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Edson Cordeiro

Felipe Tadeu15 de abril de 2007

Álbum 'Klazz meets The Voice' marca o encontro do intérprete brasileiro de rara extensão vocal com os Klazz Brothers, da cidade de Dresden.

Músicas brasileiras em novas leituras também compõem o novo discoFoto: Sony Classical

Quem acompanha a carreira do cantor Edson Cordeiro não há de se espantar com a novidade: o nono título da discografia do artista foi lançado em primeira mão na Alemanha, país onde Edson ostenta popularidade comparável à de sua terra natal.

Klazz Meets The Voice, que a Sony Classical da Alemanha pôs nas lojas na primeira semana de abril, já estampa no título o prestígio que o intérprete nascido em Santo André, São Paulo, possui junto aos alemães. Uma afinidade que não surgiu por acaso, nem da noite para o dia.

“Gravo músicas em alemão desde o meu primeiro disco”, afirma Edson Cordeiro, que incluiu as faixas "Naturträne", de Nina Hagen, e "A Rainha da Noite", ária da ópera A Flauta Mágica, de Wolfgang Amadeus Mozart, em seu álbum de estréia, de 1992.

Agora em seu mais novo trabalho, gravado em Leipzig e tendo a seu lado o bem-sucedido trio de jazz formado por Kilian Forster no baixo, Tim Hahn na bateria e o pianista Tobias Forster, o relacionamento do artista com a cultura alemã foi aprofundado ainda mais. Além de Mozart, aparecem no repertório do disco Johann Sebastian Bach e Johannes Brahms.

Sintonia musical

O trio Klazz Brothers, fundado em 1999, vem construindo sua fama na Europa ao verter música clássica em jazz, conceito explícito no nome do grupo, que agrega os termos Klassik (de música clássica) com o gênero norte-americano jazz.

Quarteto tem afinidades estéticasFoto: Sony Classical

Antes de gravarem o novo álbum com o intérprete brasileiro, os músicos alemães já haviam se lançado em dois outros projetos com a música latino-americana, gravando Classic Meets Cuba, em 2002, e Mozart Meets Cuba, que saiu um ano depois, com o trio atuando junto aos percussionistas cubanos Alexis Herrera Estevez e Elio Rodriguez Luis. Os Brothers têm até o momento cinco títulos em sua discografia.

Klazz Meets The Voice começou a se tornar realidade quando os alemães tiveram a oportunidade de ouvir Edson pela primeira vez, cantando em seu segundo álbum, de 1994.

Os três ficaram tão impressionados com o desempenho vocal dele ao interpretar "Babalu", da compositora cubana Margarita Lecuona, que juravam que o que tinham acabado de escutar era um belo dueto de duas vozes privilegiadas. Mas não, o microfone era de um só.

"Esperei muito tempo até encontrar músicos que pensassem música como eu, e fui encontrá-los aqui, deste lado do mundo", revelou Edson Cordeiro à DW-WORLD, dias depois de sua chegada à Alemanha.

"Sempre misturei ópera com música popular", enfatizou o artista brasileiro, que se sente em grande sintonia com o ponto de vista musical do trio alemão, com quem atuou junto pela primeira vez em 2006, participando do programa televisivo Mozart-Show da emissora ARD.

Sucesso e lucidez

Edson, Kilian, Tobias e Tim estão se preparando para embarcar numa turnê que os levará primeiramente a 20 cidades da Alemanha, passando também pela Áustria. No repertório, temas como "Kiss", de Prince, "Sister Miss Celies Blues", de Quincy Jones, Lionel Richie e Rod Temperton, "Ave Maria", de Bach e "Creole Love Call", de Duke Ellington, todas elas faixas do novo álbum.

Sem esconder a empolgação de vir a cantar mais uma vez na Alemanha, Edson Cordeiro se desmancha em elogios à música do país, em suas vertentes mais distintas. "Nina Hagen e Mozart já eram influências muito grandes na minha vida antes de eu sair do Brasil", contou ele, que realizou sua primeira turnê européia em 1994.

"Nina é um mito para mim. Quando conheci o trabalho dela na minha adolescência, passei a acreditar que poderia continuar com o meu projeto, que ele poderia dar certo", revela o intérprete.

Apesar de cantar muito bem em alemão, o brasileiro não domina o idioma. "A língua nunca foi estranha para mim. Sempre quis saber o que 'A Rainha da Noite' falava, o que os discos de Nina Hagen tinham para dizer. Eu adoro Brecht e Weill, isso tudo não é um universo tão distante de mim."

Cantor é reconhecido na Alemanha como 'A Voz'Foto: Sony Classical

A música brasileira também não poderia ficar de fora do repertório do disco e dos shows que estão por vir. Composições de Tom Jobim, Waldemar Henrique e Herivelto Martins ganham leituras originais do quarteto teuto-brasileiro e até a onipresente "Garota de Ipanema", de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, coube no roteiro. Segundo o próprio Edson, a pedido dos alemães. "Certas músicas são referências importantes, elas podem ser clichê, mas também serão como o cartão-postal de um lugar."

Ainda que tenha se sentido bastante exigido no uso da voz, Edson Cordeiro gostou muito do formato final de Klazz meets The Voice: "Esse é o primeiro disco que faço diretamente para o público europeu. Metade das músicas que há no álbum são regravações de trabalhos que eu já tinha feito no Brasil. O grande desafio para mim não é passar por quatro oitavas da voz, isso é um dom, uma facilidade muscular que eu tenho. A dificuldade é passar pelos estilos. Não é só cantar 'Carmen' ou 'My Way', e sim me perguntar quem é 'Carmen', por que 'My Way'?", ensina o contratenor mais famoso do Brasil.

Com tão boa recepção na Alemanha, o artista brasileiro não perde, no entanto, a lucidez: "Tive primeiro a aprovação do meu próprio país, do meu povo, que foi maravilhoso comigo. Se não fosse isso, não teria tanta confiança para explorar outros espaços."

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