Em busca de um governo perdido
1 de novembro de 2005A política alemã tem trazido uma supresa atrás da outra. A mais nova foi desencadeada pela recusa do presidente do SPD, Franz Müntefering, em se candidatar à reeleição do cargo que ocupa. Uma decisão anunciada na última segunda-feria (31/10).
As palavras de Müntefering surtiram efeitos não apenas nos bastidores social-democratas em Berlim, mas ecoaram na Baviera, de onde o atual governador e presidente da União Social Cristã (CSU), Edmund Stoiber, mandou avisar que não pretende sair mais de onde está.
Ou seja, Stoiber, que deveria assumir em Berlim a pasta da Economia e Novas Tecnologias sob um governo de Angela Merkel, acaba de desistir. O político bávaro declarou que sua decisão de não sair da Baviera para participar do governo em Berlim não depende mais de quaisquer direções a serem tomadas pelo SPD.
Cadeia de despedidas
A ciranda de nomes que vão e vêm no atual cenário político alemão, porém, não acaba aí. A parlamentar Andrea Nahles, da ala esquerda do SPD e cuja eleição para o posto de secretária-geral do partido levou à renúncia de Müntefering, declarou à imprensa que pode não assumir ao cargo para o qual acaba de ser escolhida. Considero tudo possível", afirmou a deputada à emissora Deutschlandfunk.
Erosão do poder
Franz Müntefering, ao deixar a presidência do SPD, deixa um vácuo a ser preenchido. Inertes frente à decisão inesperada, as lideranças do partido parecem confusas e desorientadas.
Para o diário berlinense Der Tagesspiegel, a renúncia do presidente social-democrata leva inevitavelmente "a uma erosão do poder", podendo levar ao fracasso de uma coalizão de governo que nem ao menos começou.
Enquanto a mídia ataca a "estratégia maquiavélica de Müntefering" (Der Spiegel), o SPD escolhe Matthias Platzeck, governador do Estado de Brandemburgo, para a presidência do partido.
Nomes e nomes
Platzeck, embora já tenha 51 anos, é apontado como "a esperança jovem" do SPD. Nascido na Alemanha Oriental e com um passado nos quadros do Partido Verde, seu nome encontra boa aceitação entre os social-democratas. Além disso, ele conduziu até agora, ao lado de Müntefering, as negociações com a CDU/CSU.
Cenário fragmentado
Indiretamente responsáveis por essa ciranda quase inexplicável ao redor do poder em Berlim são os "novos esquerdistas": os do Partido de Esquerda, ex-PDS, facção derivada do partido único da ex-Alemanha Oriental, e os dissidentes da social-democracia no Oeste alemão, sob a liderança de Oskar Lafontaine.
Afinal, se eles não tivessem angariado tantos votos nas últimas eleições, é provável que a CDU de Merkel ou o SPD de Schröder já tivessem selado as tradicionais coligações (com liberais e verdes respectivamente) e o país já tivesse, há muito, um (ou uma) chanceler em ação.