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Elsie Monge: uma vida de luta no Equador

Mirra Banchón (ff)6 de maio de 2015

"Se você está comprometido com uma causa, deve assumir os riscos", diz Elsie Monge. Décadas de luta no Equador lhe renderam revezes, mas também prestígio. Ainda assim, ela não se sente uma heroína.

Ecuador, Quito, Elsie Monge Wahrheitskommission
Foto: CEDHU

"Não se pode dizer que a história seja linear: às vezes se avança, e às vezes há períodos de retrocesso na vigência dos direitos humanos e das liberdades", disse à DW Elsie Monge, diretora da Comissão Ecumênica de Direitos Humanos do Equador (CEDHU) desde 1981.

Ela presidiu a Comissão da Verdade que revisou a história de seu país entre 1984 e 2008. Na opinião dela, é frustrante que os casos apresentados em 2009 só agora comecem a entrar em juízo.

"Tivemos um período de violação sistemática dos direitos humanos entre 1984 e 1988, quando se montou um aparato repressivo centralizado muito grande. Pela primeira vez foram registrados desaparecimentos forçados, muitos casos de execuções extrajudiciais, de tortura", conta ela sobre os anos do governo de León Febres Cordero no Equador.

Mais tarde, em 2007, a monja-pedagoga detectou violações flagrantes nas comunidades, quando o modelo extrativista dos recursos naturais foi reforçado. "Um aspecto que não existia em outros momentos de grande repressão aos movimentos sociais é a utilização da justiça para perseguir os dirigentes, para ameaçar e exercer controle social".

Conquistas

Uma das mais recentes vitórias do trabalho da CEDHU foi a liberação de Javier Ramírez – que passou dez meses na prisão por liderar a oposição à exploração de cobre em larga escala em Intag, uma comunidade insurgente há décadas. A organização também denunciou o deslocamento da população de San Marcos, na província sul-amazônica de Zamora Chinchipe.

"Nove famílias que resistiam em vender suas terras foram desalojadas, suas casas foram queimadas. A capela e a escola que restaram foram incendiadas recentemente", descreve Monge, que é formada em antropologia e sociologia. "Não houve nem consulta prévia, nem realocação, nem indenização para essa gente."

Ela explica que seu trabalho é apoiar as comunidades para que conheçam seus direitos e as ferramentas legais básicas para defendê-los. "Apoiamos ações pacíficas", diz a monja, que em 1954 entrou para a ordem missionária de Maryknoll, nos Estados Unidos, e voltou a seu país em 1970.

Trabalho arriscado

Ainda que suas décadas de ativismo pelos direitos humanos na América Latina – além do Equador ela também atuou na Guatemala, em El Salvador e Panamá – tenha lhe rendido reconhecimento nacional, as reações ao seu trabalho nem sempre foram boas.

"No desalojamento da comunidade de San Marcos falamos de deslocamento forçado, o que foi mal visto pelo governo. Com um vídeo com depoimentos nós fizemos frente à acusação de que estávamos mentindo." Como não era possível negar os fatos, a resposta do governo foi que se tratava de casos isolados, mas ninguém admitiu a responsabilidade.

Mas qual é, então, o efeito de um trabalho como esse? "Creio que a denúncia põe em evidência, ao contrário da propaganda estatal, que os projetos de mineração não beneficiam as pessoas, nem a natureza, cujos direitos estão reconhecidos na Constituição de 2008", responde.

Ainda assim, Elsie Monge não sente que seu trabalho seja heróico. "Se você se compromete com uma causa, tem que assumir riscos como a deslegitimação e o descrédito", pontua. "Além do mais, não sou apenas eu, toda a equipe está comprometida com a vigência dos direitos humanos, e essa é minha outra fonte de força."