e Buzzfeed Deutschland, denunciam terem sido impedidos pela sua própria empresa de publicar uma reportagem sobre as práticas abusivas do editor-chefe do Bild.

A cadeira de editor no Bild agora irá para Johannes Boie, até agora editor-chefe do jornal conservador semanal da Springer Welt am Sonntag.

Fundado em 1952, o Bild aposta em uma mistura de histórias de apelo humano, esportes e notícias sobre celebridades para se tornar o jornal mais vendido da Alemanha, e ainda imprime dois milhões de cópias por dia.

md (AFP, AP)

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