Eleição sob suspeita
20 de março de 2006Alexander Lukashenko foi reeleito presidente de Belarus com 82,6% dos votos. Seu principal adversário, o candidato de oposição Alexander Milinkevitch, obteve apenas 6% dos votos, enquanto 92,6% dos eleitores compareceram às urnas neste domingo (19/03). A chefe da Comissão Eleitoral, Lidia Yermoshina, anunciou nesta segunda-feira (20/03) "a vitória impressionante" de Lukashenko, que já está há 12 anos no poder.
Após o fechamento das urnas, cerca de dez mil pessoas participaram de uma manifestação, em Minsk, acusando o governo de ter cometido fraude no processo eleitoral. A manifestação, organizada pelos candidatos de oposição Milinkevitch und Alexander Konsulin, para "mostrar ao mundo o poder dos bielo-russos", aconteceu apesar da proibição oficial.
Milinkevitch descreveu a eleição como "uma farsa completa" e exigiu um novo processo eleitoral "mais transparente e honesto". Protestos semelhantes causaram a queda dos regimes em outras ex-repúblicas soviéticas, como na Geórgia, na Ucrânia e no Quirguistão.
O ex-ministro do Interior da Rússia Vladimir Rushailo afirmou que o processo eleitoral foi conduzido em concordância com a legislação vigente na Belarus, apesar de ter apresentado algumas dificuldades técnicas.
De acordo com o chefe da Missão de Observação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), "a eleição ocorreu de modo limpo e transparente". Apesar disso, jornais europeus anunciaram a vitória de Lukashenko com desconfiança.
Suspeita de fraude
O Sächsiche Zeitung, de Dresden, destacou que "um processo de conscientização política não pode ocorrer se um clima de medo e repressão impede toda e qualquer discussão pública". Desta forma, o resultado não acaba com o isolamento do país, mas contribui para que Belarus continue "fora de campo politicamente".
Ainda sobre a represália do atual governo contra os manifestantes, o jornal Hannoversche Allgemeine Zeitung relatou que os manifestantes foram agredidos e os políticos da oposição foram presos. As ações de repressão não devem parar por aí, pois "quem apresentou uma postura crítica contra o governo deve contar com a perseguição", comenta o jornal de Hannover.
O jornal polonês Rzeczpospolita escreveu que o resultado das eleições já estava definido antes mesmo do início do processo eleitoral, pois "a campanha de Lukashenko foi feita na base do terror e da intimidação, mesmo para os padrões bielo-russos". Segundo o diário, "os acontecimentos das últimas semanas mostraram que Belarus está saindo de uma situação de letargia e precisa, mais do que nunca, da ajuda de toda a Europa democrática".
Na Áustria, o jornal Salzburger Nachrichten ressaltou a popularidade de Lukashenko, conseguida através de medidas populistas como "o salário-mínimo estável e a aposentadoria garantida". Desta forma, Lukashenko assegurou a maioria nas urnas e poderá continuar protegendo seus milhões de simpatizantes, mantendo "um estilo de dominação inaceitável no Ocidente". Para o diário, "caso o governo russo corte as subvenções de Belarus, novos tempos começarão no país". O jornal sugere ainda a intervenção da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e da União Européia (UE) para assegurar o cumprimento dos direitos humanos em Belarus.
Posicionamento da UE ainda indeterminado
A representante do Partido Verde no Parlamento europeu, Elisabeth Schrödter, exigiu do Ocidente a recusa ao resultado das eleições, ressaltando que o processo eleitoral foi forjado ao ter sido antecipado. Os locais de votação já estavam abertos antes do dia da eleição. Schrödter lembrou que os políticos da oposição sofreram represálias durante a campanha. Schrödter deveria participar das eleições como observadora, mas teve sua entrada vetada no país pelas autoridades bielo-russas.
Para o ministro das Relações Exteriores da República Tcheca, Cyril Svoboda, "a eleição não foi nem justa nem democrática".
A ministra das Relações Exteriores da Áustria e atual presidente do Conselho de Ministros do Exterior da UE, Ursula Plassnik, destacou o "clima de intimidação" existente em Belarus, mas prefere esperar o relatório dos observadores internacionais para comentar o resultado das eleições. Plassnik lembrou também que a União Européia já havia advertido o governo de MInsk sobre as suas relações com a oposição do país.
O vice-presidente da Comissão Executiva da União Européia, o alemão Günter Verheugen, salientou a necessidade de discussão sobre a entrada de Belarus na UE. Enquanto o país continuar a ser "a última ditadura real da Europa", não será um parceiro ideal para o bloco, disse Verheugen.