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Em crise com Moscou, Europa olha para Turquia em busca de energia

Senada Sokullu (rc)5 de maio de 2014

Em posição geográfica estratégica, país pode se tornar importante corredor de gás natural e investe alto nisso. Para os europeus, um fornecedor adicional e confiável, mas ainda não a libertação da dependência da Rússia.

Foto: picture-alliance/ dpa/dpaweb

A proximidade da Turquia com a região do Cáucaso, Ásia Central, Oriente Médio e Europa deixa o país em posição privilegiada para a distribuição de recursos energéticos. Desde o agravamento da crise na Ucrânia, o país subiu ao topo da lista dos parceiros estratégicos da Europa em relação a petróleo e gás natural.

"Estamos observando um interesse cada vez maior das empresas internacionais e europeias no mercado energético turco", afirma Christian Grun, da empresa alemã de serviços energéticos ConEnergy.

Tal interesse se justifica for diversos fatores. A economia turca cresceu quase 10% em 2010 e 2011; o país tem uma população jovem, com média de 28 anos, o que contribui para o seu dinamismo; e sua posição geoestratégica é privilegiada.

A liberalização do mercado interno, porém, representa um dos grandes desafios para o país. "Os monopólios estatais estão em decadência, e o mercado se abre às empresas turcas e internacionais", observa Grun. Muitos dos fornecedores do setor energético vêm no processo de liberalização uma oportunidade ideal para entrar nesse mercado.

"Alguns dos pesos-pesados do setor energético europeu querem entrar no mercado, entre eles as grandes empresas alemãs EON e RWE. Muitos outros as seguirão", completa a especialista.

Christian Grun, da ConEnergy, observa maior interesse na TurquiaFoto: Senada Sokollu

Grun diz que a crise política interna, que envolve alegações de corrupção contra o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e a censura imposta por ele à internet, não afugenta investidores. A Turquia trabalha atualmente em diversos projetos para diversificar o abastecimento de energia na região.

Um exemplo é o corredor de gás do sul, que busca transportar gás natural do Mar Cáspio e do Oriente Médio à Europa sem atravessar o território russo. Esse corredor deverá ser abastecido pelo gasoduto Transanatólia (Tanap), que almeja transportar o gás natural do Azerbaijão para a Europa através da Turquia.

Evitando o território russo

O jornal turco Hurriyet noticiou que a construção desse projeto de mais de 32 bilhões de euros deverá ser iniciada em 2015, e concluída quatro anos mais tarde. O Tanap deverá transportar 16 bilhões de metros cúbicos do campo de gás natural Shah Deniz II do Azerbaijão. Dez milhões de metros cúbicos de gás deverão ter como destino a Europa, e outros seis milhões ficarão na Turquia.

O governo regional do Curdistão, no norte do Iraque, deverá desempenhar um papel importante como parceiro energético da Turquia. A região autônoma fechou acordo para o início das exportações de 4 bilhões de metros cúbicos de gás por ano para a Turquia até 2017, segundo noticia a imprensa turca. Até 2020, deverão ser 20 bilhões de metros cúbicos.

A região do leste do Mediterrâneo também vem atraindo a atenção da indústria global de gás natural nos últimos anos, em particular graças à descoberta de fontes próximas à costa de Israel e do Chipre.

A imprensa turca especula que os cipriotas poderão se tornar exportadores de gás através de gasodutos, inclusive para a Turquia, ainda que algumas situações não resolvidas entre os dois países possam acabar impedindo os negócios.

O especialista turco em energia Mehmet Ogutcu diz que, até o momento, o Tanap é o único projeto que deve ser levado em consideração. Mas, mesmo que o gasoduto saia como planejado, ele não acredita que a Turquia possa se tornar uma potência energética.

O especialista em energia, Mehmet OgutcuFoto: Senada Sokollu

"Para tal, não bastam 16 bilhões de metros cúbicos de gás, mas sim, entre 50 e 60 bilhões. Só a União Europeia precisa de mais de 250 bilhões de metros cúbicos, e a Turquia não conseguirá suprir essa demanda", afirma o especialista à DW.

Segurança energética

Apesar das muitas possibilidades que a Turquia representa para a Europa, ainda não se pode falar em independência do fornecimento de gás russo, alerta Ogutcu. Ele observa que a Turquia poderá servir como um fornecedor adicional para permitir a segurança energética.

"A Turquia é um parceiro confiável, por pertencer à Otan, à OECD, ao Conselho Europeu e por aspirar a adesão à União Europeia. Dessa forma, o país pode contribuir para a diversificação da política energética da Europa", afirma o especialista.

A segurança do abastecimento energético da Turquia não está de forma alguma afetada pela atual crise envolvendo a Rússia, e não deverá correr qualquer risco nas próximas semanas, afirma Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia.

"A Turquia tem papel fundamental na política energética global. Através de sua posição, o país pode servir como um país de trânsito de energia confiável", afirmou Birol à DW.