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Educar é a base

14 de março de 2009

No Brasil, até 70 mil toneladas dos alimentos plantados no país são jogadas, por ano, no lixo. O índice preocupa especialistas europeus e faz brasileiros pensarem na educação como alternativa para amenizar o problema.

Painelistas do seminário sobre a Segurança Alimentar no MundoFoto: DW/Eidt

Em apenas um ano, o número de pessoas que passam fome no mundo aumentou de 832 para 963 milhões. A cifra, divulgada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), revela uma crise no setor, refletida tanto na alta dos preços quanto na falta de alguns gêneros alimentícios nos mercados mundiais.

No seminário sobre segurança alimentar no mundo promovido pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) em Bonn, especialistas da Ásia, África e América Latina trocaram ideias sobre o tema.

Do evento também participaram professores de universidades brasileiras, vindos à Alemanha especialmente para os debates. Na opinião dos docentes, educação e mudança de hábitos são fundamentais para contornar a atual crise dos alimentos.

Problema é antigo

Elena Blume e Álvaro César Camargo do AmaranteFoto: DW/Eidt

Segundo o professor de Engenharia de Alimentos e diretor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Álvaro César Camargo do Amarante, o alto índice de desperdício é uma das questões que deve ser atacada.

"Esse problema não é novo. Há 20, 30 anos perdia-se de 20% a 30% das mercadorias no caminho do produtor até o consumidor final. E esse percentual continua elevado até hoje, inclusive nos países desenvolvidos", lembra.

A falta de conhecimento de quem lida com os produtos e a precária infraestrutura de armazenamento e transporte são fatores que contribuem para a manutenção do índice.

"Muitas pessoas não sabem, mas quando um fruto cai no chão ele fica 'machucado', o que o deixaria suscetível à ação de agentes externos, como fungos e insetos. Sem os devidos cuidados, parte da produção acaba sendo inutilizada", explica a professora de fitopatologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS), Elena Blume.

Aja localmente, pense globalmente

Renar João BenderFoto: DW/Eidt

Para os especialistas brasileiros, tudo se resume à educação. "Caso a pessoa soubesse das doenças que o fruto poderia devolver com a queda, possivelmente o manusearia com mais cuidado. Isso se aplica inclusive a supermercados, onde os funcionários recebem caixas de alimentos e precisam levá-las de um lado a outro", declarou Blume.

A mesma opinião é compartilhada pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Renar João Bender.

"Uma pessoa que deseja adquirir uma mesa de madeira maciça vai comprá-la, sem se preocupar com questões ambientais. No entanto, quando vê na televisão reportagens sobre o desmatamento na Amazônia, é uma das primeiras a apontar os culpados", exemplifica o professor, que complementa: "Nossa ação não está desconectada do resto do mundo".

Mudanças de hábito

Neste contexto, as mudanças de hábito, tanto de consumo quanto de deslocamento, tornaram-se fundamentais no combate a qualquer crise, alertam os docentes.

"Os brasileiros, em especial, deixam-se levar muito pelas aparências. Caso em um mercado fossem colocados lado a lado dois tipos de maçãs: uma pequena – produzida de maneira menos agressiva do ponto de vista ambiental – e outra maior, mais brilhosa – que provavelmente precisou de mais pesticidas – certamente a mais vendida seria a maior", garante Blume.

Entretanto, conscientizar a sociedade não é tarefa fácil. A alternativa, na opinião dos especialistas, seria preparar os professores do ensino fundamental para que educassem seus alunos desde as primeiras séries nesse sentido. "A educação é a chave para combater o problema", afirma Blume.

Conforme a FAO, no Brasil, 64% do que é plantado acaba no lixo. Além da infraestrutura precária no armazenamento e transporte, o índice se deve também à falta de sensibilidade dos consumidores, que muitas vezes compram mais do que consomem.

Autora: Caroline Eidt
Revisão: Augusto Valente

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