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Em 1986, Alemanha sucumbiu à genialidade de Maradona

25 de novembro de 2020

Para muitos, meia argentino teve o maior desempenho individual na história das Copas. Na final, a Argentina venceu a Alemanha, mas a campanha do bicampeonato ficou marcada pela "mão de deus" e o golaço contra Inglaterra.

Foto: imago sportfotodienst

A Copa do Mundo de 1986 entrou para a história com duas cenas tão emblemáticas quanto geniais. Foi provavelmente a melhor Copa de um atleta só – é inquestionável que Diego Armando Maradona carregou a seleção argentina nas costas. A Copa ficou marcada para sempre pelo gol antológico do "Pibe de Oro", em arrancada do meio-campo, e pela famosa "mão de deus", que driblou até a arbitragem, e deu a vitória contra a Inglaterra.

Depois da decepção em 1982, quando caiu no forte grupo com Brasil e Itália, a Argentina foi para o Mundial de 1986 com a melhor equipe formada em anos e com o agora capitão Maradona no auge de sua forma. O treinador Carlos Bilardo montou um time nas características típicas do futebol argentino: robusto e brigador na defesa e altamente técnico no setor ofensivo.

Com Nery Pumpido, a Albiceleste teve provavelmente o último arqueiro seguro em sua seleção (ainda que se discuta o papel de Sergio Goycochea, em 1990, e Sergio Romero, na Copa atual). A zaga era composta por José Cuciuffo na direita, o xerife Oscar Ruggeri e José Luis Brown no centro, e Julio Olarticochea na esquerda. Os dois volantes, Sergio Batista e Ricardo Giusti, garantiam a liberdade para o quarteto criativo brilhar: o veloz Héctor Enrique, o cerebral Jorge Burruchaga, o craque Diego Maradona e o veterano, mas oportunista centroavante Jorge Valdano.

Mas o torneio não começou de maneira contundente para a seleção argentina. Na fase de grupos passou em primeiro, sem muito esforço e sem grandes dificuldades. Na estreia, vitória contra a Coreia do Sul, por 3 a 1, com dois gols de Valdano e um de Ruggeri. No jogo seguinte, um empate em 1 a 1 com a Itália, com o primeiro gol de Maradona no Mundial. E fechando o Grupo A, uma vitória por 2 a 0 contra a Bulgária, com Valdano e Burruchaga balançando as redes.

Diego Maradona (esq.), no segundo seguinte ao que ele chamaria depois do jogo de "La mano de Dios".Foto: picture-alliance / Sven Simon

Duelo revive Guerra das Malvinas

Depois de eliminar os arquirrivais uruguaios por 1 a 0 nas oitavas de final, a Argentina protagonizou um embate histórico contra a Inglaterra. Era o primeiro jogo entre as duas seleções após a Guerra das Malvinas – conflito armado entre as duas nações pela soberania do arquipélago no sul do Oceano Atlântico.

Se na batalha sangrenta entre 2 de abril e 14 de junho de 1982, a Argentina teve mais de 640 soldados mortos, outros 1.100 feridos e saiu como derrotada ostensiva, a seleção deu o troco em campo. Protegido por um fortíssimo esquema de segurança, o Estádio Azteca, na Cidade do México, recebeu um público de 114.580 torcedores para acompanhar uma das maiores rivalidades do futebol.

No segundo gol, Diego Maradona driblou a metade do time inglês. Para muitos, o gol mais bonito em CopasFoto: picture alliance/dpa

Rivalidade que teve na Copa do Mundo de 1966 um de seus momentos mais conturbados. Naquele Mundial, as duas seleções também se enfrentaram pelas quartas de final e foi uma partida extremamente violenta. Até que o árbitro alemão Rudolf Kreitlein expulsou Rattín e soltou um monte de palavrões e impropérios para cima do zagueiro argentino.

Rattín, inconformado, se negou a deixar o gramado exigindo um tradutor para entender o motivo de sua expulsão. Quando finalmente se retirou, o zagueiro zombou da bandeira inglesa e sentou no tapete vermelho exclusivo da rainha do Reino Unido. Desde então, os ingleses mais exaltados tratam os argentinos como "animais" e "selvagens".

O primeiro tempo foi morno, mas o segundo foi decidido em apenas dez minutos. Aos seis minutos, Maradona disputou a bola, pelo alto, com o goleiro Peter Shilton e mesmo sendo 18 centímetros mais baixo que o inglês, milagrosamente colocou a bola para dentro do gol.

Mesmo com os protestos, o gol foi validado pelo árbitro tunisiano Ali Bin Nasser, que não viu o toque de mão de Maradona, que disse após a partida que "se houve mão na bola, foi a mão de Deus". Quatro minutos depois, Maradona se redimiu com uma obra-prima. O "Pibe" pegou a bola no centro do campo, driblou cinco ingleses e tocou na saída de Shilton. Poucos se lembram que Gary Lineker ainda diminuiu no final da partida.

Final de cinco gols

Rudi Völler (de verde), faltando dez minutos para o fim do tempo regulamentar, empatou para a AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa

Nas semifinais, Maradona voltou a ser decisivo, marcou os dois gols contra a Bélgica e recolocou a Argentina na final, oito anos depois do título de 1978. Pela frente e temida Alemanha, que tinha os astros Karl-Heinz Rummenige, Lothar Matthäus, Andreas Brehme, Felix Magath e Rudi Völler.

Como de costume, a seleção alemã também cresceu durante o torneio e teve na semifinal, quando eliminou a França de Michel Platini, por 2 a 0, a sua melhor atuação. Antes precisou da disputa por pênaltis para superar o anfitrião México, nas quartas, e um gol aos 42 do segundo de Lothar Matthäus contra Marrocos, nas oitavas. Na fase de grupos, empatou com Uruguai (1 a 1), venceu a Escócia (2 a 1) e perdeu para a Dinamarca (2 a 0).

Na final, a Alemanha apostou na marcação individual de Matthäus na estrela argentina. Ela funcionou, mas não nos 90 minutos. A Argentina abriu 2 a 0 com o zagueiro Brown e o centroavante Valdano, mas Rummenigge e Völler empataram para os alemães, faltando dez minutos.

Visivelmente cansada com o sol de rachar do México, a Alemanha tentava levar o jogo de maneira calma, sem velocidade. Porém, em um dos raros descuidos de Matthäus, Maradona fez a diferença. O craque, entre dois adversários, deu um passe magistral para Burruchaga fazer o terceiro gol dos argentinos, decretando a vitória por 3 a 2, aos 38 minutos do segundo tempo. Karl-Heinz Rummenigge entrou assim para a história como único capitão a ser duas vezes vice-campeão mundial (1982 e 1986), graças a um lampejo genial de Maradona.

Jorge Burruchaga tocou na saída do goleiro alemão Harald Schumacher para dar o bicampeonato à ArgentinaFoto: picture-alliance/dpa

Ficha técnica

Argentina 3 x 2 Alemanha

Local: Estádio Azteca, Cidade do México (29/06/1986)

Arbitragem: Romualdo Arppi Filho (Brasil) auxiliado por Erik Fredriksson (Suécia) e Berny Ulloa Morera (Costa Rica).

Gols: José Luis Brown (23'/1T), Jorge Valdano (10'/2T), Karl-Heinz Rummenigge (29'/2T), Rudi Völler (35'/2T) e Jorge Burruchaga (38'/2T)

Cartões amarelos: Diego Maradona (17'/1T), Lothar Matthäus (21'/1T), Hans-Peter Briegel (17'/2T), Julio Olarticoechea (32'/2T), Héctor Enrique (36'/2T), Nery Pumpido (40'/2T)

Argentina: Nery Pumpido; José Cuciuffo, Oscar Ruggeri, José Luis Brown, Julio Olarticoechea; Jorge Batista, Ricardo Giusti, Héctor Enrique, Jorge Burruchaga (Marcelo Trobbiani 45'/2T), Diego Maradona; Jorge Valdano. Técnico: Carlos Bilardo.

Alemanha: Harald Schumacher; Thomas Berthold, Karl-Heinz Förster, Ditmar Jakobs, Hans-Peter Briegel, Andreas Brehme; Norbert Eder, Lothar Matthäus, Felix Magath (Dieter Hoeness 17'/2T); Karl-Heinz Rummenigge e Klaus Allofs (Rudi Völler 1'/2T). Técnico: Franz Beckenbauer.

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