Eleições no Irã
12 de junho de 2009As eleições presidenciais no Irã, realizadas nesta sexta-feira (12/06), foram precedidas por aglomerações de massa e concentrações festivas nas ruas de Teerã. Já se podia observar no passado que as severas regras vigentes no país tendem a relaxar antes das eleições. Desta vez, porém isso não se nota apenas nas ruas.
Sinais de uma certa abertura
Esta campanha eleitoral foi a mais livre dos últimos 30 anos. Pela primeira vez, os candidatos puderam discutir sem censura na televisão, e pela primeira vez uma mulher se engajou para apoiar seu marido no pleito. Trata-se de Zahra Rahnavard, uma renomada artista e politóloga, diretora de uma universidade em Teerã e conselheira do antigo presidente Mohamad Khatami.
Ela fez campanha para seu marido, o ex-premiê Mir Hussein Mousavi, que ao longo de poucas semanas se tornou um forte adversário de Mahmoud Ahmadinejad. E com isso, ela se tornou alvo de agressões pessoais por parte do presidente, que questionou – por exemplo – a seriedade de sua carreira acadêmica. Rahnavard reagiu com soberania, ameaçando processar Ahmadinejad, caso ele não se retratasse. Afinal, argumentou, essas palavras não ofendem apenas a ela, mas a todas as mulheres iranianas.
Com sua esposa combativa, Mir Hussein Mousavi não é o único, mas – de longe – o mais importante adversário de Ahmadinejad. Outros candidatos são o ultraconservador Mohsen Rezai, ex-líder dos Guardiões da Revolução, e o ex-presidente do Parlamento Mehdi Karroubi, considerado reformista. No entanto, sabe-se que a verdadeira disputa ocorrerá entre Ahmadinejad e Mousavi.
Oposição cerrada contra Ahmadinejad
Por mais diferentes que sejam os desafiantes, é unânime sua crítica ao estilo e ao teor de certos aspectos da política de Ahmadinejad. Eles o culpam, sobretudo por uma situação econômica cada vez pior. Rezai adverte que o presidente está conduzindo o país a um precipício. E Mousavi o acusa de isolar e prejudicar o Irã através de sua política externa.
Outra acusação unânime é a de que Ahmadinejad distribuiu presentes eleitoreiros, a fim de melhorar suas chances no pleito. Desde a construção de estradas em lugares afastados até a distribuição gratuita de batatas, ele financiou os presentes com o faturamento de petróleo, recursos que deveriam beneficiar a todos. Além disso, a inflação aumenta desenfreadamente.
Ahmadinejad se defende dessas acusações alegando que nos governos anteriores a inflação era ainda maior, importantes políticos se enriqueciam com corrupção e o povo foi negligenciado.
Poder religioso sobre as decisões políticas
Quanto à sua política externa, Ahmadinejad afirma não se ater às regras do jogo estipuladas pelas grandes potências. "Isso foi o que nos ensinou o imame Khomeini. O imame nunca aceitou as regras deles, e de outra forma jamais poderíamos ter tido uma revolução", declarou ele.
Algo inegociável e indiscutível também é a política nuclear iraniana. Nesse ponto, todos concordam com grande parte da população, ao reclamar que o Irã tem direito à pesquisa nuclear e que a comunidade internacional está tentado privá-lo desse direito.
Outro ponto pacífico é a atitude em relação a Israel, embora Mousavi acuse Ahmadinejad de ter isolado o Irã por praticar uma política anti-Israel e negar o Holocausto. Para Mousavi, isso beneficiou Israel, seja depois da guerra em Gaza ou durante a Conferência Antirracismo em Genebra: "Após os assassinatos em Gaza, os europeus estavam prestes a elaborar uma resolução contra Israel, mas – por causa de nossas declarações e falhas – todos voltaram a defender Israel".
Embora não tenha sido um tema explícito da campanha eleitoral, a política em relação aos EUA desempenha um importante papel, no fundo. A tentativa de aproximação do presidente norte-americano, Barack Obama, não deixou de atingir Ahmadinejad, mas o esperado diálogo entre Teerã e Washington seria bem mais fácil se Mousavi fosse eleito. Neste ponto, assim como na política nuclear, quem tem a última palavra também é o "líder supremo", aiatolá Ali Khamenei.
E ao contrário da população, ele está tentando evitar a normalização das relações: "Desde o primeiro momento, quando assumiu o poder e fez o discurso de posse, o novo presidente americano ofendeu o Irã e o governo da República Islâmica... Por quê?". A principal razão dessa resistência é o medo de uma americanização da sociedade islâmica e de um afastamento dos ideais da chamada "Revolução Islâmica".
Longe de se americanizar
Por mais que muitos iranianos tenham curiosidade pelos EUA, esse risco não parece ser tão grande. Trinta anos de "República Islâmica" deixaram sua marca e quase ninguém quer mudar seus princípios.
Tampouco Zahra Rahnavard, apesar de seu estilo político moderno, quer ser comparada com a mulher de Obama, Michele. Durante uma assembleia, ao ser responsabilizado por diversas ordens de prisão e perseguição política durante os primeiros anos da República, Mousavi alegou que – após a "revolução" – a maioria das pessoas era como Ahmadinejad. Desde então, também se nota um aprendizado.
Autor: Peter Philipp
Revisão: Augusto Valente