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Eleição europeia deixa Merkel sob pressão

26 de maio de 2019

Os alemães continuam a fugir do centro político tradicional. Agora, migraram para o Partido Verde. Isso pode ter um custo político para a chanceler federal, mesmo que ela não tenha se envolvido diretamente na campanha.

Nahles e Merkel: parceiras da atual coalizão de governo, que pode estar com dias contados
Nahles e Merkel: parceiras da atual coalizão de governo, que pode estar com dias contadosFoto: picture-alliance/dpa/Bildfunkk/B. v. Jutrczenka

Os dois principais partidos da Alemanha sofreram um golpe significativo nas eleições europeias deste domingo (26/05), que mostraram que os eleitores alemães continuaram a fugir do centro político tradicional. A grande migração para o Partido Verde sugere que o eleitorado está exigindo uma ação mais forte em proteção climática.

Pouco depois do fechamento das urnas, a projeção era de que a União Democrata Cristã (CDU) de Angela Merkel tinha mais de 28% dos votos na Alemanha, sete pontos abaixo dos 35,3% que obteve nas eleições para o Parlamento Europeu em 2014. Os prognósticos iniciais diziam que seu parceiro de coalizão, o Partido Social-Democrata (SPD), poderia ganhar apenas 15,5%, uma queda de 11 pontos frente ao resultado de 2014 (27,5%).

Este último número, outra humilhação para a centro-esquerda alemã, é ainda mais significativo para Merkel. O declínio do SPD nos últimos anos, marcado pela piora constante dos resultados eleitorais, é motivo de crescente agitação dentro do partido, especialmente em sua ala mais à esquerda. Nela, a insatisfação com a grande coalizão com a CDU vem aumentando há anos.

O resultado de domingo, para muitos, só fortalece esse sentimento, reforçado ainda por uma derrota histórica nas eleições em Bremen, o menor estado da Alemanha, onde o SPD deve perder o poder pela primeira vez em sete décadas.

Se a ala esquerda do SPD ganhar a luta interna pelo poder, há uma chance de que o tradicional partido saia da coalizão com Merkel, provocando novas eleições na Alemanha.

Com a chanceler já tendo anunciado que não se candidataria novamente, e sua sucessora como líder da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, esperando atenta, já há especulações de que os resultados de domingo poderiam acelerar a partida de Merkel.

Mas, quando indagados logo após o anúncio dos prognósticos, os dirigentes da CDU minimizaram a sugestão de que o governo desmoronaria.

O secretário-geral da CDU, Paul Ziemiak, disse à emissora ZDF que a coalizão "tinha de continuar" para "garantir a estabilidade" no país. Ziemiak também admitiu que os resultados para a CDU "não corresponderam às expectativas", embora tenha afirmado que o seu partido "fez a sua parte" ao ajudar Manfred Weber a se aproximar do cargo de presidente da Comissão Europeia.

Weber foi o principal candidato do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita e bancada europeia à qual a CDU pertence, colocando-o na frente na corrida para substituir Jean-Claude Juncker neste ano.

O "oposto" de Ziemiak no SPD, Lars Klingbeil, foi mais evasivo na questão da coalizão em sua entrevista ao ZDF, dizendo apenas que "o resultado não pode ficar sem consequências". Segundo ele, os social-democratas têm muito a discutir nos próximos dias.

Isso foi ecoado pela líder do SPD Andrea Nahles, que disse que os resultados "extremamente decepcionantes" mostraram que o partido "ainda tinha muito a fazer". Também foram levantadas questões sobre sua liderança após o resultado.

Kramp-Karrenbauer, por sua vez, também reconheceu que a CDU não teve um bom desempenho. "Este resultado não é um resultado que faz justiça às nossas expectativas como um partido deste porte", disse em um discurso aos membros do partido.

Mas ela comemorou enumerando o que disse serem as duas principais metas do dia da CDU: chegar em primeiro lugar na eleição da União Europeia e derrotar o SPD em Bremen. Mas o resultado na UE, com a queda significativa nos votos, provavelmente vai refletir mal nela como nova líder, uma vez que Merkel se manteve fora da campanha.

Ao lado dela, Weber disse que o resultado foi uma vitória para a democracia europeia e pediu a outros parceiros europeus que estabelecessem uma agenda para os próximos cinco anos.

O enorme sucesso do Partido Verde na Alemanha, que quase dobrou seu resultado de 2014 para ganhar 20,6% dos votos, foi aparentemente em grande parte devido à sua nova popularidade entre os jovens eleitores.

Uma pesquisa local revelou que 36% dos eleitores alemães de primeira viagem votaram no Partido Verde, mais de três vezes mais do que votaram nos conservadores de Merkel.

"Há algumas semanas, todos os partidos colocaram subitamente a proteção climática nos seus cartazes", disse a líder do Partido Verde Annalena Baerbock, à emissora de televisão pública ARD. "Esta campanha de proteção climática precisa se refletir na agenda dos partidos.”

Outros políticos alemães reconheceram que ela provavelmente tem razão: a questão climática foi o principal tema da campanha, e eles não tomaram uma linha clara.

A principal candidata do SPD, Katarina Barley, tal como o ministro das Finanças, Olaf Scholz, do mesmo partido, admitiu que sua legenda talvez não estivesse bem preparada nessa frente.

A eleição europeia também trará uma pequena remodelação no gabinete de Merkel, com a ministra da Justiça Barley anunciando antecipadamente que se retiraria para assumir seu assento no Parlamento Europeu.

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