Em Haia, palestinos acusam Israel de crime de guerra
26 de junho de 2015
Autoridade palestina apresenta a Tribunal Penal Internacional evidências de que israelenses teriam violado direitos humanos durante último conflito na Faixa de Gaza, no ano passado. Ataques mataram 2,2 mil palestinos.
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A Autoridade Nacional Palestina (ANP) apresentou nesta quinta-feira (25/06) ao Tribunal Penal Internacional (TPI) as primeiras evidências de que Israel teria cometido crimes de guerra durante o último conflito na Faixa de Gaza, entre julho e agosto do ano passado.
Bombardeios e ataques por terra mataram 2,2 mil palestinos, a maioria civis. Do lado israelense, apenas 67 soldados e seis civis morreram.
"O Estado da Palestina havia prometido cooperar com o tribunal, inclusive repassando informação relevante, e está cumprindo esta promessa hoje", declarou o ministro palestino do Exterior, Riad al-Maliki, a jornalistas. "Alcançar a justiça é algo essencial para as vítimas palestinas, mortas ou vivas. Queremos justiça, e não vingança. Por isso estamos aqui hoje."
A corte recebeu dois arquivos de documentos: um alegando crimes de guerra em Gaza durante o conflito de 50 dias no ano passado e outro que trata da ocupação de Israel na Cisjordânia e no leste de Jerusalém. Este último, segundo a delegação que viajou a Haia, inclui informações sobre "a questão dos prisioneiros palestinos".
A iniciativa da ANP coloca pressão sobre os israelenses para que decidam se irão cooperar com uma investigação ou se o país optará por ser um dos poucos que de recusam a trabalhar em conjunto com procuradores da corte internacional.
"Alto padrão internacional"
A entrega da documentação por parte da ANP ocorre três dias após a divulgação de um relatório no qual as Nações Unidas apontam que tanto soldados israelenses cometeram sérias violações de direitos humanos na Faixa de Gaza no ano passado. O governo israelense contestou a informação, alegando que suas forças de segurança seguiram "altos padrões internacionais" na ocasião.
O grupo islâmico Hamas, principal facção política em Gaza, também rechaçou as acusações e pediu a condenação de líderes israelenses por episódios registrados durante o conflito. Entre eles, ataques aéreos israelenses a escolas da ONU que abrigavam famílias desalojadas em bombardeios anteriores.
O governo de Israel afirma que os ataques eram necessários, acusando o Hamas de usar as instalações para guardar armas e foguetes. Sindicâncias internas livraram as forças israelenses de culpa em vários ataques, incluindo um bombardeio a uma praia onde havia crianças brincando.
Ainda em maio, a procuradora-chefe do Tribunal Penal Internacional, Fatou Bensouda, alertara que os dois lados do conflito poderiam ser acusados de crimes de guerra no caso. Israel não é signatário do estatuto que estabeleceu a corte em Haia. Já os palestinos aderiram ao TPI em janeiro passado.
MSB/rtr/afp/ap
Os 50 dias de guerra em Gaza em 2014
Os momentos-chave do conflito entre Israel e Hamas, que deixou mais de 2 mil mortos.
Foto: Reuters
Governo de unidade palestino
Em 2 de junho, en Ramallah, na Cisjordânia, Hamas e Fatah oficializam um governo de unidade. Europeus e americanos manifestam apoio, porém com cautela. O governo israelense reage e suspende as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos, por considerar o Hamas uma organização terrorista.
Foto: Reuters
Sequestro de três estudantes
Em 12 de junho, três estudantes israelenses são sequestrados. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu culpa o Hamas pelo desaparecimento dos jovens. No final de junho, os corpos são encontrados. Em 23 de agosto, pouco antes do cessar-fogo duradouro, o Hamas assumiria envolvimento no assassinato dos três.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Assassinato de jovem palestino
Em 2 de julho, o corpo de um adolescente palestino, de 16 anos, é encontrado numa floresta perto de Jerusalém. A família acusa colonos israelenses do assassinato. Na parte árabe de Jerusalém, há confrontos com a polícia israelense. Após seguidos lançamentos de foguetes a partir da Faixa de Gaza, o Exército israelense move tropas adicionais à divisa com o território palestino.
Foto: Getty Images
Começa a guerra
Em 8 de julho, o conflito entre israelenses e palestinos torna-se novamente uma guerra. Em poucas horas, dezenas de foguetes são lançados da Faixa de Gaza contra Israel. Não há feridos, já que grande parte dos mísseis são destruídos no ar. Nos ataques aéreos israelenses, mais de 20 pessoas são mortas.
Foto: Reuters
Iniciam-se as negociações
Após uma semana de conflito, em 14 de julho surge a primeira esperança de um cessar-fogo. O Egito intervém como mediador. Israel concorda com uma trégua prevista para o dia seguinte. O Hamas rejeita a proposta egípcia. "Um armistício sem um acordo com Israel está fora de questão", disse o porta-voz do grupo. A guerra, então, já tinha 180 mortos.
Foto: Reuters
A primeira trégua
Em 17 de julho, pela primeira vez desde o início dos combates, Israel e Hamas concordam com um cessar-fogo de cinco horas. Após o período, Israel começa uma ofensiva terrestre. Netanyahu detalha os objetivos da operação: a infraestrutura do Hamas deve ser destruída, especialmente os chamados "túneis do terror".
Foto: DAVID BUIMOVITCH/AFP/Getty Images
Protestos pelo mundo
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apela por uma suspensão dos ataques. Um dia depois, em 20 de julho, ele viaja com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ao Cairo para discutir uma trégua. Em Gaza, milhares de pessoas fogem de suas casas e procuram abrigo. Em alguns países, há protestos contra a ofensiva de Israel. Em Paris, há manifestações e ataques contra instituições judaicas.
Foto: Reuters
Ataque a escola da ONU
Em 24 de julho, 15 pessoas morrem e mais de 200 ficam feridas em um ataque israelense a uma escola das Nações Unidas. O Exército de Israel argumenta que havia avisado sobre a investida antes de ela ocorrer. A agência de refugiados da ONU informa que a evacuação da escola não era possível. Mais de 570 palestinos e 25 soldados israelenses são as vítimas da guerra até então.
Foto: Reuters
Novo cessar-fogo
Em 26 de julho, começa um cessar-fogo de 12 horas. Em Paris, ministros do Exterior se encontram para discutir uma trégua permanente. Muitos palestinos usam a suspensão dos ataques para comprar medicamentos e alimentos. Os serviços de emergência retiram mais de 130 corpos dos escombros. Israel anuncia o prolongamento do cessar-fogo por algumas horas, mas o Hamas dispara foguetes novamente.
Foto: imago
Tréguas violadas
Uma nova trégua é violada, em 1º de agosto. Nos dias seguintes, o caso se repete. No início de agosto, Israel dispara novamente contra uma escola da ONU e, em seguida, retira as tropas terrestres da Faixa de Gaza. No Cairo, as partes envolvidas no conflito negociam um cessar-fogo duradouro.
Foto: picture-alliance/dpa
Chance à paz
A mais longa trégua desde o início da guerra possibilita, a partir de 10 de agosto, negociações. O cessar-fogo que era para durar três dias se estende por nove. O mediador, Egito, evita a longa lista de exigências dos dois lados. Um pequeno texto seria promissor para um possível acordo. A abertura das fronteiras de Gaza e a expansão gradual da zona de pesca são discutidas.
Foto: picture-alliance/AP
Mortes passam de 2 mil
Um armistício permanente é quase alcançado em 19 de agosto. Mas foguetes são novamente lançados. Israel responde e mata, entre outros, a mulher e filho de um chefe militar do Hamas nos ataques. Dois mil palestinos foram mortos e mais de 10 mil ficaram feridos na guerra. O lado israelense contabiliza as mortes de 64 soldados e três civis. Uma criança israelense morre por um foguete lançado de Gaza.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Cessar-fogo permanente
Depois de 50 dias de guerra, em 26 de agosto o Egito consegue fazer as duas partes chegarem, enfim, a um cessar-fogo permanente. O acordo entre os palestinos e Israel garante que as fronteiras de Gaza serão reabertas. As negociações para tratar de mais detalhes do acordo continuam em quatro semanas.