No início da manhã desta sexta-feira será conhecido o resultado do referendo que decide se a Escócia continuará fazendo parte do Reino Unido. Pesquisa indica vitória do "não".
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A Escócia e todo o Reino Unido se preparam para uma longa noite de apuração, depois de mais de 15 horas de votação no histórico referendo sobre a independência dos escoceses. As urnas abriram às 7h e fecharam às 22h desta quinta-feira (18/09), no horário local, e não foram divulgados resultados preliminares nem pesquisas de boca de urna. O resultado final deverá ser conhecido entre 6h30 e 7h30 desta sexta-feira, no horário local, ou 3h30 e 4h30 em Brasília.
Pouco depois de as urnas fecharem, o instituto YouGov divulgou uma pesquisa com 54% dos votos para o "não", contra 46% para o "sim". A pesquisa, porém, não foi feita na boca da urna. O instituto contatou por telefone 3 mil pessoas que já haviam sido pesquisadas antes. Apesar disso, o diretor do instituto disse à emissora Sky News estar 99% certo da vitória do "não".
À medida que a contagem dos votos de um dos 32 centros regionais estiver concluída, o resultado será divulgado. Um dos primeiros resultados esperados deve vir das ilhas Orkney, no norte do país. Lá existe um colégio eleitoral com apenas 120 eleitores. As urnas de dezenas de ilhas dos arquipélagos de Hébridas, Shetland e Orkney, que pertencem à Escócia, deverão ser coletadas com a ajuda de balsas ou aviões. "Apenas o mau tempo pode impedir a contagem dos votos. Fora isso, está tudo bem organizado", prometeu a responsável pela organização do pleito, Mary Pitcaithly.
Ao longo do dia, cerca de 50 mil voluntários dos dois lados, do "sim" e do "não" à independência, tentaram convencer os últimos indecisos e, caso necessário, até mesmo levá-los aos locais de eleição em carros particulares. O comparecimento às urnas deverá ser elevado. Das 4,2 milhões de pessoas com direito de votar, 97% se registraram, um número consideravelmente maior do que o observado em eleições parlamentares comuns. Até entre eleitores de primeira viagem, aqueles com idades entre 16 e 20 anos, 87% se registraram para votar – uma taxa que chega a espantar até cientistas políticos em Edimburgo.
Entre os escoceses, portanto, não há sinal de apatia ou de desencanto político. "Esse será o maior acontecimento democrático da história da Escócia", aclamou na noite desta quarta-feira o presidente do Partido Nacional Escocês (SNP) e primeiro-ministro, Alex Salmond, durante o encerramento de um evento da campanha pelo "sim" em Perth.
Salmond, que por anos lutou pelo referendo sobre a independência, fez um apelo aos seus seguidores: "Vocês têm a chance de suas vidas. Não deixem de usá-la!". Ele prometeu uma Escócia economicamente bem sucedida, não mais sujeita às ordens do "governo de Westminster" em Londres. O governo britânico, segundo Salmond, só concordou com o referendo porque acreditava que os escoceses não iriam se rebelar. "Eles estavam confiantes demais", disse o premiê diante de milhares de apoiadores.
A última pesquisa de opinião realizada pelo instituto Ipsos Mori indicou que 49% eram favoráveis à independência, enquanto que 51% apoiavam a permanência da Escócia no Reino Unido. Diante da disputa apertada e dos ao menos 8% de indecisos, os pesquisadores concordam que é impossível prever os resultados com precisão.
"Sim, estou nervoso. Qualquer pessoa que se preocupa com o Reino Unido está nervosa", admitiu o primeiro-ministro britânico, David Cameron, no canal público de televisão BBC.
Doze curiosidades sobre a Escócia
A Escócia vai mesmo se separar do Reino Unido? Antes do referendo, vale lembrar algumas peculiaridades dos escoceses, passando por Harry Potter, o "Ginger Pride" e um brasão um tanto quanto diferente.
Foto: Lisa Maree Williams/Getty Images
O unicórnio
Se a Escócia optou ou não pela independência só será conhecido nesta quinta-feira (18/09), mas uma coisa já é certa: o país tem lá suas peculiaridades. A começar pelo brasão: desde o século 12, o animal mítico é estampado nos escudos de líderes escoceses. Este unicórnio se encontra no Palácio de Holyrood, em Edimburgo.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Gerig
Uma capital modesta
Glasgow pode até ser um pouco maior, mas Edimburgo, que fica mais ao norte, é a capital da Escócia. Também é lá que fica o Parlamento, que em 1999 se reuniu como uma representação popular independente pela primeira vez em quase 300 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
Sons e cores do Fringe
O clima fica animado em Edimburgo na época do Fringe, o maior festival cultural do mundo. Ao longo de 25 dias de agosto, os melhores comediantes e atores são atraídos para a capital, onde mais de 2,5 mil apresentações acontecem em palcos, salas ou simplesmente nas ruas.
Foto: Danny Lawson/PA Wire/picture alliance/empics
Muito além de Harry Potter
Apesar de Hogwarts, a famosa escola de magia dos livros de J.K. Rowlings, ficar na Escócia, a literatura escocesa oferece mais do que isso. Um exemplo é "O médico e o monstro", famoso romance de Robert Louis Stevenson. No entanto, o título de "pai" da literatura escocesa é de Robert Burns, um poeta do século 18 cujo aniversário, no dia 25 de janeiro, é celebrado ainda hoje pelos escoceses.
Foto: Lisa Maree Williams/Getty Images
Meu nome é Bond
...James Bond. Por duas décadas, o papel do agente 007 foi incorporado pelo escocês de carteirinha Sean Connery. Atualmente, outros nomes escoceses fazem sucesso nas telonas dos cinemas, como Ewan McGegor, Robbie Coltrane, James McAvoy, Robert Carlyle e Gerard Butler.
Foto: AFP/GettyImages
Murray para a Escócia?
Quando ele ganha, é britânico; quando perde, é escocês. Mas Andy Murray sofre derrotas com pouca frequência. Em 2013, o tenista foi o primeiro britânico a vencer o Torneio de Wimbledon desde Fred Perry. Nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, conquistou duas medalhas para o Reino Unido. E se vier a independência? "Eu jogarei para a Escócia", diz Murray.
Foto: Julian Finney/Getty Images
Nos gramados
Os times de futebol escoceses não são tão conhecidos como os de Londres ou de Manchester. Mas o Celtic Football Club constantemente representa o país nas competições europeias. E a seleção nacional possui fãs excepcionais: o "Exército Xadrez" é famoso pelo uso de "kilts" e pela alta cantoria – mas também pelo elevado consumo de álcool.
Foto: Getty Images
Consequências da resistência ao álcool
Os escoceses bebem quase um quinto a mais de álcool que seus vizinhos do sul, afirma um estudo feito em 2012. E isso tem efeitos colaterais significativos: em algumas partes de Glasgow, a expectativa de vida chega a ser tão baixa quanto na Faixa de Gaza. A pobreza relativamente elevada em alguns bairros também traz consigo um número mais elevado de doenças cardíacas e outros males.
Foto: Getty Images
Os Strathearn
Um estudo diz que os escoceses são o povo mais qualificado da Europa. Há 15 universidades no país, e até o príncipe William escolheu uma para sua formação: a St. Andrews University, onde ele estudou História da Arte e Geografia e ainda teve tempo livre para conhecer a futura mulher, Kate, hoje Duquesa de Cambridge. Na Escócia, aliás, o casal é conhecido como o Conde e a Condessa de Strathearn.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruivos com orgulho
Um em cada sete escoceses tem cabelos vermelhos – uma taxa sem igual no mundo. As explicações são controversas, mas a falta de sol pode ser uma das razões para a elevada proporção de ruivos na Escócia. Em outros países, eles representam apenas 1% da população. Mas é graças a esses "marginalizados" que existe a Ginger Pride Parade (Parada do Orgulho Ruivo) em Edimburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Libra escocesa
Apesar da moeda comum, os escoceses já cunham a própria libra. Nas notas vindas da Escócia lê-se "Banco da Escócia", o que costuma causar estranhamento no comércio do sul do Reino Unido. Mas a coisa vai ficar séria mesmo se a Escócia realmente se tornar independente. Aí vai surgir a questão se os escoceses vão poder manter a libra britânica.
Foto: Jeff J Mitchell/Getty Images
A Muralha de Adriano
As ruínas da fortificação ao sul da fronteira entre Inglaterra e Escócia ainda podem ser vistas. Foi o imperador Adriano que mandou construí-la para proteger a província britânica do Império Romano das tribos escocesas e irlandesas, no segundo século depois de Cristo. Será que essa região será novamente dividida por uma fronteira de verdade?