"Em Gaza, palestinos só pensam em se manter vivos"
Tania Krämer
15 de outubro de 2023
Jornalista palestino é um dos milhares que fugiram da Cidade de Gaza em direção ao sul após ordem de evacuação de Israel. À DW, ele relata situação desesperadora no enclave. "Há escombros e poeira por toda parte."
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Na sexta-feira (13/10), forças israelenses ordenaram que mais de 1 milhão de palestinos se deslocassem para o sul da Faixa de Gaza, antes de uma esperada ofensiva terrestre. Entre os que fugiram está Hazem Balousha, um jornalista de Gaza que trabalha para a mídia internacional.
Em entrevista à DW, o palestino descreveu as condições dos locais por onde passou, enquanto se dirigia com sua família ao campo de refugiados de Nuseirat, no sul da Faixa de Gaza. "As pessoas estão com raiva, desesperadas. A principal coisa que elas buscam é permanecer vivas e seguras", afirma.
Uma semana após ter sofrido o ataque mais brutal em seu território em cinco décadas, Israel apertou o cerco contra Gaza, enclave controlado pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas. Neste sábado, as forças armadas israelenses afirmaram que se preparam para um "ataque integrado e coordenado por ar, mar e terra" contra a região palestina.
A ofensiva das forças israelenses ocorre em reação aos atentados brutais perpetrados pelo Hamas em 7 de outubro, que deixaram mais de 1.300 mortos em cidades fronteiriças israelenses e em um festival de música. Por outro lado, a campanha de retaliação dos militares israelenses já matou mais de 2.200 pessoas na Faixa de Gaza.
DW: O que você viu ao deixar sua casa?
Hazem Balousha: É uma bagunça, é caótico. Ninguém entende o que está acontecendo. Quando saí da minha cidade, a Cidade de Gaza, vi longas filas de carros, pessoas com colchões em cima dos carros, crianças nos carros. Alguns estão caminhando porque não tem transporte. Vi pessoas em carroças de burro indo para o sul. Vi prédios altos destruídos em diferentes áreas. Algumas áreas eu não reconheci por causa da devastação. Há escombros e poeira por toda parte.
A Faixa de Gaza inteira está em total blecaute. Não há eletricidade, não há água. A internet é muito limitada em algumas áreas. Há fila para tudo, em padarias, mercearias. E mal conseguimos nos comunicar porque os telefones não funcionam corretamente, o sinal é muito ruim e todo mundo está tentando ligar uns para os outros.
Alguns já partiram na sexta-feira. Vi um grande número de pessoas deixando a cidade, da parte norte para o sul. Alguns estão hospedados em escolas, e outros estão na rua perguntando se há lugar para ficar. Neste momento, vejo pessoas tentando encher galões de água porque não há água nos prédios ou nas casas. Elas não conseguem usar o banheiro sem água. Eu mesmo não tomo banho há uns cinco dias. Estou cheirando muito mal. A comida é muito limitada.
Como é o lugar onde você está agora?
Aqui em Nuseirat [cidade no sul de Gaza], há mais trânsito. Pessoas estão andando mais do que em outros lugares que vi, e há escassez de combustível. Não tem gasolina nos postos. Parei em vários postos para abastecer meu carro. Eu tinha pouco combustível e mal consegui dirigir da Cidade de Gaza até essa área. Todo mundo está dizendo: não há combustível, não há combustível, não há gasolina aqui, não há gasolina, verifique outro posto – mas tudo sem sucesso.
O transporte público não está funcionando. Às vezes, vejo pessoas dormindo ou sentadas nos carros. Elas levam tudo o que podem carregar. Vi pessoas ligando geradores para carregar seus telefones e baterias.
Como você descreveria o estado das pessoas ao seu redor?
Estão com raiva, estão desesperadas. Elas não sabem o que está acontecendo, o que vai acontecer. Muitas pessoas me perguntam se há negociações ou conversas sobre um cessar-fogo ou algo assim. A principal coisa que elas buscam é permanecer vivas e seguras. Mas ninguém sabe se esse local é seguro ou não. Então, alguns ouvem estações de rádio para receber notícias e saber o que está acontecendo. É tudo uma loucura.
Morte e desespero em Gaza
Uma catástrofe humanitária atinge a Faixa de Gaza. Após os ataques do Exército israelense em retaliação aos atentados terroristas do grupo radical islâmico Hamas, o número de mortos e feridos só aumenta.
Foto: Fatima Shbair/AP/picture alliance
Fumaça preta sobre escombros
Uma imagem de destruição máxima: três dias após os ataques do grupo fundamentalista islâmico Hamas, classificado como organização terrorista pela UE, EUA e outros países, Israel intensificou os bombardeios na Faixa de Gaza. A retaliação foi anunciada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu: "O que faremos com nossos inimigos nos próximos dias repercutirá por gerações."
Foto: Belal Al SabbaghAFP/Getty Images
Centenas de prédios destruídos
Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), cerca de 800 edifícios na Faixa de Gaza foram completamente destruídos, e mais de 5 mil foram severamente danificados. Além disso, o abastecimento de água foi interrompido para cerca de 400 mil pessoas.
Foto: Mohammed Talatene/dpa/picture alliance
Mais de mil mortos de ambos os lados
Equipes de resgate buscam sobreviventes após ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza. Em apenas seis dias, o conflito entre o Hamas e Israel já deixou mais de 2,5 mil mortos de ambos os lados.
Foto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images
Luto pelas vítimas
Um homem carrega o corpo de uma criança morta no ataque israelense ao campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, antes de ela ser enterrada ao lado de outras vítimas. Segundo autoridades de saúde palestinas nesta quinta-feira (12/10), mais de 440 crianças e mais de 240 mulheres estão entre os mortos em Gaza.
Foto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images
Fugir para onde?
Palestinos na Faixa de Gaza fogem dos ataques israelenses em um micro-ônibus. Segundo informações da ONU, mais de 338 mil pessoas já foram deslocadas de suas casas. Grande parte está se abrigando em escolas, e outras, em residências particulares. A fuga de Gaza deixou de ser possível depois que Israel isolou a área.
Foto: Saleh Salem/REUTERS
Israel controla a fronteira
Tropas de Israel patrulham a fronteira com Gaza. Na noite de 7 de outubro, combatentes do Hamas romperam barreiras em alguns pontos e entraram em território israelense. A cerca, que tem 60 quilômetros de extensão, foi construída em 1994. A fronteira com o Egito também é cercada numa faixa de um quilômetro.
Foto: Oren Ziv/AP/picture alliance
Movimentação de tropas
Após a mobilização de mais de 300 mil reservistas por parte de Israel, muitas pessoas na Faixa de Gaza temem uma ofensiva terrestre das forças israelenses. Veículos e equipamentos militares foram agrupados ao longo da fronteira. Além disso, as populações das cidades israelenses que fazem fronteira com Gaza foram quase que totalmente evacuadas.
Foto: Ilia Yefimovich/dpa/picture alliance
"Desastre absoluto"
Crescem os temores de uma catástrofe humanitária na Faixa de Gaza. O secretário-geral do Conselho Norueguês de Refugiados, Jan Egeland, alertou sobre um "desastre absoluto". Uma "punição coletiva" da população violaria a lei internacional: "Se crianças feridas morrerem em hospitais porque não há eletricidade, isso pode ser um crime de guerra."
Foto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images
Jahia Sinwar, líder do Hamas
Jahia Sinwar, chefe do Hamas na Faixa de Gaza desde 2017, é considerado um dos líderes do ataque terrorista a Israel. O extremista, que cresceu em um campo de refugiados em Gaza, é o segundo homem mais poderoso depois do líder supremo Ismail Haniya. Sinwar conceitua "seu povo" como "mártires que preferem morrer a ceder à humilhação frente ao inimigo".
Foto: Mohammed Abed/AFP
Escalada da violência
A escalada da violência continua. Um porta-voz do Hamas disse a agências de notícias que toda vez que Israel bombardear civis sem aviso, um refém israelense será morto. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, respondeu à ameaça, alertando sobre mais violência contra os reféns: "Esses crimes de guerra não serão perdoados."