Eleição de Bolsonaro é destaque na imprensa europeia
29 de outubro de 2018
Jornais afirmam que presidente eleito seduziu brasileiros desiludidos e ansiosos por mudança usando discurso de ódio, mas ponderam que novo chefe de governo terá que reconciliar um país dividido.
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Süddeutsche Zeitung (Alemanha) – Vitória de Bolsonaro coloca futuro da democracia brasileira em questão
Bolsonaro fez um "juramento a Deus" em seu discurso de vitória, afirmando que seu governo vai defender a Constituição, a liberdade e a democracia. Quase tudo o que ele disse publicamente em seus 28 anos como político sugere, no entanto, que esse compromisso não é de coração – exceto pelo juramento a Deus. É possível encher livros com as frases antidemocráticas, racistas, misóginas, homofóbicas e de glorificação da violência proferidas pelo próximo chefe de Estado brasileiro.
Nos últimos dias, unidades da Polícia Militar invadiram universidades públicas, dissiparam debates sobre os "princípios da democracia", fotografaram estudantes e confiscaram cartazes que alertavam sobre a eclosão do fascismo. Bolsonaro disse sobre as ações: "A universidade não é lugar de protesto." Agora, os cerca de 45 milhões de brasileiros que não votaram nesse homem se perguntam, com razão, em que lugares ainda será possível se manifestar contra o presidente.
Der Spiegel (Alemanha) – O populista de direita Bolsonaro se torna o próximo presidente do Brasil
A vitória eleitoral de Bolsonaro é vista como uma ameaça à ainda jovem democracia brasileira. No entanto, o político não pode governar de forma totalmente descontrolada: no Brasil, o presidente tem que renegociar uma maioria antes de cada votação importante no Congresso. (…) Considerando as dezenas de partidos, isso contribui para o risco de que maiorias sejam compradas. No entanto, isso também dá oportunidade para que a oposição barre o presidente.
The Guardian (Reino Unido) – Brasileiros desiludidos trocam política da esperança por política da raiva e do desespero
A campanha de extrema direita pela Presidência do Brasil de Jair Bolsonaro chocou os observadores estrangeiros, que se perguntaram como um candidato com visões tão extremas poderia merecer amplo apoio popular.
Mas os eleitores brasileiros parecem ter seguido uma tendência evidente em democracias conturbadas em todo o mundo, trocando a política da esperança pela "antipolítica" – a política da raiva, da rejeição e do desespero.
Le Monde (França) – Eleição no Brasil: Bolsonaro, ou a vingança do "brasileiro médio"
O capitão da reserva, ex-membro indisciplinado da brigada de paraquedistas do Exército, seduziu um Brasil cheio de raiva com as suas críticas à esquerda e ao PT? Por causa de seu discurso moralista e punitivo? Ou por seu perfil "antissistema", prometendo acabar com uma oligarquia que estava no poder por tempo demais? Sem dúvida, por tudo isso.
Neue Zürcher Zeitung (Suíça) – Ultradireitista Bolsonaro é eleito novo presidente do Brasil
Muitos reconheceram em Jair Bolsonaro uma oportunidade de mudança política. O ex-militar se posicionou com sucesso durante a campanha um candidato honesto e antissistema, apesar de estar há mais de 25 anos no Congresso, como deputado pelo estado do Rio de Janeiro. A restauração da lei e da ordem é uma de suas principais propostas, que vem ao encontro do desejo de muitos brasileiros nesses tempos política e economicamente difíceis.
La Reppublica (Itália) – Eleição no Brasil: Bolsonaro é o novo presidente
O Brasil encerra a era de Lula e do PT. Agora a direita domina. Uma extrema direita populista e racista. O povo votou. E escolheu o Messias. Apostou tudo nele. E ele, o ex-capitão do Exército, está pronto para aceitar o desafio.
El Mundo (Espanha) – O ultradireitista Jair Bolsonaro é o novo presidente do Brasil, com 55% dos votos
Depois de uma campanha marcada pela violência com o atentado sofrido por Bolsonaro no início de setembro e a onda de ataques contra homossexuais e opositores de esquerda por parte de partidários do ultradireitista, resta saber se o futuro presidente abandonará seu discurso de ódio à oposição e apostará ou não em reconciliar um país em confronto.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.