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Em 2021, mundo teve menos esperança e felicidade

Christopher Nehring
28 de dezembro de 2021

Onde moram as pessoas mais felizes? E as mais pessimistas? Uma pesquisa da agência Gallup mediu o índice de felicidade, de esperança e de otimismo no mundo em 2021. Seu presidente, Kancho Stoychev, analisa os resultados.

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Foto: picture alliance/dpa/M. Schutt

No final de 2021, a esperança e a felicidade global estão diminuindo em todo o mundo em comparação com o ano passado. O medo de dificuldades econômicas permanece alto e em constante crescimento. A pandemia global de covid-19 ainda afeta claramente as esperanças, medos e expectativas do mundo − mas há diferenças significativas por região e por país.

É o que aponta a tradicional pesquisa de fim de ano da Associação Gallup Internacional (GIA, do nome em inglês), com seu Índice de Esperança, Índice de Felicidade e expectativas econômicas divulgada nesta terça-feira (28/12). A pesquisa global, iniciada em 1979, é mais longa do mundo. 

Segundo a pesquisa, apenas 38% da população mundial acreditam que 2022 será melhor que 2021, 28% esperam um ano pior e 27% acreditam que em 2022 não haverá mudanças em relação a 2021. As pessoas na Indonésia são as mais esperançosas (76% esperam um ano melhor). Já a esperança é baixa no Afeganistão (56% esperam um ano pior).

As expectativas sobre a economia mostram ansiedade. Entretanto, a preocupação não aumentou em comparação com o ano passado. Hoje, 26% da população espera prosperidade econômica para seu país no próximo ano, 41% estão preparados para dificuldades econômicas e 26% pensam que 2022 será o mesmo que 2021 em termos de economia.

Na Nigéria (61% de otimismo), o otimismo econômico prevalece visivelmente contra o pessimismo.  As expectativas de dificuldades econômicas são mais predominantes na Turquia (72%).

As pessoas na Colômbia (83%), são mais felizes de acordo com sua própria avaliação. As mais infelizes estão no Afeganistão (36% afirmam ser infelizes ou muito infelizes).

A DW conversou sobre os resultados da pesquisa com Kancho Stoychev, presidente da Associação Gallup Internacional.

DW: Como foi 2021 para o senhor e o que espera de 2022?

Kancho Stoychev: Minha memória só se lembra das coisas boas, então todo ano é um grande ano para mim. Quanto ao futuro, se bem me lembro, foi Einstein quem disse que, se você quiser fazer Deus rir, conte-lhe seus planos.

Só há uma coisa que sabemos com certeza é que, felizmente, não podemos conhecer nosso futuro, embora pensemos que podemos. Portanto, sinto-me muito mais à vontade para falar de desejos do que de expectativas.

O que a tradicional pesquisa de final de ano da Gallup nos diz sobre os anos 2021 e 2022?

Ela nos diz que a opinião pública mundial está seriamente preocupada com as perspectivas econômicas e espera um aprofundamento da crise. A Europa lidera neste aspecto, especialmente a Europa Oriental, onde uma média de cerca de dois terços mostra um agravamento das expectativas. O apoio financeiro sem precedentes do Estado a nível pessoal e empresarial desempenhou um papel positivo no ano passado e, de certa forma, limitou a propagação do pessimismo em massa. No entanto, parece que o pior ainda está por vir.

Kancho Stoychev, presidente da Gallup InternacionalFoto: Gallup International Association

O ano passado foi marcado pela esperança de que as vacinas contra a covid-19 acabariam com a pandemia. Este ano, no entanto, termina com mais perguntas do que respostas. O crescimento da inflação foi antecipado após a impressão recorde de dinheiro, mas, em vez de alguns meses, isto continuará por anos. Com a ruptura das cadeias globais de abastecimento e a explosão dos preços da energia, o descontentamento das massas, as tensões políticas crescerão, não apenas − e nem mesmo predominantemente − nos países menos desenvolvidos.

Qual é o país mais feliz do mundo?

Tradicionalmente, conduzimos este estudo de rastreamento global há mais de 40 anos. O país mais feliz não está entre os mais ricos e nem mesmo entre os países mais desenvolvidos. Este ano, a Colômbia vem em primeiro lugar, com uma pontuação de 79%. Normalmente, países com uma população mais jovem estão à frente neste ranking.

As sociedades mais ricas são geralmente mais velhas e menos felizes. Mas admitir que ser feliz ou infeliz inclui muitos preconceitos ou estigmas culturais, psicológicos e nacionais bastante específicos. A felicidade é mais frequentemente percebida por uma ausência: a ausência de doença, pobreza ou opressão. É uma atitude bastante subjetiva que não pode ser medida com um microscópio, mas que desempenha um papel importante em nossas vidas.

Seu país de origem, a Bulgária, é o segundo país mais pessimista do planeta, mais ainda do que o Afeganistão. Por que isso acontece?

Ao medir o otimismo e o pessimismo, estamos registrando atitudes públicas − não pessoais. O tradicional humor pessimista dos búlgaros se deve principalmente à desconfiança da elite, especialmente da elite política. O pessimismo na Bulgária é realismo; não se deve a sonhos públicos fracassados. É antes uma condenação do modo de funcionamento da sociedade búlgara e, nesse sentido, é uma atitude positiva e produtiva.

Nossa medida da felicidade é uma autoavaliação. E aqui podemos ver que os búlgaros são bastante felizes ou pelo menos tão felizes quanto, por exemplo, os alemães − com a diferença de que no final deste ano uma percentagem um pouco mais alta de alemães se declara infeliz e uma um pouco mais alta de búlgaros se declara feliz.

O que o estudo revela sobre a Alemanha?

Os alemães parecem ser significativamente menos otimistas do que eram nos últimos anos e, nesse aspecto, estão abaixo da média global e até mesmo da média da União Europeia (UE). A ansiedade em relação à economia também é maior. Quase 50% expressaram felicidade pessoal, enquanto o mesmo índice em países comparavelmente desenvolvidos como Japão e EUA é muito mais alto.

O que é visível na pesquisa é que a consciência dos alemães está de alguma forma irritada, cansada e, de certa forma, não confiante em si mesma. No fundo disto pode estar uma incerteza complexa − sobre os bloqueios, as vacinas, a composição do novo governo, o fraco desempenho da UE, o forte confronto entre o Ocidente e a Rússia ou sobre a China.

Como a pandemia do coronavírus influencia as esperanças e a felicidade?

As pessoas ao redor do mundo estão ficando cansadas. O planejamento do futuro costumava ser a principal preocupação: Para onde vou nas minhas próximas férias? Que carro novo vou comprar? Para isso, sabíamos as respostas. Agora, estamos de volta ao "normal", ao verdadeiro normal de não conhecer o futuro − e percebemos esta nova realidade como anormal.

Como medir a esperança, a felicidade e o otimismo?

Pesquisadores sempre medem características suaves e subjetivas porque a consciência humana como tal é suave e subjetiva. Mas, ao medir características suaves e subjetivas, obtemos algo muito forte e muito objetivo, ou seja, a opinião pública, que é uma poderosa sanção coletiva em uma sociedade democrática, um martelo público. Assim, ao pesquisar pessoas ao redor do mundo, não procuramos suas atitudes ou preferências individuais, mas tentamos refletir as percepções públicas.

Após anos de pesquisas e medindo felicidade, esperança e expectativas, o senhor se considera um otimista?

Alguns dos pensadores mais conhecidos dizem que ser otimista e sábio é incompatível. É por isso que prefiro não ser um otimista.

 

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