Tentativa do governo central espanhol de afastar separatistas do poder na região autônoma sai pela culatra: com alto comparecimento, pleito convocado por Madri acaba dando novo impulso a independentistas.
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Os esforços do governo central espanhol para conter o movimento separatista catalão, que parecia enfraquecido após a crise de outubro, sofreram um revés nesta quinta-feira (21/12), com a vitória de partidos independentistas nas eleições legislativas na região autônoma.
O pleito foi convocado pelo próprio primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, que, em outubro, assumiu o controle da Catalunha, após a região autônoma declarar independência de forma unilateral, e afastou os líderes independentistas do poder.
Com a participação recorde de 82% dos eleitores, os três partidos separatistas – o conservador Juntos pela Catalunha (34) e os esquerdistas ERC (32) e CUP (4) – conquistaram 70 dos 135 assentos.
O resultado deu maioria absoluta no Parlamento regional ao movimento. Seus líderes fizeram campanha do exílio – o ex-chefe de governo regional Carles Puigdemont, por exemplo, está em Bruxelas – ou via cartas e telefonemas da prisão – Oriol Junqueras, líder do ERC, está detido.
Desafio para Madri e UE
A conquista dos separatistas agrava o clima de incertezas na região autônoma espanhola. Mercados espanhóis recuaram com o resultado, que também é um desafio para a União Europeia. O bloco precisa agora se preparar para mais turbulências independentistas, ao mesmo tempo em que lida com o Brexit e um descontentamento latente no Leste europeu.
“Ou Rajoy muda sua receita ou nós mudamos o país”, declarou Puigdemont, em tom desafiador, em discurso televisionado, ao lado de quatro ex-ministros de gabinete que fugiram com ele para a Bélgica. "Esse é um resultado que ninguém pode contestar. O Estado espanhol foi derrotado."
Puigdemont, que foi para a Bélgica, onde tenta reunir apoio internacional para a causa separatista, não retornou à Espanha, onde há um mandato de prisão contra ele. A Comissão Europeia, no entanto, enfatizou que sua posição – contrária à independência catalã – permaneceria a mesma, independentemente do resultado do pleito de quinta-feira.
Caso as três legendas pró-independência consigam negociar um acordo para formar uma coalizão de governo, os separatistas terão maioria parlamentar para, novamente, tentar sacramentar a independência da Catalunha.
Rajoy: maior derrotado
A eleição regional refletiu também a incerteza que paira sobre a população catalã em relação ao tema independência. O partido centrista Ciudadanos, que apoia o federalismo europeu e se opõe à independência da Catalunha, conquistou 37 assentos e selou o melhor resultado individual no pleito regional.
A líder do Ciudadanos, Inés Arrimadas, celebrou a liderança do partido centrista nos votos. "Os nacionalistas nunca mais poderão falar em nome de toda a Catalunha. Todos somos a Catalunha", disse, em discurso a simpatizantes, após o anúncio do resultado.
Em eventos pró-independência ocorridos em Barcelona, apoiadores exultantes entoavam “Presidente Puigdemont” e exibiam bandeiras catalãs à medida que os resultados eram divulgados.
O desfecho causou tensão nos mercados globais, contribuindo para um recuo no euro e uma contenção nos mercados de ações. As pesquisas de opinião haviam previsto que os secessionistas ficariam aquém de uma maioria parlamentar. O maior perdedor foi o PP de Rajoy.
"O maior perdedor da votação foi o Partido Popular, que obteve apenas três assentos", disse Antonio barroso, analista de risco político da Teneo Intelligence. "O ano de 2018 provavelmente será o ano em que se tornará mais claro se Rajoy pode ou não sobreviver a um mandato inteiro."
O que a vitória dos separatistas significa na prática, no entanto, é outra incerteza. "Não está claro se Puigdemont poderá ser novamente nomeado chefe de governo, já que ele será preso caso volte para a Espanha", comenta Barroso. "Como resultado, o processo de investidura está longe de ser direto, e o risco de novas eleições em 2018 continua alto."
PV/afp/dpa/dw
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Breve história da Catalunha
Desejo de independência da Espanha é acalentado pelos catalães há muito tempo. Ao longo dos séculos, região experimentou vários graus de autonomia e repressão.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/F. Seco
Antiguidade rica
A Catalunha foi habitada por fenícios, etruscos e gregos, que estiveram nas áreas costeiras de Rosas e Ampúrias (acima). Depois vieram os romanos, que construíram mais assentamentos e infraestrutura. A Catalunha foi uma parte do Império Romano até ser conquistada pelos visigodos, no século 5.
Foto: Caos30
Condados e independência
A Catalunha foi conquistada pelos árabes no ano 711. O rei franco Carlos Magno interrompeu o avanço deles em Tours, no rio Loire, e em 759 o norte da Catalunha se tornou novamente cristão. Em 1137, os condados que compunham a Catalunha iniciaram uma aliança com a Coroa de Aragão.
Foto: picture-alliance/Prisma Archiv
Guerra e perda de território
No século 13, as instituições de autoadministração catalã foram criadas sob o nome Generalitat de Catalunya. Depois da unificação da Coroa de Aragão com a de Castela, em 1476, Aragão pôde manter suas instituições autônomas. No entanto, a revolta catalã – de 1640 a 1659 – fez com que partes da Catalunha fossem cedidas à atual França.
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Lembrando a derrota
No final da Guerra da Sucessão, Barcelona foi tomada, em 11 de setembro de 1714, pelo rei espanhol Felipe 5°, as instâncias catalãs foram dissolvidas e a autoadministração chegou ao fim. Todos os anos, em 11 de setembro, os catalães fazem uma grande comemoração para lembrar o fim do seu direito à autonomia.
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República passageira
Após a abdicação do rei Amadeo 1°, da Espanha, a primeira república espanhola foi declarada em fevereiro de 1873. Ela durou apenas um ano. Os partidários da república estavam divididos, com um grupo apoiando uma república centralizada e outros, um sistema federal. A foto mostra Francisco Pi y Maragall, um partidário do federalismo e um dos cinco presidentes da república de curta duração.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Tentativa fracassada
A Catalunha tentou estabelecer um novo Estado dentro da república espanhola, mas isso apenas exacerbou as diferenças entre os republicanos e os enfraqueceu. Em 1874, a monarquia e a Casa de Bourbon, liderada pelo rei Afonso 12 (foto), retomaram o poder.
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Direitos de autonomia
Entre 1923 e 1930, o general Primo de Rivera liderou uma ditadura – com o apoio da monarquia, do Exército e da Igreja. A Catalunha se tornou um centro de oposição e resistência. Após o fim do regime, o político Francesc Macia (foto) conseguiu impor direitos importantes de autonomia para a Catalunha.
Fim da liberdade
Na Segunda República Espanhola, os legisladores catalães trabalharam no Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado pelo Parlamento espanhol em 1932. Francesc Macia foi eleito presidente da Generalitat de Catalunha pelo Parlamento catalão. No entanto, a vitória de Franco no fim da Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) acabou com tudo isso.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Opressão
O ditador Francisco Franco governou com mão de ferro. Partidos políticos foram proibidos, e a língua e a cultura catalãs, reprimidas.
Foto: picture alliance/AP Photo
Novo estatuto de autonomia
Após as primeiras eleições parlamentares que se seguiram ao fim da ditadura de Franco, a Generalitat da Catalunha foi provisoriamente restaurada. Sob a Constituição democrática espanhola de 1978, a Catalunha recebeu um novo estatuto de autonomia, apenas um ano depois.
O novo estatuto de autonomia reconheceu a autonomia da Catalunha e a importância da língua catalã. Em comparação com o estatuto de 1932, ele apresentou avanços nos campos da cultura e educação, mas restrições no âmbito da Justiça. A foto é de Jordi Pujol, que foi por longo tempo chefe de governo da Catalunha depois da ditadura.
Foto: Jose Gayarre
Anseio por independência
O desejo por independência da Espanha se tornou mais forte nos últimos anos. Em 2006, a Catalunha recebeu um novo estatuto, que ampliou ainda mais os poderes do governo catalão. No entanto, eles são perdidos após uma queixa levada pelo conservador Partido Popular ao Tribunal Constitucional espanhol.
Foto: Reuters/A.Gea
Primeiro referendo
Um referendo sobre a independência estava previsto para 9 de novembro de 2014. A primeira questão era "você quer que a Catalunha se torne um Estado?" No caso de uma resposta afirmativa, a segunda pergunta era "você quer que esse Estado seja independente?" No entanto, o Tribunal Constitucional suspendeu a votação.
Foto: Reuters/G. Nacarino
Luta de titãs
Desde janeiro de 2016, Carles Puigdemont é o presidente do governo catalão. Ele deu continuidade ao curso separatista de seu antecessor, Artur Mas, e convocou um novo referendo para 1° de outubro de 2017. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que a consulta é inconstitucional.