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Editora desiste de publicar "Minha luta" no Brasil

Renata Malkes, do Rio14 de janeiro de 2016

Pressão de leitores faz Edipro cancelar relançamento do polêmico manifesto de Adolf Hitler, que caiu em domínio público. Outra versão, comentada, segue prevista para março pela Geração Editorial.

Propaganda do livro de Hitler durante o nazismo: relançamento divide opiniões mesmo na comunidade judaicaFoto: picture alliance/Mary Evans Picture Library

A polêmica em torno da reedição do livro Minha luta (Mein Kampf) no Brasil ganhou outro episódio nesta quinta-feira (14). Bombardeada por questionamentos de leitores insatisfeitos com a volta do manifesto nazista do ditador Adolf Hitler às prateleiras, a editora paulista Edipro decidiu suspender a impressão do livro.

A obra já estava sendo impressa na gráfica e tinha seu lançamento previsto para o fim deste mês. De acordo com a coordenadora administrativa da Edipro, Maíra Micales, a principal reclamação dos leitores era pelo fato de a obra ser uma reedição antiga, sem comentários críticos, e com uma tradução feita nos anos 1930 por Julio de Matos Ibiapina, já falecido. A tiragem inicial seria de mil exemplares.

"De fato, estávamos publicando um texto seco, sem notas, porque não tínhamos encontrado alguém que fosse conhecedor profundo do nazismo para comentar a obra com a seriedade que gostaríamos. Recebemos centenas de e-mails de leitores chateados e vimos discussões acaloradas nas redes sociais. Este nunca foi um livro sobre o qual tínhamos 100% de certeza", afirmou Maíra à DW Brasil.

Em nota, a Edipro disse que a decisão inicial de publicar Minha luta deveu-se à crença de que se trata de um documento histórico e de relevância para os estudiosos, pesquisadores e, principalmente, a comunidade acadêmica, na área de história, política e ciências sociais.

A nova edição de "Minha luta", em dois tomos, publicada com comentários na AlemanhaFoto: Institut für Zeitgeschichte

"Acreditamos na máxima que 'é importante conhecer os erros do passado, para construir uma nova história'. Todavia, devido às críticas surgidas principalmente de nossos leitores de que essa tradução, por ser antiga, não possuir comentários, interpretações ou notas explicativas, poderia ser mal entendida pelo público leitor, tendo consequências maléficas a todos aqueles que tiveram seus direitos humanos desqualificados ou vilipendiados, além de poder reacender sentimentos de ódio ou discórdia, a diretoria da editora resolveu não publicar esta obra", afirma o texto.

"Acreditamos que com a liberação ao domínio público surgirão vários trabalhos a respeito deste livro, que certamente vão melhor esclarecer sobre o mesmo e suas consequências no momento histórico mundial que ele foi escrito. A Edipro continuará com sua missão de trazer um conteúdo relevante e informativo ao seu leitor", completa o comunicado.

Cópias do livro sempre puderam ser encontradas, em sebos e, nas últimas décadas, na internet. Os direitos de publicação pertenciam ao governo da Baviera, que impedia novas edições. Ao fim de 2015, porém, quando se completaram 70 anos do suicídio de Hitler, a obra caiu em domínio público. Minha luta é dividido em duas partes. Na primeira, Hitler faz sua autobiografia, contando a trajetória rumo ao poder. Na segunda, descreve a doutrina que daria origem ao regime nazista.

A volta do manifesto nazista mobilizou também a comunidade judaica. Em entrevista à DW Brasil, o presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj) e vice-presidente da Confederação Israelita Brasileira (Conib), Paulo Maltz, dissera que advogados estão sendo acionados para verificar formas de impedir a distribuição da obra em território nacional.

Outra versão, porém, segue a caminho das prateleiras, em março. Publicada pelo grupo Geração Editorial, Minha luta terá uma edição de mil páginas – contra as cerca de 650 do manifesto original. Ainda em fase de diagramação, o livro terá 305 notas de uma edição americana de 1939, mais algumas notas da própria editora, além de textos de dois pesquisadores, Nelson Jahar Garcia, da Universidade de São Paulo, já falecido, e outro de Eliane Hatherly Paz, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio.

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