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Eleição devolve incerteza à Catalunha

22 de dezembro de 2017

Tentativa do governo central espanhol de afastar separatistas do poder na região autônoma sai pela culatra: com alto comparecimento, pleito convocado por Madri acaba dando novo impulso a independentistas.

Urnas refletem incerteza na Catalunha: separatistas formam maioria, mas partido mais votado é contrário à independênciaFoto: picture-alliance/dpa/NurPhoto/X. Bonilla

Os esforços do governo central espanhol para conter o movimento separatista catalão, que parecia enfraquecido após a crise de outubro, sofreram um revés nesta quinta-feira (21/12), com a vitória de partidos independentistas nas eleições legislativas na região autônoma.

O pleito foi convocado pelo próprio primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, que, em outubro, assumiu o controle da Catalunha, após a região autônoma declarar independência de forma unilateral, e afastou os líderes independentistas do poder.

Com a participação recorde de 82% dos eleitores, os três partidos separatistas – o conservador Juntos pela Catalunha (34) e os esquerdistas ERC (32) e CUP (4) – conquistaram 70 dos 135 assentos. 

O resultado deu maioria absoluta no Parlamento regional ao movimento. Seus líderes fizeram campanha do exílio – o ex-chefe de governo regional Carles Puigdemont, por exemplo, está em Bruxelas – ou via cartas e telefonemas da prisão – Oriol Junqueras, líder do ERC, está detido.

Desafio para Madri e UE

A conquista dos separatistas agrava o clima de incertezas na região autônoma espanhola. Mercados espanhóis recuaram com o resultado, que também é um desafio para a União Europeia. O bloco precisa agora se preparar para mais turbulências independentistas, ao mesmo tempo em que lida com o Brexit e um descontentamento latente no Leste europeu.

“Ou Rajoy muda sua receita ou nós mudamos o país”, declarou Puigdemont, em tom desafiador, em discurso televisionado, ao lado de quatro ex-ministros de gabinete que fugiram com ele para a Bélgica. "Esse é um resultado que ninguém pode contestar. O Estado espanhol foi derrotado."

Puigdemont, que foi para a Bélgica, onde tenta reunir apoio internacional para a causa separatista, não retornou à Espanha, onde há um mandato de prisão contra ele. A Comissão Europeia, no entanto, enfatizou que sua posição – contrária à independência catalã – permaneceria a mesma, independentemente do resultado do pleito de quinta-feira.

Caso as três legendas pró-independência consigam negociar um acordo para formar uma coalizão de governo, os separatistas terão maioria parlamentar para, novamente, tentar sacramentar a independência da Catalunha.

Rajoy: maior derrotado

A eleição regional refletiu também a incerteza que paira sobre a população catalã em relação ao tema independência. O partido centrista Ciudadanos, que apoia o federalismo europeu e se opõe à independência da Catalunha, conquistou 37 assentos e selou o melhor resultado individual no pleito regional.

A líder do Ciudadanos, Inés Arrimadas, celebrou a liderança do partido centrista nos votos. "Os nacionalistas nunca mais poderão falar em nome de toda a Catalunha. Todos somos a Catalunha", disse, em discurso a simpatizantes, após o anúncio do resultado.

Em eventos pró-independência ocorridos em Barcelona, apoiadores exultantes entoavam “Presidente Puigdemont” e exibiam bandeiras catalãs à medida que os resultados eram divulgados.

O desfecho causou tensão nos mercados globais, contribuindo para um recuo no euro e uma contenção nos mercados de ações. As pesquisas de opinião haviam previsto que os secessionistas ficariam aquém de uma maioria parlamentar. O maior perdedor foi o PP de Rajoy.

"O maior perdedor da votação foi o Partido Popular, que obteve apenas três assentos", disse Antonio barroso, analista de risco político da Teneo Intelligence. "O ano de 2018 provavelmente será o ano em que se tornará mais claro se Rajoy pode ou não sobreviver a um mandato inteiro."

O que a vitória dos separatistas significa na prática, no entanto, é outra incerteza. "Não está claro se Puigdemont poderá ser novamente nomeado chefe de governo, já que ele será preso caso volte para a Espanha", comenta Barroso. "Como resultado, o processo de investidura está longe de ser direto, e o risco de novas eleições em 2018 continua alto."

PV/afp/dpa/dw

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