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Eficácia de vacina contra dengue divide pesquisadores

Brigitte Osterath (cn)28 de julho de 2014

Pela primeira vez uma vacina contra o vírus chega à última fase de testes para ser lançada no mercado. Mas especialistas afirmam que substância pode causar problema maior em vez de combater a doença.

Foto: Sanofi Pasteur/Institut Pasteur

"Nós estamos no caminho de tornar a dengue uma doença possível de prevenir por vacina", afirma John Shiver, vice-presidente para pesquisa e desenvolvimento da Sanofi Pasteur. A companhia farmacêutica francesa comemora os resultados da fase 3 de testes na Ásia, que foram publicados na revista especializada The Lancet em meados deste mês.

A substância chamada CYD-TDV mostrou ter uma eficácia de 56,5% contra a dengue em crianças e adolescentes de 2 a 14 anos. "É muito menos do que nós esperávamos", avalia, porém, Annelies Wilder Smith, pesquisadora da Universidade Tecnológica Nanyang em Cingapura.

A especialista participou da fase anterior do desenvolvimento da vacina, mas não da terceira. "Nós esperávamos mais de 90% de eficácia", afirma a especialista, que destaca, porém o simples fato de a pesquisa ter chegado à fase 3 de testes.

Essa fase é a final e mais cara no desenvolvimento de uma vacina e ocorre antes de a companhia poder tentar registrá-la e levá-la ao mercado. Somente pesquisas bem avançadas chegam a esse ponto, e foi a primeira vez que uma vacina contra dengue foi tão longe.

"Nós esperamos por um longo tempo o resultado desse estudo", conta Jonas Schmidt Chanasit, diretor do departamento de diagnose de vírus do Instituto Bernhard Nocht, de Hamburgo. Ele diz que a boa notícia é que a vacina é segura e não produz efeitos colaterais.

A eficácia de 56% significa que o número de infecções poderia ser reduzido pela metade. O teste mostrou, além disso, que a vacina diminuiu o número de casos graves de dengue em 88,5%.

Proteção parcial

Estima-se que, por ano, 500 mil pessoas sofrem de casos graves da doença – a dengue hemorrágica pode levar à morte.

"O protótipo de vacina tem potencial de ter um impacto significativo na saúde pública, tendo em vista a alta carga da doença em países endêmicos", opina Maria Rosario Capeding, do Instituto de Pesquisa de Medicina Tropical das Filipinas e diretora do estudo. "A redução de 50% dos casos de dengue no mundo já é, por si só, um avanço."

Ainda não há vacina contra o vírus da dengueFoto: Sanofi Pasteur/Institut Pasteur

Mas, para Chanasit, o tratamento não pode ser considerado um sucesso completo, pois a proteção não é a mesma para os quatro subtipos da doença e isso pode ser perigoso.

Os quatro subtipos do vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4) coexistem em países com áreas endêmicas. Ao longo da vida, pessoas podem ser infectadas com os quatros serotipos. Se alguém desenvolve imunidade contra um, não há necessariamente proteção contra os outros três.

A vacina da Sanofi Pasteur protege com uma eficácia de 75% contra os serotipos DEN-3 e DEN-4. Já para o DEN-1 a proteção é de 50%, e para o DEN-2, de apenas 35%. Um resultado decepcionante, avalia Smith, pois em muitas regiões, como o Brasil, o tipo mais frequente do vírus da dengue é o 2.

Novos testes

Segundo Chanasit, há possibilidade de que a vacina piore a situação da doença em países endêmicos. Por um lado a vacinação poderia controlar alguns subtipos da dengue, mas por outro poderia fortalecer outros.

"Isso poderia criar um problema enorme", afirma o especialista. Ele explica que, se alguém com imunidade alta contra alguns subtipos é infectado por outro, o curso da doença é mais severo do que em pessoas sem qualquer imunidade. Isso, segundo ele, se deve a um fenômeno chamado de amplificação dependente de anticorpos.

Resultados de testes em outros países são aguardadosFoto: Sanofi Pasteur/Institut Pasteur/Marizilda Cruppe

"Muitos cientistas e médicos aprenderam que a amplificação dependente de anticorpos acontece quando há uma resposta de anticorpos desequilibrada. Mas isso é um conceito teórico que não foi comprovado ainda", pondera, por sua vez, Smith.

A pesquisadora de Cingapura diz que os dados do teste clínico revelaram o oposto. "Mesmo que ela proteja somente contra os tipos 1, 3 e 4, é provável que continue protegendo com doenças mais graves de todos os serotipos", argumenta.

Na região da Ásia, onde o teste foi feito, o tipo 2 não era prevalente. E, por isso, Chanasit diz ser necessário esperar os dados de outros testes clínicos com a mesma a substância. Um estudo está sendo feito agora na América Latina e no Caribe. Os resultados devem ser apresentados até o fim de 2014.

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