Em gafe, governador ignora que Merkel não é mais chanceler
Elizabeth Schumacher
10 de dezembro de 2021
Nem todos estão prontos para se despedir de Angela Merkel: gabinete do governador do estado de Hessen envia convite para coletiva de imprensa após reunião do líder com a "senhora chanceler". Mas encontro foi com Scholz.
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Após 16 anos no poder, não é de admirar que a ex-chanceler federal Angela Merkel ainda seja a líder da Alemanha na cabeça de muitos. Afinal, faz apenas um dia que a política da União Democrata Cristã (CDU) entregou o cargo ao social-democrata Olaf Scholz, seu ex-vice-chanceler.
Alguém no gabinete de Volker Bouffier, governador do estado de Hessen e colega de partido de Merkel, não parece estar pronto para virar a página tão rapidamente.
Quem é o sucessor de Angela Merkel?
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Um convite à imprensa emitido pelo gabinete de Bouffier nesta quinta-feira (09/12) convocou jornalistas a ouvirem "uma declaração do governador de Hessen, Volker Bouffier, após a conferência de líderes de estados com a senhora chanceler".
O convite usava o termo Bundeskanzlerin, que é o feminino de chanceler federal em alemão. Em 2005, muito se falou sobre usar o termo pela primeira vez em vez de Bundeskanzler (o chanceler). Agora, ao que parece, muitos podem ter dificuldade em voltar para a palavra masculina.
A agência de notícias alemã KNA foi o primeiro veículo a identificar e compartilhar a gafe do gabiente de Bouffier.
Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), participou nesta quinta-feira de sua primeira reunião como chanceler federal com os governadores dos 16 estados alemães.
Em Hessen, onde fica a capital financeira da Alemanha, Frankfurt, a CDU de Merkel obteve maioria dos votos em todas as eleições federais em que a política democrata-cristã concorreu.
Em 2021, com a chanceler de longa data não disputando um quinto mandato, foi o SPD quem obteve a maioria dos votos no estado.
O que líderes mundiais dizem sobre Merkel
Após 16 anos de era Merkel, líderes políticos destacam o pragmatismo e sabedoria da chanceler federal da Alemanha, descrevendo-a como um polo de tranquilidade que fará falta à diplomacia europeia e mundial.
Foto: Reuters/M. Kappeler
Barack Obama, ex-presidente dos EUA: "Um exemplo!"
Merkel tem "bom humor, um pragmatismo sábio e um senso moral implacável", disse o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Na foto, Obama com Merkel numa cúpula do G7 na Baviera em 2015. "Tantas pessoas, meninas e meninos, homens e mulheres, tiveram um exemplo a seguir em tempos difíceis." E acrescentou: "Fiquei feliz em me tornar seu amigo."
Foto: Reuters/M. Kappeler
Joe Biden: "Uma grandiosa amiga"
Já o sucessor de Obama, Joe Biden, não é tão eufórico. O presidente americano elogiou Merkel como "uma grande amiga, uma amiga pessoal e amiga dos EUA" e descreveu o governo dela como "histórico". Embora ela se dê muito melhor com Biden do que com o antecessor dele, Donald Trump, a relação Merkel-Biden permaneceu fria.
Foto: Guido Bergmann/Bundesregierung/Getty Images
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu: "Um monumento!"
Representantes da União Europeia a cobrem de elogios. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse a ela: "Você é um monumento. O Conselho Europeu sem Angela é como Roma sem o Vaticano ou Paris sem a Torre Eiffel. Sentiremos falta de sua sabedoria, especialmente em tempos difíceis. Você é como uma bússola, e como uma luz que brilha no nosso projeto europeu."
Foto: Reuters/V. Mayo
Jean-Claude Juncker, ex-presidente da Comissão Europeia: "Obra de arte completa"
Poucos na UE têm tanta experiência quanto o ex-presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker. Ele conhece Merkel de inúmeros encontros de cúpula e diz: "Eu a valorizo como uma obra de arte completa, porque ela é feita de muitas partes." Em 16 anos, ela "fez muitas coisas certas e nada de fundamentalmente errado".
Foto: Reuters/K. Pfaffenbach
Emmanuel Macron, presidente da França: "Obrigado por suas lutas" pela Europa
O parceiro mais próximo de Merkel na Europa é o presidente francês Emmanuel Macron. Como nenhum outro, ele fez campanha pelo fortalecimento e aprofundamento da UE, frequentemente com Merkel, embora ela tenha se mostrado um pouco cética e hesitante. Mesmo assim, ele tuitou: "Obrigado, querida Angela, pelas lutas travadas pela nossa Europa."
Foto: John Thys/AFP/dpa/picture alliance
Boris Johnson, premiê britânico: "Engajamento histórico"
Boris Johnson foi um parceiro mais difícil. Ele foi fundamental para a saída de seu país da UE. Mesmo assim, Johnson, sempre brincando, distribuiu gentilezas durante a visita de despedida de Merkel em julho. Ele agradeceu à chanceler federal alemã por seu "engajamento histórico, não apenas pelas relações teuto-britânicas, mas pela diplomacia em todo o mundo".
Foto: David Rose/Daily Telegraph/empics/picture alliance
Tony Blair, ex-premiê britânico : "Ela manteve a unidade"
Se dependesse de Tony Blair, o Reino Unido teria ficado na UE. Nos primeiros anos do governo Merkel, o ex-premiê britânico disse: "Ainda podemos considerar um feito notável que ela tenha conseguido manter o bloco europeu unido, justamente na fase provavelmente mais difícil pela qual a Europa passou."
Foto: Gretel Ensignia/AP Photo/picture alliance
Alexander Schallenberg, chanceler federal da Áustria: "Polo de tranquilidade"
Ele é novo no cargo, após o antecessor, Sebastian Kurz, deixar o cargo em meio a alegações de corrupção. Mas, por já ter sido ministro do Exterior da Áustria, Schallenberg conhece Merkel há anos: "Ela vai deixar uma lacuna. Ela foi um polo de tranquilidade. E ela foi, sem dúvida, uma grande europeia."
Foto: Lisa Leutner/AP/picture alliance
Mateusz Morawiecki, premiê da Polônia: "Ela sempre manteve o diálogo"
Merkel sempre atribuiu grande importância à cooperação estreita com a vizinha Polônia, o que nem sempre foi possível devido a diferenças de opinião, por exemplo, sobre a política de refugiados. O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, disse a Merkel na visita de despedida dela: "Apesar de muitas questões difíceis, sempre permanecemos em diálogo, pelo que lhe agradeço."
Foto: KACPER PEMPEL/REUTERS
Recep Erdogan, presidente da Turquia: "Amiga" e "cara chanceler"
Merkel teve muitos problemas com o presidente turco, Recep Erdogan, principalmente em questões de direitos humanos. Entretanto, ele a elogiou como "amiga" e "cara chanceler", uma política experiente que sempre cultivou "abordagens coerentes e orientada para soluções". De fato, Merkel procurou com frequência o diálogo com Erdogan, principalmente por causa da política de refugiados.
Foto: OZAN KOSE/AFP
Xi Jinping, presidente da China: "Velha amiga da China"
Merkel sempre foi uma grande admiradora dos avanços da China. Somente no final de seu governo ela ficou mais cética. O chefe de Estado chinês e líder do partido, Xi Jinping, se despediu dela em uma transmissão de vídeo, chamando-a de "velha amiga da China". Entretanto, esta duvidosa honraria também já foi conferida a Vladimir Putin, Fidel Castro e Robert Mugabe.
Foto: Liu Bin/XinHua/dpa/picture alliance
Vladimir Putin, presidente da Rússia: Tempo dela no poder é "notável"
O conceito que o presidente russo tem de Merkel é bastante modesto. "Ela esteve no poder por 16 anos, o que é notável", disse ele recentemente, ao ser questionado se sentiria falta dela. A foto mostra os dois em 2007, quando Putin deixou seu cão labrador farejar Merkel, que tem medo de cães.
Foto: ITAR-TASS/imago images
George W. Bush, ex-presidente dos EUA: "Classe e dignidade"
O ex-presidente americano George W. Bush se dedica hoje principalmente à pintura, e entre suas obras está um quadro que fez de Angela Merkel, que chegou a visitá-lo em seu rancho no Texas. Bush disse recentemente à DW: "Angela Merkel preencheu sua tão importante posição com classe e dignidade. Ela fez o que era melhor para a Alemanha, e o fez com base em princípios."