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Efeitos da crise migratória são maiores medos dos alemães

5 de setembro de 2019

Pesquisa aponta que mais da metade da população da Alemanha teme tensões sociais devido ao grande número de migrantes que o país recebeu nos últimos anos e que o Estado esteja sobrecarregado por causa disso.

Migrantes fazem fila na fronteira da Áustria com a Alemanha, no auge da crise migratória na Europa, em 2015
Migrantes fazem fila na fronteira da Áustria com a Alemanha, no auge da crise migratória na Europa, em 2015Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert

Trata-se de uma das poucas palavras que saltaram do vocabulário alemão para o inglês: angst – medo, em português. Sob o termo "german angst", o medo alemão ficou mundialmente famoso. Duas guerras mundiais, fuga e expulsões, e a construção do Muro de Berlim formaram no século 20 a imagem de um povo temeroso, segundo a teoria popular. 

No século atual, veio o medo do colapso econômico, do terrorismo e, por último, mas não menos importante, medo do presidente dos EUA, Donald Trump. É o que aponta um estudo da seguradora R+V, uma das maiores companhias de seguros da Alemanha. Desde 1992, a empresa questiona alemães sobre seus medos – afinal, as seguradoras capitalizam com os medos e as preocupações dos cidadãos.

Em 2019, o estudo indica que é particularmente grande o medo de que o Estado alemão esteja sobrecarregado com o grande número de migrantes em busca de refúgio que chegaram ao país. Segundo o levantamento, 56% dos alemães temem esse cenário.

Bem próximo, em segundo lugar na listagem, foi citado por 55% dos entrevistados o medo de que surjam tensões na sociedade como resultado do afluxo adicional de estrangeiros.

"Pouquíssimas pessoas têm experiências pessoais desagradáveis com refugiados que poderiam deixá-las com medo", disse Ulrich Wagner, professor de Psicologia Social da Universidade de Marburg.

Além disso, o número de novos refugiados tem diminuído constantemente desde 2016. "É o debate na política e na mídia sobre esse assunto que desencadeia tais receios", afirmou Wagner, em entrevista à DW.

Na lista dos principais medos dos alemães também aparece o temor de que o mundo fique mais perigoso por causa das políticas de Trump, citado por 55% dos entrevistados. 

Além disso, 47% temem que os políticos estejam sobrecarregados. A mesma parcela tem medo do extremismo político, e 45% temem que os preços dos imóveis no país fiquem inacessíveis.

O medo de estrangeiros

A intensidade com que um tópico é discutido parece determinar, portanto, o quanto as pessoas se importam com o assunto, indica o estudo.

"Segundo os dados mais recentes, o medo do terrorismo, por exemplo, caiu significativamente em comparação com o ano passado", apontou Wagner. "Nós simplesmente não falamos mais muito sobre alguns eventos ameaçadores, e isso faz com que as pessoas se sintam mais seguras."

O estudo também aponta que as mulheres são um pouco mais preocupadas que os homens. E isso não mudou desde 1992, quando a R+ V começou a analisar os medos dos alemães, segundo Römstedt.

Um dado curioso é que no leste do país os medos são dez pontos percentuais mais altos que no oeste. Estes números podem explicar por que a legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) recebe tantos votos no chamado Leste alemão, que engloba os estados da antiga Alemanha Oriental – por exemplo, nas mais recentes eleições estaduais na Saxônia e em Brandemburgo.

Brigitte Römstedt, da R + V, explicou essa diferença com o fato de que muitas pessoas no Leste alemão se sentem abandonadas por terem salários menores que os cidadãos no restante do país. Para Wagner, a falta de experiência em lidar com estrangeiros também desempenha um papel.

"O paradoxo é que no leste da Alemanha vivem menos pessoas de origem migratória e menos refugiados do que no oeste, e ainda assim os medos são maiores por lá", disse Wagner.

Pessoas que têm contato com estrangeiros não se sentem tão facilmente inseguras com notícias aterrorizantes sobre refugiados, segundo o psicólogo. "E as pessoas no leste da Alemanha simplesmente têm menos oportunidades de ter contato com refugiados", diz.

O medo de acontecimentos incomuns

Römstedt, da R+V, afirmou ter ficado surpresa com o declínio no índice médio dos medos neste ano, para 39%. Em 2016, o índice médio era de 52%. Segundo Römstedt, a boa situação econômica dos últimos anos teve um efeito positivo. "O medo do desemprego, por exemplo, nunca esteve tão baixo", disse. O índice atual de desemprego na Alemanha é de 5,1%.

Os maiores medos dos alemães deveriam ser de ataques cardíacos e câncer – as principais causas de mortes na Alemanha. Ou de ficar ferido num acidente de trânsito, algo que ocorre anualmente com cerca de 400 mil pessoas no país. No entanto, poucas pessoas parecem se importar. Todos os dias, milhões de cidadãos na Alemanha entram em veículos e aceleram a mais de 100 quilômetros por hora.

"Acidentes de trânsito são acontecimentos comuns", disse Wagner. "Eles não se destacam. E eles nos influenciam bem menos em nossos medos do que acontecimentos comuns."

Os resultados do estudo da seguradora R+V indicaram que medos exagerados tem diminuído lentamente na Alemanha, segundo Wagner. No entanto, uma sociedade completamente livre de medo não é desejável.

"Os medos têm uma função. Se eu sei que certas coisas são realmente perigosas, faz sentido evitá-las", disse Wagner. Portanto, abrir mão de seus medos é imprudente. Ou seja, um pouco de "german angst" é sempre bem-vindo.

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