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Onda de protestos

28 de janeiro de 2011

Protestos no Egito continuam, e analistas debatem se discurso de El Baradei será capaz de unificar a oposição desarticulada e promover reformas necessárias ao país, caso regime atual seja mesmo deposto.

Manifestantes pedem pela renúncia de MubarakFoto: AP

Os protestos de massa no Egito continuam após as tradicionais orações de sexta-feira. Dezenas de milhares de manifestantes desafiam a proibição do governo e reúnem-se no Cairo. Para dispersar os protestos, a polícia utilizou canhões de água e deu tiros de advertência. Centenas de pessoas ficaram feridas nesta sexta-feira (28/01).

Operadoras de telefonia celular foram "instruídas" a suspender os serviços em determinadas áreas, informou uma empresa de telecomunicações de capital britânico. A conexão à internet também foi cortada.

O Ministério do Interior e as forças de segurança tentam mais uma vez conter os protestos sem precedentes que assolam o país desde o dia 25 de janeiro. Nesta sexta-feira, o governo ordenou toque de recolher entre 18h e 7h em todas as 28 províncias do Egito.

O presidente "pediu às Forças Armadas, em cooperação com a polícia local, para executar a ordem e manter a segurança, e proteger estabelecimentos públicos e propriedade privada", segundo anúncio na TV estatal. Até então, o exército do Egito havia observado de fora, enquanto as manifestações vinham testando as forças domésticas de segurança.

Na Alemanha, o porta-voz da chanceler federal Angela Merkel declarou que o Egito sofre de uma "série de deficiências". Seriam necessárias reformas na política econômica e medidas de combate à pobreza.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, reiterou seu apelo para que o Cairo evite repressão violenta. O governo alemão é da opinião que no Egito "a estabilização só será possível se a democracia e a liberdade" forem garantidas.

O comissário para direitos humanos e ajuda humanitária em Berlim, Markus Löning, disse que a reação violenta da polícia era "uma bofetada para todos que defendem direitos humanos e civis".

El Baradei acirra discurso contra regime

Governo chamou exército para executar toque de recolherFoto: AP

Os grupos de oposição que pedem a renúncia do presidente Hosni Mubarak devem se unir a Mohamed El Baradei, figura dissidente da oposição que retornou ao Cairo nesta quinta-feira.

Mas reportagens da rede de televisão Al-Jazeera sugerem que El Baradei teria sido detido em uma mesquita no Cairo e impedido pelas forças de segurança de participar dos protestos. Ele foi solto mais tarde e juntou-se a uma manifestação pacífica na capital.

Nesta sexta-feira, El Baradei conversou com o jornal britânico The Guardian, e acirrou seu discurso desde que partira de Viena para o Egito na noite anterior.

"Eu estou mandando uma mensagem para o mundo que o Egito está sendo isolado por um regime agonizante", disse ao periódico. "É claro que há risco para a minha segurança hoje, mas é um risco que vale a pena correr, quando você vê o seu país nessa situação. Eu estarei com o povo", acrescentou El Baradei.

El Baradei pediu que a comunidade internacional entre em ação, já que o regime de Mubarak cortou a comunicação dos sistemas de telefonia celular e o acesso à internet, bloqueando as linhas de comunicação entre os grupos de oposição e restringindo o contado do Egito com o resto do mundo.

"A comunidade internacional precisa entender que todo direito humano nos está sendo negado, dia após dia. O Egito hoje é uma grande prisão. Se a comunidade internacional não se manifestar, as implicações serão muitas. Nós estamos lutando por valores universais aqui. Se o ocidente não se manifestar agora, vai se manifestar quando?", disse El Baradei.

As declarações do vencedor do Nobel da Paz e ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) foram muito mais duras do que as que fizera por ocasião de seu retorno ao país, quando indicou apenas que iria ajudar no governo de transição, caso o regime atual fosse deposto.

Centenas de pessoas ficaram feridas nos confrontos entre policiais e manifestantesFoto: picture alliance/dpa

Grupos de protesto buscam foco e liderança em El Baradei

Alguns observadores não ficaram surpresos com o clamor crescente para que El Baradei lidere as desarticuladas facções de oposição, dê-lhes foco e ajude a canalizar as frustrações do povo egípcio para uma mudança política positiva.

"A oposição tem sido fraca e estagnada por tanto tempo que não surpreende que eles estejam se mobilizando sob El Baradei", disse à Deutsche Welle Amr Hamzawy, diretor de pesquisa do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute. "Eles têm muito pouca representatividade no parlamento, seu trabalho e sua habilidade para atingir efetivamente o eleitorado tem sido fortemente restringida desde que o estado de emergência chegou ao poder em 1981, e falharam em convencer os egípcios de que eles têm uma política e uma plataforma sólidas."

Kristian Ulrichsen, especialista em Oriente Médio da Faculdade de Economia e Ciência Política de Londres diz que El Baradei se encaixa no cenário e pode oferecer foco. "Como oponente de alto nível conhecido internacionalmente, ele pode prover a figura emblemática com legitimidade nacional que a oposição na Tunísia, em comparação, não tem."

No entanto, a chegada de El Baradei e as promessas de apoio não vão necessariamente resolver todos os problemas da oposição com a derrubada do regime de Mubarak. De fato, seu retorno pode trazer uma série de novas questões a serem tratadas.

Críticos de El Baradei recusam-se a aceitá-lo

A Irmandade Muçulmana, maior grupo de oposição no Egito, sempre rejeitou a ideia de apoiar a possível indicação de El Baradei como líder de unificação da oposição. "Aqueles que apoiam El Baradei são um bloco elitista sem qualquer raiz nas ruas do Egito", teria dito o líder do grupo, Mohammed Habib, à imprensa local.

Mohamed El Baradei deve comandar oposição desarticuladaFoto: AP

A Irmandade Muçulmana, cujos membros até agora têm participado individualmente dos protestos, anunciara na véspera que iria participar coletivamente das manifestações desta sexta-feira.

"A habilidade de El Baradei de se autoprojetar como figura de liderança pode ser reduzida por sua limitada base de apoio político na classe média do Egito", diz Kristian Ulrichsen. "Ele precisa expandir esse apoio, se quiser se tornar um líder viável, e precisa particularmente se aproximar da Irmandade Muçulmana para assegurar pelo menos sua aquiescência tácita."

Ascensão na liderança será apenas o começo

Caso El Baradei tenha sucesso em unir as forças da oposição e em liderar uma transição pacífica de governo, e se Mubarak for deposto, sua liderança precisará ser capaz de lidar com a crescente pressão para resolver os problemas sociais e econômicos do país.

Analistas acreditam que será necessário mais do que uma mudança na liderança para implantar com êxito as reformas estruturais necessárias na vacilante economia política do Egito.

"Pressões por reformas políticas e liberalização também devem expor um racha entre as demandas por mudanças democráticas, por um lado, e por mais religiosidade na vida pública, por outro", diz Ulrichsen.

FF/dw/afp
Revisão: Augusto Valente

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