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Primavera Árabe

23 de outubro de 2011

Quase um ano após a morte do jovem que se autoimolou em Túnis, iniciando o movimento da "Primavera Árabe", tunisianos vão às urnas para escolher Assembleia Nacional Constituinte. Partido islâmico é o favorito.

epa02614935 Protesters with a Tunisian flag as thousands of Tunisian demonstrators gather at the Kasba in Tunis on 04 March 2011. According to local media reports, the newly appointed Prime Minister Beji Caid Essebsi has in his first public address on 04 March accused the deposed former Tunisia Zine El Abidine Ben Ali of high treason, a crime punishable by death. EPA/STRINGER +++(c) dpa - Bildfunk+++
País iniciou 'Primavera Árabe'Foto: picture-alliance/dpa

O país que iniciou o mais recente movimento de contestação aos regimes autoritários do mundo árabe realiza eleições parlamentares neste domingo (23/10). Cerca de 11 mil candidatos independentes ou pertencentes a mais de 100 partidos disputam 218 assentos no legislativo, nove meses após a queda do ditador Zine al-Abidine Ben Ali.

O novo parlamento terá como principal incumbência montar a nova Constituição do país e realizar eleições presidenciais. A movimentação dos eleitores foi acompanhada por 800 observadores internacionais. Desde a manhã tunisiana havia longas filas diante das escolas utilizadas como locais de votação.

Cenário político-partidário

Fila diante de local de votaçãoFoto: picture-alliance/dpa

Estas são consideradas as primeiras eleições livres do país desde a independência em relação à França, em 1957. Muitos tunisianos vão às urnas pela primeira vez, pois outros pleitos organizados pelo ditador Ben Ali ou por seu antecessor, o líder da independência Habib Bourguiba, não contavam com a credibilidade da população. "Antes eu nunca fiz qualquer esforço para votar. Era uma farsa", lembra a médica Salma Cherif, de 48 anos.

A chamada "Primavera Árabe" se iniciou na Tunísia com a queda de Ben Ali, no poder há 23 anos. Pesquisas de opinião apontam o partido islâmico Ennhada como vencedor, com 20% a 30% dos votos e a maior representação no parlamento. Durante muitos anos, o partido foi proibido pelo regime, e ganhou força mantendo-se como movimento político organizado, mesmo na clandestinidade.

"Espero que nosso movimento tenha o melhor resultado, mas vamos parabenizar quem quer que vença, mesmo se não for o Enhada", diz o líder do partido, Rachid Ghannouchi, de 70 anos. Ghannouchi esteve preso e exilado durante 31 anos, devido a suas atividades políticas, e classifica as eleições como históricas.

A sigla considerada como alternativa ao Ennhada é o Partido Democrático Progressista (PDP), que compunha a principal fração oposicionista durante o regime de Ben Ali. Muitos tunisianos temem que a ascensão do Ennhada ao poder resulte numa ameaça à ideia de um país secular e liberal. Ghannouchi assegura que o partido está comprometido com a igualdade de gêneros e liberdades civis.

Etapa para a democracia

Cartaz com foto de BouaziziFoto: picture alliance/dpa

Contudo alguns segmentos do partido defendem uma agenda mais religiosa, acusando as lideranças do Ennhada de "discurso duplo". Além dele e do PDP, os outros partidos de abrangência nacional são o social-democrata Ettakol, o antigo partido comunista tunisiano, Ettajdid, e o esquerdista Congresso para a República.

Cerca de 80 mil tunisianos foram às urnas também na Alemanha para escolher os parlamentares que farão parte da Assembleia Nacional Constituinte de seu país. O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, reconheceu as legislativas da Tunísia como uma "etapa importante no caminho da democracia, liberdade e de uma chance de vida melhor para todos".

A mãe de Mohamed Bouazizi, o vendedor de legumes que se autoimolou, desencadeando a onda de protestos no país, disse que as eleições são "um momento de vitória para seu filho". Manoubia Bouazizi, de 53 anos, acredita que se Mohamed não tivesse se oposto ao silêncio, as eleições não estariam acontecendo. "Espero que as pessoas que assumirão o governo cuidem de todos os tunisianos, inclusive dos mais pobres", disse.

Consulado da Tunísia em Bonn, AlemanhaFoto: DW

MP/rtr/dpa/afp
Revisão: Augusto Valente

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