Em Cannes, equipe de "Aquarius" protesta contra impeachment
Albert Steinberger17 de maio de 2016
Elenco do filme brasileiro denuncia "golpe" no país, exibindo cartazes com palavras como "O Brasil não é mais uma democracia". "Precisamos ter consciência do que é importante", declara a atriz Sônia Braga.
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Veja protesto em Cannes
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A equipe do filme brasileiro Aquarius aproveitou a estreia de gala no 69º Festival de Cannes, na França, para protestar contra o processo de impeachment contra Dilma Rousseff e o governo Michel Temer. Liderado pelo diretor Kleber Mendonça Filho, o grupo exibiu cartazes nas escadarias do Grand Théàtre Lumière, diante de um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas de todo o mundo.
"O mundo não pode aceitar a ilegalidade desse governo", "Um golpe aconteceu no Brasil", "54.501.118 de votos foram queimados!", "Chauvinistas, racistas e trambiqueiros como ministros”, "O Brasil não é mais uma democracia" e "Vamos resistir", diziam algumas das mensagens.
A manifestação pegou de surpresa os comentaristas da transmissão ao vivo em francês. "Nesta tarde uma dimensão política foi trazida ao Festival de Cannes", disse um deles. "No próximo mês de agosto, os Jogos Olímpicos serão realizados no Rio de Janeiro, o evento promete", completou.
Dentro do cinema, o grupo voltou a abrir os cartazes e recebeu aplausos da plateia. Pouco depois da manifestação, Dilma, afastada do cargo, agradeceu ao protesto por meio de sua conta oficial no Twitter.
Ficção e realidade
Aquarius, que disputa a Palma de Ouro, tem como estrela principal a atriz veterana Sônia Braga, que já havia vindo a Cannes quatro vezes. Ela interpreta Clara, moradora do último prédio antigo da praia de Boa Viagem, no Recife, e que luta para não abandonar o imóvel.
"A sociedade nos pressiona para fazermos coisas que não queremos e precisamos ter consciência do que é importante, do que queremos e do que a comunidade quer", disse a atriz numa entrevista para a transmissão oficial do evento.
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A atriz e o diretor Kleber Mendonça Filho se conheceram em junho de 2015. Poucos meses depois, em agosto, os dois começaram a filmar Aquarius.
"Quando fazemos um filme, pegamos coisas que esperamos ser honestas e fidedignas com o que está acontecendo no país, e eu acho que o filme tem a ver com o que está acontecendo no Brasil agora", disse o diretor Kleber Mendonça Filho numa entrevista oficial do evento.
O elenco conta ainda com Irandhir Santos, Humberto Carrão e Maeve Jinkings. Ao todo 35 pessoas que trabalharam no filme compareceram a estreia em Cannes.
12 candidatos quentes à Palma de Ouro em 2016
O novo Woody Allen, "Café Society", abriu hors-concours a 69ª edição do Festival de Cannes. Mas a coisa fica séria com a mostra competitiva, que traz veteranos e talentos promissores entre os cineastas.
Foto: Festival de Cannes
Pedro Almodóvar
Antes da abertura do 69º Festival de Cannes, o diretor Pedro Almodóvar declarou que pode perfeitamente passar sem uma Palma de Ouro. Da boca para fora, tipo "a raposa e as uvas"? Difícil acreditar que o espanhol enjeite um dos principais prêmios cinematográficos do mundo caso seu drama de mãe e filha "Julieta" (na foto, a atriz Adriana Ugarte) consiga se impor diante dos demais 20 concorrentes.
Foto: Festival de Cannes
Irmãos Dardenne
Os belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne concorrem com "La fille inconnue" (A moça desconhecida), sobre uma jovem médica (Adèle Haenel) que se culpa por ter recusado cuidados a uma mulher em apuros. Casos os irmãos saiam este ano com o prêmio máximo do festival, vai ser quase injustiça, pois já o levaram para casa duas vezes, em 1999 e 2005.
Foto: Festival de Cannes
Ken Loach
Famoso por seu olhar tão implacável quanto carinhoso sobre as classes desfavorecidas, o inglês Ken Loach também já ostenta uma Palma de Ouro na estante. Sua nova película, "I, Daniel Blake", enfoca um homem de 59 anos forçado a recomeçar a vida após um infarto. Para tal, conta com a ajuda de uma mãe solteira de dois filhos.
Foto: Festival de Cannes
Cristian Mungiu
O romeno Cristian Mungiu é outro bom conhecido do festival na Côte d'Azur, já tendo vencido em 2007 com o tocante drama de aborto "4 meses, 3 semanas e 2 dias". Sua atual contribuição, "Bacalaureat", conta sobre um pai que coloca toda sua ambição na educação da filha. No entanto, pouco antes dos exames finais, acontecimentos imprevistos colocam em perigo os planos da dupla.
Foto: Festival de Cannes
Asghar Farhadi
O cineasta iraniano Asghar Farhadi entrou para a seleção oficial no último momento, com seu recém-concluído "Forushande" (O vendedor). Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Urso de Ouro da Berlinale em 2011, aqui ele relata a história de um jovem casal cuja relação é profundamente afetada por uma mudança de casa e por ocorrências dramáticas.
Foto: Festival de Cannes
Olivier Assayas
Olivier Assayas é um dos quatro franceses que participam da mostra competitiva em Cannes. "Personal shopper" é uma história de fantasmas contemporânea, ambientada no submundo da moda parisiense. A americana Kristin Stewart ("Crepúsculo") representa uma mulher insatisfeita com o emprego e saudosa do irmão gêmeo morto. Uma das numerosas coproduções alemãs do festival.
Foto: Festival de Cannes
Jim Jarmusch
Já vencedor da Palma com um curta-metragem em 1993, o veterano Jim Jarmusch é um dos três americanos concorrentes em 2016. Ele apresenta "Paterson", sobre o cotidiano de um motorista de ônibus (Adam Driver) em Paterson, Nova Jersey, para quem cada dia é igual aos outros – mas sempre diferente.
Foto: Festival de Cannes
Jeff Nichols
Três meses depois de enfrentar a competição no Festival de Berlim, o americano Jeff Nichols tem a honra de estar entre os 21 grandes concorrentes em Cannes, com "Loving". O título se refere ao processo "Loving versus Virginia", de 1967, em que o estado da Virgínia, no leste dos Estados Unidos, aboliu a proibição de casamentos "interraciais".
Foto: Festival de Cannes
Sean Penn
"The last face", quinta direção do também ator Sean Penn, eleva significativamente o coeficiente hollywoodiano no festival francês. A chefe de uma organização humanitária (Charlize Theron) e um médico (Javier Bardém) lutam para salvar a própria relação amorosa, tendo como pano de fundo a desesperadora situação nos países africanos Sudão e Libéria, devastados por guerras e catástrofes naturais.
Foto: Festival de Cannes
Paul Verhoeven
Após anos de cinema não comercial na Holanda, Paul Verhoeven foi para Hollywood, emplacando sucesso mundial com "Instinto selvagem", de 1992 – e depois colecionou fiascos. De volta à Europa, ele leva a Cannes a coprodução franco-alemã "Elle". Isabelle Huppert encarna a inescrupulosa diretora de uma firma de vídeo-games, cuja vida muda depois que ela é atacada em casa por um agressor mascarado.
Foto: Festival de Cannes
Nicolas Winding Refn
Há anos o dinamarquês Nicolas Winding Refn vem atraindo a atenção dos meios cinematográficos com histórias excêntricas, personagens bizarras, humor negro e uma boa dose de violência. Produzido pelos estúdios Amazon, "The Neon Demon" injeta elementos de horror ao narrar a trajetória de uma jovem e bela modelo em Los Angeles.
Foto: Festival de Cannes
Maren Ade
Após oito anos de vacas magras em Cannes para o cinema alemão, tendo como único consolo as muitas coproduções, "Toni Erdmann", de Maren Ade, atrai atenções e desperta esperanças na seleção oficial. A diretora e roteirista de 39 anos aborda uma complicada relação de pai e filha, protagonizada por Sandra Hüller e Peter Simonischek.