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Eleição em Hamburgo deve fortalecer novo partido A Esquerda

Agências (as)23 de fevereiro de 2008

Favorecido pelo escândalo fiscal de Liechtenstein e pelas discussões internas do SPD em torno do governo de Hessen, o partido A Esquerda pode obter até 10% dos votos em Hamburgo, segundo os institutos de pesquisa.

Cartazes eleitorais com as imagens de Ole von Beust, da CDU, e Michael Naumann, do SPDFoto: AP

O partido político A Esquerda deverá sair fortalecido das eleições que ocorrem neste domingo (24/02) na cidade-estado de Hamburgo, no norte da Alemanha. Sondagens eleitorais divulgadas nesta semana mostram que A Esquerda deverá alcançar entre 9% e 10% dos votos, os mesmos percentuais atribuídos ao tradicional Partido Verde e atrás apenas dos "grandes" CDU (democrata-cristão, com 41%) e SPD (social-democrata, 35%).

A Esquerda, que surgiu em junho de 2007 com a fusão do PDS e do WASG, já tem representantes em nove dos 16 parlamentos estaduais alemães e reúne cerca de 72 mil pessoas, o que a torna a terceira maior agremiação política da Alemanha em número de filiados. O PDS era o sucessor do SED, partido comunista único da antiga Alemanha Oriental. O WASG era um pequeno partido de esquerda que reunia principalmente dissidentes do SPD.

Caso Liechtenstein

Cartaz de Ole von Beust (CDU), atual prefeitoFoto: AP

Os percentuais de A Esquerda nas pesquisas eleitorais em Hamburgo subiram após o início do escândalo fiscal envolvendo o ex-presidente da Deutsche Post Klaus Zumwinkel, acusado de remeter ilegalmente dinheiro para Liechtenstein. O caso se tornou um dos temas dominantes na campanha eleitoral de Hamburgo e, na opinião de analistas políticos e de líderes do SPD e da CDU, trará votos para A Esquerda.

"Isso é água no moinho de todos os partidos de protesto", afirmou o professor da Universidade de Hamburgo Michael Greven. O líder da bancada do SPD no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Peter Struck, disse temer que escândalos dessa natureza fortaleçam partidos situados nas "margens esquerda e direita" do espectro político.

O ministro da Economia, Michael Glos (CDU), declarou ao jornal Bild am Sonntag que o caso Liechtenstein deixa a Alemanha prestes "a ser incorporada" por A Esquerda. Também o prefeito de Hamburgo, Ole von Beust (CDU), que concorre à reeleição, avaliou em entrevista ao jornal Die Zeit que o escândalo favorecerá o novo partido.

Aumento de impostos

A candidata de A Esquerda, Doro HeyennFoto: picture-alliance/dpa

Desde o início do escândalo, cresce o número de eleitores que procuram os comitês de A Esquerda, afirmou o diretor estadual do partido, Martin Wittmaack. "É um tema que mexe com as pessoas." Ele lembrou que o partido sempre defendeu um aumento no número de auditores fiscais.

O presidente de A Esquerda, Oskar Lafontaine, disse que o recente escândalo de sonegação fiscal mostra o quão necessário é o partido. "Defendemos que os ganhos dos executivos sejam reduzidos para no máximo 20 vezes o salário dos trabalhadores. Defendemos o aumento da alíquota para a faixa mais alta do imposto de renda", declarou ao diário Süddeutsche Zeitung.

SPD x A Esquerda

Analistas políticos são unânimes em apontar o SPD como o partido mais prejudicado pelo crescimento de A Esquerda, já que as duas agremiações disputam os mesmos nichos eleitorais. Além disso, Lafontaine é egresso do SPD, do qual saiu em 2005. Ele foi ministro das Finanças do governo Gerhard Schröder, cargo que deixou em 1999 para se tornar um dos principais críticos da coalizão entre SPD e Partido Verde que então governava a Alemanha.

Michael Naumann, candidato do SPD à prefeitura de HamburgoFoto: AP

Uma aproximação entre os dois partidos sempre foi descartada pelas lideranças do SPD, mas a situação mudou esta semana, quando o presidente do partido, Kurt Beck, admitiu pela primeira vez a possibilidade de contar com os votos dos parlamentares de A Esquerda em Hessen a fim de obter a maioria necessária para chegar ao governo do estado.

No sistema parlamentarista alemão, o governador (ou prefeito, no caso de Hamburgo) é escolhido pelos parlamentares entre os candidatos indicados pelos partidos antes das eleições. Para chegar ao governo, é necessário obter maioria. O SPD obteria essa maioria em Hessen caso contasse com os votos dos deputados do Partido Verde e de A Esquerda.

Grande coalizão e Hamburgo

A declaração de Beck gerou protestos da CDU, parceira do SPD na grande coalizão que governa a Alemanha, e dentro do próprio SPD. O vice-presidente do partido e ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück, alertou Beck para que mantenha sua palavra, já que durante a campanha eleitoral em Hessen uma aliança com A Esquerda foi descartada. "O SPD não pode e não colocará sua credibilidade em jogo", disse Steinbrück ao jornal Bild am Sonntag.

Declaração de Kurt Beck causa temor em HamburgoFoto: picture-alliance/ dpa

Já políticos da CDU disseram que uma aliança entre SPD e A Esquerda em Hessen significaria o fim da grande coalizão entre os dois partidos no governo federal. "Uma quebra da palavra empenhada não ficará sem conseqüências", ameaçou o governador da Baixa Saxônia, Christian Wulff (CDU).

No SPD de Hamburgo, o temor é que a declaração de Beck, interpretada como traição a uma promessa de campanha, afaste os eleitores. O candidato do partido ao governo da cidade, Michael Naumann, afirmou que não aceitará o apoio de A Esquerda para chegar ao poder.

Para o presidente do instituto de pesquisas TNS Emnid, Klaus-Peter Schöppner, a discussão em torno do governo de Hessen não favorece o SPD em Hamburgo. "Uma coisa é certa. O assunto mais prejudica do que ajuda o partido." E, mais uma vez, quem deverá sair ganhando é A Esquerda.

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