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Pequena vitória

17 de março de 2011

"Samurais atômicos", assim são denominados heróis que lutam contra catástrofe nuclear. Aiea anuncia, porém, que número de feridos em Fukushima já soma mais de 20. Na central avariada, colunas de vapor trazem esperança.

Fumaça no reator 4: mau sinalFoto: dapd

Após dias de luta inútil em Fukushima 1, a Tepco, operadora da central nuclear avariada, registrou pelo menos uma pequena vitória nesta quinta-feira (17/03). Colunas de vapor no bloco 3 indicam que os jatos d'água lançados por helicópteros e por canhões, a partir da terra, teriam atingido o reator superaquecido.

Porém o governo mantém o estado de emergência, e a situação permanece dramática. Desde o terremoto na última sexta-feira, equipes de técnicos tentam evitar o derretimento total dos núcleos dos reatores em Fukushima, que teria consequências catastróficas. Fumaça voltou a irromper do bloco 2, onde na terça-feira uma explosão danificou o vaso de contenção primária do reator. No bloco 4, a sexta-feira e sábado próximos poderão ser decisivos.

Segundo a agência de notícias japonesa Jiji, a Tepco lançou um apelo por novos voluntários para os trabalhos de emergência na usina Fukushima 1. Consta que cerca de 20 funcionários, tanto da operadora da usina quanto de outras empresas, atenderam ao apelo. Entre eles, um homem de 56 anos, prestes a se aposentar e com décadas de experiência na produção de energia elétrica. A Tepco não confirmou as informações.

No momento, 50 trabalhadores lutam para evitar uma catástrofe ainda maior em Fukushima. Segundo comunicado da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), divulgado nesta quinta-feira em Viena, o número de feridos na central nuclear já soma 23. Pelo menos 20 pessoas sofreram exposição à irradiação.

Entre os feridos estão funcionários da Tepco, empregados subcontratados e quatro membros do serviço de proteção de catástrofes, disse o comunicado.

Helicóptero das Forças Armadas japonesas lança água sobre bloco 3 da usina (foto da NHK TV)Foto: AP

"Samurais atômicos"

As manchetes sensacionalistas falam em "samurais atômicos", "combatentes kamikazes" que servem até a morte. Elas se referem àqueles homens que tentam resfriar os reatores e restabelecer o fornecimento de energia na usina nuclear de Fukushima, sob condições extremas.

Trajando vestes protetoras extremamente leves, eles sabem que, a rigor, participam de uma missão suicida, pois sofrerão – ou já sofrem – as consequências da longa exposição a altas doses de radiação.

Os japoneses são realmente assim: disciplinados até a morte, praticamente incapazes de mostrar dor?

Segundo o articulista da Deutsche Welle Alexander Freund, tais estereótipos nacionais são uma ofensa, não só às vítimas no Japão, como a todos aqueles que sofrem com elas, que se preocupam por amigos, parentes e colegas.

Necessidade de heróis

Disciplina tem grande valor na cultura nipônicaFoto: AP

Os ajudantes anônimos em Fukushima não se sacrificam simplesmente pelo bem comum, por motivação heróica, explica o jornalista. Eles são movidos por um profundo senso de dever. Não pelo fato de serem japoneses, mas porque não há alternativa: se forem embora, tudo está perdido.

O fato de agirem voluntariamente é outro detalhe que os distingue dos jovens pilotos kamikazes, enviados para morte por nacionalismo fanático na Segunda Guerra Mundial, lembra Freund.

Por mais patéticos que possam parecer seus esforços, nas horas de ameaça extrema talvez seja necessária gente disposta a se submeter ao perigo, evitando que outros sucumbam a ele, ou pelo menos adiando o desenlace trágico, especula o articulista.

Os japoneses certamente prezam a própria vida tanto quanto todos os outros humanos. Contudo têm uma forma de lidar com a dor e a aflição diferente da de outras culturas. Em geral, só compartilham esses sentimentos com os entes próximos, com os pais ou os parceiros, mas jamais publicamente, evitando sempre sobrecarregar estranhos com as próprias preocupações.

É claro que os japoneses choram tão dolorosamente quanto nós, numa situação análoga. Sem dúvida, também maldizem a política de informação apaziguadora, ou o caos organizatório. Mas via de regra – justamente – não o fazem em público. Freund insiste: não devemos nos deixar iludir pelas diferenças culturais, devemos mostrar compaixão para com os japoneses. Pois a sua dor é universal.

Autor: Alexander Freund / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque

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