Em Bagdá, Kerry promete apoio dos EUA no combate ao "Estado Islâmico"
10 de setembro de 2014
Secretário de Estado americano viaja ao Oriente Médio para reunir aliados para a nova estratégia dos EUA na luta contra o EI. Em Bagdá, ele garante a reconstituição e treinamento do Exército do Iraque.
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Dois dias após a posse do novo primeiro-ministro do Iraque, Haidar al-Abadi, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, visitou a capital iraquiana nesta quarta-feira (10/09). Em Bagdá, Kerry afirmou que o presidente dos EUA, Barack Obama, vai apresentar em breve um plano de batalha para combater o "Estado Islâmico" (EI).
Além disso, o secretário declarou que a reconstrução do Exército iraquiano faz parte da estratégia global de Obama. "O Exército do Iraque será reconstituído e treinado por meio de diversas estratégias diferentes, não só com a ajuda dos Estados Unidos, mas também de outros países", afirmou Kerry.
O político americano não deu detalhes dos planos, mas garantiu que nem os Estados Unidos nem o resto do mundo vão ficar parados observando os jihadistas espalhar o seu terror. "Tanto os Estados Unidos quanto o resto do mundo precisam apoiar essa batalha iraquiana", disse.
Em Bagdá, Kerry se encontrou com os novos líderes iraquianos e prometeu apoio americano no combate ao EI. O secretário anunciou a doação de 48 milhões de dólares para agências da ONU e outras organizações de ajuda humanitária. O dinheiro é destinado a aliviar o sofrimento das cerca de 1,8 milhão de pessoas que foram deslocadas pelo EI.
Apelo à comunidade internacional
O primeiro-ministro Abadi aproveitou a visita para pedir ajuda da comunidade internacional na luta contra os radicais islâmicos. "É preciso agir rápido para barrar a expansão dessa úlcera cancerígena."
"É claro que é nosso papel defender nosso país, mas a comunidade internacional também tem a responsabilidade de proteger o Iraque e toda a região. O que está acontecendo na Síria está vindo para o Iraque. Há um papel para a comunidade internacional, para as Nações Unidas e para os Estados Unidos: agir imediatamente para parar essa ameaça", afirmou Abadi.
Kerry aproveitou a oportunidade para elogiar a nova liderança iraquiana e o compromisso assumido por ela no combate aos jihadistas e também em promover reformas políticas no país. "Nós estamos muito animados", declarou.
Bagdá foi a primeira parada de Kerry na viagem pela região para conseguir apoio para a nova estratégia americana no combate aos radicais islâmicos do EI, que controlam parte do Iraque e da Síria. O secretário afirmou que a manobra só será bem-sucedida com o apoio "de uma coalizão ampla de parceiros ao redor do mundo".
De Bagdá, Kerry seguiu para a Jordânia, onde se encontra com o rei Abdullah 2º. Nesta quinta-feira, o secretário se encontra na Arábia Saudita com representantes sauditas, além de lideranças do Kuwait, dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar, Jordânia, Egito, Turquia e Omã.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.